Encontramo-nos a viver mais uma Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Na nossa diocese, este tempo é marcado, desde 2001, por um encontro de oração preparado e particularmente direcionado para os jovens, integrando representantes dos Departamentos Juvenis de várias Igrejas cristãs. A Vigília Ecuménica Jovem, que anualmente congrega, no sábado dentro do Oitavário de Oração, várias centenas de jovens, aconteceu este ano de forma diferente. As limitações impostas pelo contexto de pandemia da COVID 19 limitaram os participantes ao essencial – um ministro e um jovem por igreja, um pequeno coro – mas alargaram a possibilidade de chegar a muitos e com eles orar, através da transmissão em streaming, entrecortando momentos em direto transmitidos a partir da igreja do Parque das Nações e outros previamente gravados por jovens das diversas Igrejas participantes.
A experiência desta forma de estarmos em comunhão e em oração, que se vem tornando mais comum, fruto das circunstâncias particularmente difíceis em que vivemos, recorda-nos como o essencial para que esta comunhão aconteça é, afinal, muito pouco. Como nos recorda o tema escolhido para esta Semana de Oração, o essencial consiste no permanecer em Cristo. A imagem a que a citação evoca, a da videira e dos ramos, utilizada pelo próprio Jesus, remete para uma relação vital, para um viver em Cristo, como dirá Paulo. Só unidos a Ele, de forma vital, poderemos dar frutos abundantes, frutos de paz, de reconciliação, de alegria, de fraternidade, de amor.
É também significativo que esta proposta venha de uma comunidade monástica feminina, também ela ecuménica, que remonta aos anos 30 do século passado. Fundada em Grandchamp, na Suíça, junto ao lago de Neuchâtel, por um conjunto de mulheres, oriundas da tradição reformada protestante, ela expressa a redescoberta deste filão espiritual marcado pela importância da escuta, da oração, do silêncio, da vida comunitária e da hospitalidade. Tal como em Taizé, para referir uma comunidade similar bem conhecida pelos jovens e com a qual as irmãs de Grandchamp mantiveram desde cedo uma estreita relação, é no permanecer em Cristo que se descobre a fonte para a verdadeira reconciliação, para a cura das feridas que estão na origem das divisões e dos medos. É permanecendo em Cristo que podemos descobrir-nos profundamente amados, por um amor que toma a iniciativa de perdoar, de curar. Para que possamos curar-nos a nós mesmos, reconciliar-nos connosco e, daí, fazer nascer a reconciliação, em círculos concêntricos, até se estender a tantos outros e outras que partilham a mesma fé em Cristo, aos que partilham o mesmo desafio de uma vida plenamente humana e a toda a criação de Deus com a qual estamos orgânica e vitalmente ligados.
Foi belo, por isso, na Vigília, recordar o texto de Doroteus de Gaza, um monge cristão do século VI, que nos reconduziu a esta descoberta de que a unidade só pode brotar de uma autêntica vida em Cristo. Pois quanto mais nos aproximamos de Cristo e nos deixamos curar por Ele, mais nos aproximamos uns dos outros, nos descobrimos como irmãos e irmãs uns dos outros, e podemos desbravar os caminhos de uma diversidade reconciliada, vivida na comunhão que se funda n’Ele. É da luz que brota do mistério de Cristo, morto e ressuscitado, da vitória definitiva sobre o caos e morte que funda a nossa fé e a nossa esperança, que podemos juntos professar a mesma fé, orar juntos chamando a Deus “nosso Pai” e trazer para o coração do nosso encontro as necessidades do mundo inteiro.
Belo foi ainda como tudo este percurso se sustentou na escuta orante da Palavra de Deus, neste Domingo que o Papa Francisco elegeu como “Domingo da Palavra”. Na verdade, é à Palavra de Deus que teremos de voltar sempre para escutarmos a Cristo, para nos deixarmos interpelar pelo testemunho dos que nos precederam na fé, para reconhecermos como Jesus nos continua a pedir para “sermos Um” para que o mundo creia. E isto só o conseguiremos permanecendo n’Ele, pois sem Ele nada podemos fazer que seja verdadeiramente duradouro.
O testemunho dos jovens que persistentemente organizam, promovem e participam nesta vigília, mesmo em tempos de pandemia, é um sinal importante de que este grito, este desejo, é escutado e levado a sério. Que ele possa continuar e multiplicar-se em frutos de reconciliação, de fraternidade e de paz. Que ele alargue o coração de cada um aos gritos dos que mais sofrem, sobretudo os mais pobres e marginalizados, e aos gritos da própria criação. Uns e outros pedem o nosso cuidado, esse dom de atenção e de cura que bebemos da nossa relação comum com Cristo.
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