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P. Manuel Barbosa, scj
Igreja em sínodo, Igreja sinodal
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Faz um mês que o nosso Patriarca anunciou a realização de um sínodo para a Diocese de Lisboa durante os próximos três anos. Situou essa comunicação na linha do apelo do Papa Francisco, que convida a usar todos «os meios necessários para avançar no caminho de uma conversão pastoral e missionária que não pode deixar as coisas como estão» (EG 25). Mais adiante o Papa Francisco solicita às Igrejas locais para que, «na sua missão de promover uma comunhão dinâmica, aberta e missionária», estimulem e procurem «o amadurecimento dos organismos de participação previstos pelo Código de Direito Canónico» (EG 31). O Sínodo diocesano é precisamente o primeiro dos oito organismos aí previstos, não propriamente para simples organização eclesial, mas para que «o sonho missionário chegue a todos», no dizer ainda do Papa.
Quando no dia 22 de janeiro D. Manuel Clemente consultou o conselho presbiteral sobre esta primacial iniciativa, senti, no espontâneo aplauso que se seguiu, o espírito renovador que a Igreja tem de assumir na escuta do Espírito que lhe fala, na perceção das plurais realidades humanas e eclesiais tão presentes nas suas comunidades. Este sínodo será certamente um tempo de graça, acompanhado pela oração como força primeira no desenrolar de todo o seu processo.
«Igreja em sínodo, Igreja sinodal». Com esta afirmação a dois tempos, pretendo dizer que só há uma sinodalidade na Igreja. A Igreja universal e as Igrejas estão em sínodo, porque de facto a Igreja de Jesus Cristo no seu ser, peregrina em dinamismo sinodal permanente. Não é por acaso que o Sínodo dos Bispos, que tem momentos destacados nas sessões quer ordinárias quer extraordinárias, é contínuo, daí a existência de um secretariado permanente. Talvez a mesma dimensão de continuidade na sinodalidade deveria acontecer e ser concretizada nas Igrejas locais.
Tempo de auscultação e escuta de todo o povo de Deus e de cada um dos organismos e comunidades eclesiais, tempo de discernimento e de reflexão, tempo de decisão e de receção são passos no desenrolar de um sínodo, na procura da renovação iluminada pelo Espírito. Não são passos sequenciais, mas antes interligados e entrelaçados, num vaivém constante entre eles, buscando os mais adequados caminhos para a vida da Igreja hoje, no mundo em que está presente.
Dois recentes processos em ritmo sinodal aconteceram em Portugal. O primeiro, mais longo no tempo e na sequência da visita ad limina dos bispos portugueses a Roma em 2007, procurou auscultar todas as «bases» da Igreja para repensar a sua pastoral em Portugal. Depois de seis anos, os nossos bispos indicaram-nos alguns rumos a seguir. A brevidade das duas páginas desse documento de abril passado não significa ligeireza e abreviatura do processo. Lido com atenção, percebe-se o quanto de provocador aí está, nas linhas e entrelinhas, como reorientação pastoral das comunidades cristãs. Há que o retomar com afoiteza e ousadia, para que esse percurso sinodal seja autenticamente recebido nas nossas comunidades. Nunca é demais insistir nestes instrumentos de participação na vida da Igreja.
O segundo, mais breve no tempo com a duração de três meses e proposto como questionário para a próxima sessão do Sínodo dos Bispos sobre os desafios da família, foi assumido por toda a Igreja em Portugal, e também por muitos outros que não se sentem na sua esfera, com empenho e expetativa. Este processo deve continuar num fecundo vaivém entre Roma e as Igrejas particulares.
Sei que estes dois exemplos não se podem chamar rigorosamente sínodos segundo as determinações canónicas. Mas são paradigma da compreensão de uma Igreja sinodal, sempre à procura da fidelidade ao seu único Senhor, sempre próxima, aberta e acolhedora de todos sem exceção nem aceção. Isso deve acontecer ao modo de Jesus, luz da sua Igreja que somos e anunciamos na alegria missionária do Evangelho.