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Pedro Vaz Patto
Cristãos na política

Um breve discurso do Papa Leão XIV a um grupo de políticos da diocese francesa de Créteil, do passado dia 28 de agosto, contém ideias claras e profundas que merecem toda a atenção, de políticos e de outros cidadãos empenhados na “construção da cidade” (uns e outros convidados para o seu Jubileu diocesano de Lisboa que se celebrou no passado dia 13 de setembro).

Afirma o Papa nesse discurso (acessível em https://www.vatican.va/), que a salvação trazida por Jesus com a sua morte e ressurreição engloba todas as dimensões da vida humana, incluindo a política. Que a caridade como dom de Deus tem uma dimensão social e política e é uma força capaz de suscitar novos caminhos para enfrentar os desafios do mundo de hoje e renovar profundamente, desde o seu interior, as estruturas, as organizações sociais e as normas jurídicas. Que o cristão está mais preparado para enfrentar esses desafios, na medida em que vive e testemunha a sua fé. Que não podem ser separados o cristão e o político. Que o compromisso abertamente cristão de quem tem responsabilidades públicas não é fácil, em especial nos países do Ocidente, onde a Igreja é marginalizada, ignorada ou ridicularizada e porque eles estão sujeitos a pressões várias, a orientações partidárias e às “colonizações ideológicas” de que falava o Papa Francisco. Que nessas ocasiões é necessária a coragem de dizer “não posso” quando o exige a defesa da verdade. Essa coragem vem da união com Jesus crucificado. Porque Ele disse aos seus discípulos: «No mundo tereis tribulações, mas tende confiança. Eu já venci o mundo» (Jn., 16,33).

Recordo a propósito o exemplo do político italiano Igino Giordani, que tem pendente uma causa de beatificação, quando afirmava que ao entrar no Parlamento não podia deixar a sua fé cristã como quem deixa o casaco no bengaleiro…

Na verdade, não é fácil ser cristão na política (mas também noutros ambientes, como os da economia, por exemplo). Não é fácil ser fiel à doutrina cristã, mais do que a uma linha ideológica ou partidária, com o que isso pode implicar de eventual marginalização e sacrifício de uma carreira. Também nem sempre é evidente que opções são as mais coerentes com essa doutrina. Mas são essa fidelidade e essa coerência que são pedidas ao político a outros “construtores da cidade” que pretendem seguir Jesus Cristo: que saibam marcar a diferença sem se confundirem com todos os outros da sua linha política, pois só desse modo podem dar um contributo insubstituível e verdadeiramente fecundo a essa “construção da cidade”.

Não se trata de impor uma doutrina religiosa num Estado aconfessional e numa sociedade pluralista. Como também afirma o Papa Leão XIV nesse discurso, os fundamentos da doutrina social da Igreja correspondem à natureza humana, à lei natural que pode ser reconhecida por todos, por não cristãos e por não crentes. «Não há que ter medo de a propor e defender com convicção: ela é uma doutrina de salvação que visa o bem de todos os seres humanos, a edificação de sociedades pacíficas, harmoniosas, prósperas e reconciliadas.»


Pedro Vaz Patto
foto: Vatican Media