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Partilha entre Igrejas de África e da Europa (pelo P. Duarte da Cunha)

As relações pessoais e institucionais entre a Europa e África são um aspecto fundamental da vida actual de toda a sociedade e também da vida da Igreja. Não são certamente de agora mas desde há séculos, a existência de uma relação estreita entre a Igreja em África e a da Europa. Contudo há muita coisa que mudou.

Se até há uns anos atrás eram as dioceses e as congregações religiosas europeias a enviar padres e missionários para África, hoje a situação, aos poucos está a inverter-se. São cada vez mais numerosos os padres africanos, os seminários de muitas dioceses estão cheios, ao passo que na Europa diminui o número de padres. A Europa sofre uma forte secularização e África, ainda que também seja ameaçada com a cultura consumista que esquece Deus, vive um despertar da fé fortíssimo.

No seminário que terminou há poucos dias em Abidjan, Costa do Marfim, (10 a 14 de Novembro) onde se reuniram bispos europeus com bispos africanos (a representar Portugal esteve o Senhor D. António Francisco dos Santos, bispo de Aveiro) foi possível tratar das relações entre a Igreja em África e na Europa. Em concreto falou-se da partilha de padres e outras pessoas activas na missão da Igreja. Começámos com a perspectiva teológica que mostra que a Igreja é missionária por natureza, e que, por isso, a missão de anunciar Jesus Cristo aos outros não pode ser vista como mais uma tarefa mas como expressão da própria existência cristã, pessoal e comunitária. De seguida os participantes puderam partilhar sobre a situação na Europa e em África no que se refere às necessidades pastorais e a vários aspectos da pastoral das vocações e da formação dos novos padres. Se em África a dimensão religiosa é ainda muito forte e há um grande aumento do número de seminaristas que estão de forma consciente nos seminários maiores, na Europa a tendência a viver como se Deus não existisse e a separar vida quotidiana da vida espiritual tem levado a que haja também uma crise de vocações.

O terceiro aspecto da reflexão tinha que ver com a presença dos padres africanos na Europa. Uma ideia simples seria a de fazer vir padres africanos para a Europa para substituir os padres europeus que vão sendo cada vez menos. Contudo, como ficou bem claro neste seminário, ninguém pensa que isso seja o que Deus pede à Igreja actual. É preciso um repensar a pastoral e é dentro deste repensar que os padres africanos podem ser de grande ajuda. Um repensar que inclui recentrar a pastoral na relação com Deus e com a Sua palavra, na vida espiritual, na liturgia vivida com devoção, na catequese que ensina a doutrina da Igreja e ajuda a ler o que se passa na vida pessoal, afectiva, familiar, política e social e até laboral à luz da fé e do Evangelho. Um repensar que seja um reforçar da vida comunitária e do acolhimento dos carismas que Deus tem oferecido à Igreja desde o século passado para responder às necessidades.

Qual é, então, a avaliação da presença dos padres africanos na Europa? Em geral, ainda que haja alguns problemas, como pode haver com qualquer outro padre ou pessoa consagrada, as várias experiências testemunhadas em vários países são muito boas. Devemos, no entanto distinguir três grupos de padres africanos na Europa, os que vêm estudar (e que podem por vezes dar uma ajuda na pastoral mas que sobretudo devem estudar), os que vêm acompanhar as comunidades africanas para ajudar a celebrar a fé mas também a integrar-se na nova cultura, e, finalmente, os padres que chegam à Europa, depois de um acordo entre os bispos de lá e de cá, como missionários fidei donum, ou seja, que vêm estar por um período de tempo a desempenhar a missão que for necessária em paróquias ou outros serviços. O importante, foi várias vezes repetido por bispos africanos e europeus, é que cada padre tenha uma boa relação com o seu bispo de origem e com o bispo da diocese onde chega. Isso garante além do mais todas as ajudas que o padre possa precisar enquanto está na Europa.

Este foi o terceiro seminário do género depois de um grande encontro em Roma no ano 2004. Em Fevereiro de 2012 esperamos poder ter um novo grande encontro em Roma com delegados de todas as conferências Episcopais africanas e europeias para juntos preparar o Sínodo de Outubro 2012 sobre a Nova Evangelização, falando da cooperação pastoral entre os dois continentes.