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Pe. Alexandre Palma
Que quer a Igreja da teologia?
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A muitos leitores, uma tal pergunta soará decerto estranha. Com efeito, abundam pronunciamentos eclesiais em que esta questão já é respondida. Da teologia, a comunidade eclesial espera «ciência e sabedoria» (Papa Francisco). Espera que ela seja veículo para «entrar na palavra de Deus, tentar compreendê-la na medida do possível e fazê-la compreender ao nosso mundo, e assim encontrar as respostas para as nossas grandes perguntas» (Bento XVI). Espera ainda que ela seja um espaço eclesial onde se procura «ouvir, discernir e interpretar as várias linguagens do nosso tempo, e julgá-las à luz da palavra de Deus, de modo que a verdade revelada possa ser cada vez mais intimamente percebida, melhor compreendida e apresentada de um modo conveniente» (Gaudium et spes 44). Estes são apenas alguns exemplos dos mencionados pronunciamentos onde, de alguma forma, se dá resposta à nossa pergunta.
Mas não é tanto ao nível das considerações gerais e de princípio que quero aqui colocar a questão. Sobre isso estaremos suficientemente esclarecidos e razoavelmente de acordo. Quero sim colocá-la no campo concreto das nossas vivências e opções em Igreja. Pergunto-me, no fundo, se e como traduzimos no concreto da vida das comunidades cristãs (diocesanas, paroquiais ou outras) e nos percursos dos seus membros (padres, leigos ou religiosos) essa relevância da teologia que os nossos discursos de princípio tanto enfatizam.
É aqui que a resposta se me afigura bem mais hesitante. Sei bem que a Igreja, nas suas múltiplas expressões, se acha com frequência assoberbada por solicitações múltiplas e dispersas. Sei bem que somos sempre poucos para o tanto que há a fazer. Sei bem como a pressão do tempo nos confunde acerca do que é urgente e do que é prioritário. Sei ainda que a teologia é constitutivamente plural, estando presente sob várias formas em variados contextos eclesiais. Mas sei também que sem escolhas não se faz caminho. Como sei que uma Igreja que não suporte e discirna teologicamente o seu viver é uma barca demasiado à mercê do ativismo e do espiritualismo, do rotineirismo pastoral e do centramento em si mesma. É a consciência disto que me faz pensar ser premente reflectir sobre o que quer a Igreja da teologia e das instituições que lhe procuram dar voz e corpo. Precisamos deste debate. Isto é ainda mais decisivo no contexto português, porquanto, por razões históricas, o pensar teológico tem tido nele escassa relevância pública e cultural. Isto é bastante actual, porque, numa sociedade plural, a Igreja não poderá mais deter o monopólio do discurso teológico. Isto vai-se tornando urgente, porque dificilmente haverá «Igreja em saída» (cf. EG 20-23) sem cristãos e comunidades capazes de compreender o mundo em que vivem e de conversar nele acerca de Deus. E isto é, em última análise, uma óptima definição de teologia.