Desde há muito que dizemos estar, e estamos mesmo, em plena época de evangelização na Europa. Hoje há jovens portugueses cujos pais já não foram educados na fé! A vida, porém, parece correr bem na mesma e não se sente logo o mal da descristianização. Só quando começamos a sentir os efeitos da actual crise moral e social, que se alastra e deixa tanta gente triste e desamparada, e nos perguntamos pela sua origem, é que nos damos conta de que na base está uma crise anterior, a crise da fé. É aqui que surge a pergunta: será que basta moralizar a sociedade ou é preciso evangelizar?

Contudo, apesar de os últimos Papas, desde São Paulo VI, terem advertido a necessidade de evangelizar, e mesmo depois de ter havido um Sínodo e o Papa Francisco ter escrito um documento – Evangelii Gaudium –, continuo a sentir uma grande confusão no significado que se dá à palavra evangelizar.

Este tempo de Natal serve bem para nos recentrarmos. O que é evangelizar? É anunciar Jesus. Sim, mas isso o que quer dizer?

Na verdade, a divergência começa porque não estamos de acordo sobre o que seja o conteúdo do anúncio. Será apenas uma mensagem social/moral? E, nesse caso, será que evangelizar é anunciar a mensagem de Jesus? Ou é mais do que isso, e tem como finalidade levar a um encontro pessoal com Jesus? Claro que neste encontro há uma palavra e há uma doutrina, ou seja, há também uma mensagem, mas Ele é mais do que uma mensagem, é uma Pessoa. São João, quando nos diz que Jesus é o Verbo de Deus que se fez carne, faz ver que, apesar de termos de aprender tanto com os ensinamentos de Jesus, não basta ouvir ou ler as palavras escritas na Bíblia, é preciso encontrar e seguir a Pessoa de Jesus vivo hoje.

Uma possível consequência desta ambiguidade surge quando se diz que evangelizar é ensinar as pessoas a serem “cristãs”. Especialmente se se pensar que ser cristão é apenas “agir segundo os valores cristão” ou “acolher uma mensagem”, nesse caso, não estranha haver quem diga que se pode evangelizar sem falar de Jesus ou de Deus! Sem se falar de Jesus e, por isso, sem promover o encontro com Jesus, mesmo que tivéssemos claros alguns dos seus ensinamentos e sentíssemos alguma atração pelo estilo de vida que propõe, não O teríamos a Ele!

Se o objectivo do anúncio de Jesus, pelo contrário, é o encontro com Ele, então não basta ensinar, é preciso testemunhar. Não basta ser coerente e fazer o que Ele disse. Evangelizar neste sentido é testemunhar que Ele está presente e mostrar na vida que a Sua, como nos diz São Paulo, transforma a nossa vida, faz-nos homens novos. É preciso estar comovido por experimentar que a nós pecadores, tantas vezes conscientes das nossas fragilidades, é nos dada a possibilidade de viver em comunhão com Deus. Somos transformados em filhos de Deus! Recebemos o Espírito Santo!

Isto não quer dizer que não interessa a Sua doutrina. De certo modo, pelo contrário, implica uma muito maior necessidade de se ser fiel a ela, porque percebemos que não estamos a lidar com palavras que possam ser adaptadas por nós aos tempos ou às ideias da moda, mas com o próprio Jesus. O encontro com Ele leva ao reconhecimento do valor da Sua doutrina/mensagem e à necessidade de sermos fiéis a ela.

Para que a evangelização, neste sentido mais completo, seja eficaz não basta o marketing! Não se evangeliza a partir de estudos de mercado ou de mensagens chocantes! Mas há algo de semelhante com essas técnicas. Na verdade, é preciso começar por despertar no coração da pessoa de hoje, habituada a reduzir os seus desejos a coisas fáceis de agarrar, para a sede de sentido de vida e a consciência de ter sido feita para viver plenamente. Só assim o encontro com Jesus, que é o encontro com a resposta procurada, será reconhecido como pertinente e será agarrado com unhas e dentes.

Como é que se consegue evangelizar hoje? Como sempre se conseguiu! Proporcionando a todos o confronto com a beleza da vida de quem vive uma intensa relação com Jesus. Evangelizar começa, por isso, por cuidar da fé, de cada um e das comunidades; passa por alimentar a fé para que esta transforme a vida, e conduz ao testemunho na caridade e na alegria. Não basta convencer com uma mensagem, é preciso testemunhar uma presença.