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Pedro Vaz Patto
Esperança para o mundo do trabalho

No âmbito das celebrações do ano jubilar no Patriarcado de Lisboa, catorze organizações católicas (Ação Católica dos Meios Independentes, Ação Católica Rural, Associação Católica de Enfermeiros e Profissionais de Saúde, Associação de Farmacêuticos Católicos, Associação de Juristas Católicos, Associação dos Médicos Católicos Portugueses, Associação dos Psicólogos Católicos, Associação Cristã de Empresários e Gestores; Caritas Diocesana de Lisboa, Comissão Nacional Justiça e Paz, Companhia das Obras, Liga Operária Católica – Movimento de Trabalhadores Cristãos, Juventude Operária Católica e METANOIA – Movimento Católico de Profissionais) subscreveram uma declaração de compromisso relativa à sua ação no mundo do trabalho à luz da doutrina social da Igreja. Com histórias e perspetivas não em tudo coincidentes, quiseram testemunhar a unidade quanto à adesão a essa doutrina, que não encaram como simples princípios abstratos ou belas afirmação sem consequências práticas. Trata-se de um compromisso de ação.

Com referência a documentos de vários Papas, essa declaração de compromisso  reafirma aspetos essenciais da doutrina social da Igreja no que ao trabalho diz respeito: o trabalho como expressão da dignidade humana; o trabalho humano como continuação e desenvolvimento da obra do Criador; o trabalho como domínio da natureza de forma responsável e em atenção às gerações futuras, o trabalho como forma de realização pessoal e santificação; o primado da pessoa sobre a os fatores de produção, a empresa e a economia; a dimensão social do trabalho (trabalho com os outros e para os outros);  a igual dignidade de qualquer trabalho humano (mais  ou menos qualificado); a justiça da remuneração do trabalho como metro da justiça de um sistema socioeconómico; o trabalho como resultado da iniciativa e criatividade do trabalhador; o pleno emprego e o combate à pobreza  como objetivos de qualquer ordenamento socioeconómico orientado para a justiça e para o bem comum; a missão das organizações sindicais em prol da justiça e da solidariedade; o trabalho ao serviço da vida familiar; a precariedade como obstáculo à  constituição de uma família aberta à vida ou outros projetos pessoais duradouros;  a importância do repouso e do tempo livre para cuidar da vida pessoal, familiar, religiosa, social e cultural; o valor do domingo como dia de descanso comum; a atividade empresarial como forma fecunda de promover o bem comum; a criação e manutenção de postos de trabalho como  forma de concretizar a função social da propriedade privada e o destino universal dos bens. É à luz destes princípios que estas organizações querem enfrentar hoje o mundo do trabalho, com as mudanças profundas a que está sujeito e que se traduzem, designadamente, em novas formas contratuais, numa abertura cada vez maior da economia ao exterior, numa automatização crescente e nos novos desafios impostos pela Inteligência Artificial. Não rejeitam tais mudanças, mas também não ignoram os riscos que acarretam, riscos de desvios e atropelos a esses princípios. Essas mudanças não podem seguir um rumo inexorável, contra o qual nada se pode fazer. Diante de todas as inovações e transformações do mundo do trabalho ditadas pela tecnologia, há que evitar o erro do determinismo.  Essas mudanças devem ser governadas e orientadas por critérios éticos. como os que são acima enunciados. Esses critérios têm uma validade perene, por muito que pareçam contrariar a mentalidade hoje dominante.  O Papa Leão XIV já várias vezes demonstrou o seu propósito de promover a sua atuação com renovado vigor. É neste contexto que esta iniciativa do Jubileu do mundo do trabalho e esta declaração de compromisso querem transmitir uma mensagem de esperança. Não se trata de ignorar os dramas de muitos trabalhadores vítimas de injustiças, ou de formas de trabalho desumanizadoras. Trata-se de nunca desistir de superar esses dramas. A esperança vem-nos da fé no amor de Deus, que nunca nos abandona, não dispensa o nosso contributo, mas dá-nos força para nunca desistir, nem baixar os braços diante das maiores dificuldades e do que parece impossível.   Pedro Vaz Patto
Foto: Diogo Paiva Brandão