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Frutos do Concílio
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Podem associar-se duas comemorações ocorridas por estes dias: o quinquagésimo aniversário da convocação do Concílio Vaticano II e o primeiro aniversário do falecimento de Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares (em Lisboa, no dia 18, uma sessão de homenagem na Universidade Católica assinalará este facto).
Afirmou, a este respeito, o cardeal Tarcisio Bertone no funeral de Chiara Lubich que «as suas intuições proféticas (…) precederam e prepararam as grandes mutações da História e os acontecimentos extraordinários vividos pela Igreja no século XX».
A obra de Chiara Lubich é um sinal claro da valorização, querida pelo Concílio, do papel dos leigos na Igreja. O Movimento dos Focolares pretende realçar com a sua missão aquilo a que o teólogo Von Balthazar chamou o perfil mariano da Igreja, o primado da caridade sobre as estruturas jurídicas. Por isso, este movimento de que fazem parte pessoas de todas as vocações será, de acordo com uma disposição inédita dos seus estatutos, sempre presidido por uma mulher e leiga.
Chiara Lubich sentiu-se chamada a actuar o testamento de Jesus, o «Que todos sejam um, como Eu e o Pai somos um» (Jo 17, 21). Esse chamamento levou-a a dar passos de gigante no ecumenismo e no diálogo inter-religioso, também na linha do Concílio. Afirmou o bispo anglicano Robin Smith no seu funeral: «Como anglicanos, somos todos tocados particularmente por duas coisas na espiritualidade de Chiara: a primeira, o seu empenho em viver a Palavra de Jesus na sua vida quotidiana, a outra, a sua visão da unidade de toda a Humanidade. E esta visão é tão inclusiva que os meus irmãos e eu dizemos frequentemente que Chiara parece mais anglicana, muitas vezes, do que muitos de nós, anglicanos». E afirmou, na mesma ocasião o monge budista tailandês Phramaha Thongratana: «a mãe Chiara deu-me a sua experiência de cristã e o dom do carisma que recebeu de Deus: é uma novidade para mim como budista e como monge. Digo sempre aos membros do seu movimento que a mãe Chiara não pertence apenas a vós, cristãos, mas agora ela e o seu grande Ideal são herança de toda a Humanidade».
O Concílio indicou uma linha de relação da Igreja com o Mundo já não assente apenas numa postura defensiva de quem se sente agredido numa fortaleza cercada, mas numa postura de diálogo e de serviço, de quem privilegia as pontes que unem sobre as barreiras que dividem, de quem quer partilhar «as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje» (Gaudium et Spes). Foi isso que procurou fazer Chiara Lubich quando se dirigiu a políticos, intelectuais e pessoas comuns de todos os quadrantes. Dificilmente se encontrará um tão largo consenso entre jornais e políticos italianos de todas as tendências (normalmente tão discordantes e conflituosos) como a que se verificou há cerca de um ano, a propósito do seu falecimento.
A figura de Chiara Lubich é apenas um entre muitos exemplos de que, apesar de todas as “turbulências” destes cinquenta anos, o espírito do Concílio Vaticano II está vivo e destinado a produzir frutos incontáveis na Igreja e no Mundo.