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Newman ? Um pensador audaz (por Maria Susana Mexia)
Pastor anglicano e clérigo, movido por um profundo amor à Igreja de Cristo, John Henry Newman (1801-1890), encontra a sua plenitude na Igreja Católica Romana à qual se converte em 1845, tendo sido eleito Cardeal pelo Papa Leão XIII, em 1879, como reconhecimento do seu trabalho pastoral.

O mais famoso converso do anglicanismo foi um dos grandes intelectuais da Inglaterra vitoriana. Teólogo, poeta, filósofo e um acérrimo defensor da razão, fez da sua vida uma apaixonante procura da Verdade.

Opôs-se ao subjectivismo religioso e combateu vigorosamente a tese de que a religião é um produto das ideias e conclusões do ser humano, sem pretensões de eternidade porque exclui a Revelação Divina da sua origem.

Newman considera que a religião é um conjunto específico de verdades assentes na Tradição e pela transmissão oral e escrita daquilo que Deus revelou à Igreja através dos Apóstolos e dos seus discípulos, sob a orientação do Espírito Santo.

 Sendo um historiador da Igreja primitiva, analisou profundamente todos os documentos daquela época levando-o a compreender que a autoridade do Papa era o desenvolvimento do poder dado por Cristo a Pedro.

Foi grande o seu contributo para uma visão mais espiritual do Purgatório, bem como para uma compreensão profunda do papel dum laicado bem formado na Igreja, considerando que todos os cristãos são chamados por Deus a uma vida de santidade.

Antecipando-se à sua época, teve ainda a audácia de escrever sobre temas que não foram bem aceites nem compreendidos, como a primazia da consciência moral.

Desperta-nos, num dos seus inúmeros Sermões, para a necessidade duma vida em alerta permanente: “as oportunidades de Deus não esperam, chegam e passam. A palavra de vida não espera; se não nos apropriamos dela levá-la-á o demónio. Ele não é preguiçoso; pelo contrário, tem os olhos bem abertos e está sempre preparado para saltar e levar o dom que vós não usais”.

A sua vida foi tão atractiva que suscita opiniões muito diversas, mas que sempre conduzem à evidência de que é possível ser um bom católico e um bom inglês.

A muito secularizada sociedade britânica, nomeadamente nos meios de comunicação, não consegue compreender como esta conversão pode ser um símbolo de unidade ecuménica e um elo de ligação entre anglicanos e católicos, entre intelectuais ateus e teólogos, entre crentes e agnósticos.

O seu caminho não foi fácil, sofreu muito por procurar a verdade e por defender a harmonia entre a Fé e a Razão, mas a beatificação deste pensador inglês por Bento XVI, em Birmingham, é mais uma prova de que "todos os caminhos vão dar a Roma", por mais sinuosos, tumultuosos ou aparentemente originais que se apresentem aos olhos dos homens.

 

* Professora