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P. Manuel Barbosa, scj
Permanecer
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«Permanecer» foi o mote bíblico tirado da alegoria da videira que o Papa Francisco quis salientar no recente encontro que teve na Colômbia com os seminaristas, consagrados e sacerdotes. Trata-se de permanecer em Jesus, como é óbvio, que «não significa apenas estar, mas indica manter uma relação vital, existencial, de absoluta necessidade; é viver e crescer em união fecunda com Jesus, fonte de vida eterna. Permanecer em Jesus não pode ser uma atitude meramente passiva ou um simples abandono sem consequências na vida diária. Tem sempre consequências, sempre».
Na sequência destas palavras do Papa, vale a pena retomar os três modos que nos sugere para tornar efetivo este permanecer.
Primeiro: permanecer em Jesus tocando a sua humanidade.
Isso acontece quando retemos em nós o olhar, os sentimentos, os gestos e as palavras de Jesus. Aí somos convidados a assumir atitudes samaritanas na contemplação da realidade, atitudes comovidas diante das necessidades das pessoas, atitudes alegres, generosas e ternas de amor. «Quantas vezes ouvimos homens e mulheres consagrados, parecendo que, em vez de irradiar alegria, crescimento, vida, irradiam infortúnios e passam o tempo a lamentar-se das desgraças deste mundo. É a esterilidade de quem é incapaz de tocar a carne sofredora de Jesus».
Segundo: permanecer em Jesus contemplando a sua divindade.
Isso ocorre quando cultivamos o conhecimento de Cristo, no encontro com a Sagrada Escritura e especialmente o Evangelho, quando gastamos tempo para ler a Palavra em oração. «Quero fazer-vos uma pergunta. Quantos minutos ou quantas horas leio o Evangelho ou a Escritura em cada dia? Quem não conhece as Escrituras, não conhece Jesus. Quem não ama as Escrituras, não ama Jesus». Como nos soa bem atual tal provocação do Santo Padre, neste ano pastoral a ser vivido em plena receção do Sínodo Diocesano, levados pela Palavra de Deus!
Permanecer na contemplação da divindade de Cristo é «fazer da oração a parte fundamental da nossa vida e do nosso serviço apostólico… Habituai-vos a adorar. Aprendei a adorar em silêncio».
Este contemplar implica ainda que sejamos homens e mulheres reconciliados, para assim reconciliar. «Ai do religioso, do consagrado, do padre, da irmã que vivem com uma cara de santinho! Todos somos pecadores, todos. E precisamos do perdão e da misericórdia de Deus, para nos erguer cada dia».
Terceiro: permanecer em Cristo para viver na alegria.
Depois de convidar a reler a parte final da exortação apostólica Evangelii nuntiandi de Paulo VI (um texto que deveria ser frequentemente revisitado!), o Papa Francisco reitera que em Cristo nunca «seremos discípulos tristes e apóstolos amargurados… Espalharemos e levaremos a alegria verdadeira, aquela alegria plena que ninguém poderá tirar-nos, espalharemos a esperança de vida nova que Cristo nos trouxe… A nossa alegria contagiante deve ser o primeiro testemunho da proximidade e do amor de Deus».
Permanecer na alegria do encontro com Jesus Cristo. Um lema para todos nós discípulos missionários de Jesus Cristo, não apenas para sacerdotes e consagrados. Um lema que deve pautar as nossas vidas e impregnar as comunidades cristãs e religiosas, as famílias, as atividades escolares e laborais, a participação cívica na sociedade, a formação de todos os discípulos de Cristo. Aliás, não é essa a proposta de renovação da catequese que os nossos Bispos nos ofereceram em belo documento de 13 de maio?
Estamos demasiado habituados a correr e saltitar, a navegar e transitar, tudo de modo rápido e fugaz, sem verdadeiramente saborear e contemplar pessoas e acontecimentos. É certo que a vida não para e é cada vez mais preenchida por tantas coisas, também nos nossos elaborados planos pastorais. Mas é fundamental cuidarmos do permanecer, seja onde e como for. Só assim daremos sentido ao que somos em Cristo.
Obrigado, Papa Francisco, por mais estas provocações!