Lisboa |
Segundo webinar ‘Família e Educação’ refletiu o tema ‘Serão os pais competentes para educar?’
“Sim! Os pais são os especialistas nos seus filhos!”
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A psicóloga Ana Teresa Brito acredita que os pais “são os especialistas nos seus filhos” e que, por isso, são “competentes para educar”. No segundo webinar ‘Família e Educação’, organizado pela Pastoral Familiar de Lisboa, foram abordados os vários tipos de maus-tratos, as expetativas em relação aos filhos e os sinais de alerta para os pais pedirem ajuda.

 

À pergunta ‘Serão os pais competentes para educar os seus filhos?’, a psicóloga Ana Teresa Brito não tem dúvidas: “A resposta emergiu, em mim, plena, inteira: Sim! Os pais são os especialistas nos seus filhos!”. No segundo de um ciclo de quatro webinars dedicados à ‘Família e Educação’, que decorreu na noite do passado dia 12 de novembro, a oradora começou por sublinhar a importância de colocar “as relações no centro, numa cascata de cuidados”, e destacou o valor do apoio familiar. “Sabendo que é no contexto familiar que ocorrem as mais importantes interações e experiências na vida das crianças e que estas são essenciais ao seu desenvolvimento, é hoje consensual que o desenvolvimento e bem-estar das crianças pressupõe que toda a família seja apoiada e envolvida nesse processo”, frisou Ana Teresa Brito.

Na palestra inicial deste webinar, esta professora do ISPA - Instituto Superior de Psicologia Aplicada reforçou a importância do “suporte aos pais”, em particular por parte dos profissionais que acompanham a vida das famílias. “Hoje compreendemos melhor que com o nascimento de um bebé a família se torna um sistema aberto, oferecendo-nos uma oportunidade única de nele entrar e de nos tornarmos parte integral do seu sistema de suporte. Todos os profissionais, todos nós, podemos ter um papel-chave ao darmos suporte aos pais neste tempo crucial de vida; cuidando dos cuidadores, e ajudando-os a compreender e responder contingentemente às pistas que o seu bebé lhes dá, apoiamos o desenvolvimento de relações saudáveis entre pais e filhos”, manifestou a psicóloga Ana Teresa Brito, doutorada em Estudos da Criança.

 

Potenciar competências parentais

Após a intervenção inicial, a jornalista, escritora e professora universitária Laurinda Alves moderou uma mesa redonda, com mais três convidados, que começou por abordar os vários tipos de maus-tratos. Filipa Fonseca, psicóloga clínica e da saúde, de crianças e adolescentes, com uma experiência de 20 anos no Hospital Amadora-Sintra, começou por referir que “as crianças vítimas de abuso sexual ou de violência física extrema são os maus-tratos mais óbvios e visíveis”, mas depois “existem os outros que estão presentes em qualquer faixa etária, sejam pais mais jovens, sejam pais mais velhos, e com qualquer nível de educação, e que remetem para a ausência, o não estar lá para os seus filhos”. “Temos crianças e adolescentes que crescem entregues a si próprios, ainda que tenham tudo aquilo que qualquer criança e jovem gosta de pedir, como os telemóveis topo de gama, a roupa de marca ou uma rede enorme de amigos; mas depois falta-lhes uma parte afetiva em casa, falta-lhes atenção, falta-lhes o ‘saber como correu o teu dia, o que aprendeste hoje, o que fizeste’”, alertou, sublinhando a necessidade de diálogo. “Em consulta, pergunto quem são os amigos dos filhos e muitas vezes os pais não sabem. Estão tão ocupados que não sabem quem são aquelas pessoas que convivem a maior parte do dia com os seus filhos. Claramente que isto vai potenciar um crescer só, e chega uma determinada altura em que surgem comportamentos muitas vezes ditos de risco”, preveniu, convidando os pais a “não desistir”. “Quando os pais nos procuram, é claramente o primeiro sinal de que estão disponíveis para a mudança. Muitas vezes, é por aí que temos de começar. Portanto, eles, sim, são competentes, mas por vezes precisam de algum ‘empurrão’ para potenciar essas competências parentais que têm”, apontou Filipa Fonseca.

Questionada porque os pais negligenciam, esta psicóloga clínica respondeu que “muitas vezes estão demasiados ocupados com outras questões, outras vezes tem mesmo a ver com personalidades, com estilos relacionais e comunicacionais”. “Há pessoas que são naturalmente mais fechadas e mais centradas sobre si e têm mais dificuldade em perceber o impacto que acabam por ter nos seus filhos”, observou.

 

Separar sensações de emoções

Pai de dois filhos – o Francisco, de 12 anos, e o Manuel, de 9 – e economista, Ricardo Zózimo esteve também neste webinar e partilhou o momento em que se sentiu a nascer como pai. “Foi quando consegui comunicar com eles, quando consegui realmente diminuir a distância entre ser pai e ser amigo”, contou, revelando ainda que, em casa, a família tem “uma prática de oração refletiva”. “Todos os dias, rezamos à mesa e agradecemos qualquer coisa do dia – não vale dizer ‘eu rezo porque o meu dia foi bom’, cada um tem que rezar por uma coisa concreta que aconteceu no dia. Isso gera uma conversa coletiva acerca desses temas que são muito importantes em termos desta ligação entre pais e filhos. Sobretudo, gera uma reflexão enorme sobre esta proximidade que temos com as crianças”, garantiu.

Este professor universitário, doutorado em empreendedorismo, enalteceu ainda a importância da “reflexão mais alargada sobre os temas da vida”. “Em minha casa, falava-se de tudo em on, e como tenho essa experiência falo também de tudo com os miúdos. Não escondo, não fujo. E, por vezes, é até um pouco esquisito para eles e temos de os ajudar sobre o que podem, ou não, dizer aos amigos. Mas a reflexão é muito importante, até para separar o que são sensações do que são emoções. Para os miúdos, é importante perceber as sensações – se o dia correu bem ou se correu mal –, de uma emoção, de querer agradecer por algo que é importante”, assegurou.

 

A importância de pais orgulhosos

Mestre em Psicologia, Joana Sequeira, de 23 anos, esteve presente neste webinar, no papel de filha. “Os meus pais são os melhores pais do mundo! Sinto-o de todo o coração, e, se calhar, ao contrário da maior parte dos pais que nos estão a ver, os meus pais não são católicos, não vão à Missa, não conhecem Jesus”, começou por testemunhar, partilhando depois três competências recebidas dos pais. Desde logo a “muita liberdade, com muita responsabilidade”. “Sempre com limites, claro, mas nunca fui obrigada a nada. O obrigatório nunca resulta. Quando vemos a liberdade posta em causa, a nossa reação é dizer não”, precisou. Depois, “o exemplo”, e neste ponto destacou a mãe, que “trabalhava 12 horas por dia e chegava a casa e ainda ia cozinhar e lavar roupa e sempre sem reclamar”. Finalmente, o “estar presente”. “É muito importante os pais mostrarem que estão orgulhosos. É uma coisa que nos dá muita alegria, muita motivação, para sermos melhores filhos, melhores pessoas e melhores católicos. Pelo contrário, estar desiludido também toca forte, muito mais até do que um castigo”, garantiu esta jovem, antiga responsável nacional da Missão País.

 

Sinais de alerta, conversas, valores e cultura

Neste webinar, a psicóloga Filipa Fonseca foi ainda convidada a deixar os sinais de alerta para os pais pedirem ajuda. “Os sinais de alerta podem vir da parte dos próprios pais, e eles sentirem que algo está a falhar, mas muitas vezes o mais difícil é olhar para os sinais de alerta que os filhos nos dão”, começou por responder, destacando depois “o isolamento” como “um dos principais sinais”, em especial nas “crianças ou adolescentes que eram sociáveis e de repente passam a ficar mais fechados ou começam a utilizar excessivamente a internet”. “Isso só se consegue perceber com algum diálogo, que não pode ser impositivo nem como um questionário. Tem de ser muito subtilmente ir percebendo as pistas que eles nos dão”, aconselhou, evidenciando igualmente as “alterações nos padrões de sono ou de alimentação”. “Tudo isso são sinais de alerta”, frisou.

A jovem Joana Sequeira lembrou ainda que “os filhos falam mais com os pais quando os pais também falam mais com os filhos”. “É preciso que haja partilha e os pais não façam só perguntas. É importante potenciar esta conversa, esta partilha de sensações”, apontou, sublinhando igualmente que “há coisas que os filhos não querem partilhar com os pais e não há mal nisso”. “Se o filho nunca falar com os pais sobre o fim do namoro, pode falar com um amigo ou uma amiga”, salientou.

Para Filipa Fonseca, quando os filhos fazem escolhas desviadas ou opostas aos valores e princípios que lhes foram ensinados, a palavra de ordem é “confiança”. “Devemos confiar naquilo que são os valores que temos transmitido aos nossos filhos. Porque a educação impõe uma ‘dança’: nós temos que impor limites e eles têm que nos testar. E no meio de disto tudo, tem de haver muito respeito. Mesmo quando os filhos ‘fogem’ e vão por caminhos de más experiências, também trazem grandes momentos de oportunidade e de crescimento. O nosso papel de pais é continuarmos cá na retaguarda, disponíveis para os ajudar”, afirmou a psicóloga. “Acima de tudo, confiem naquilo que foram fazendo ao longo dos anos”, acrescentou.

Questionado sobre como ajudar as novas gerações a promoverem uma cultura profunda, séria e crítica, mas entusiasmante, Ricardo Zózimo respondeu que “essa é a pergunta dos milhões”. “Queremos que os filhos se interessem pelas coisas que nos interessam, mas eles têm a sua própria individualidade. A palavra chave é não julgar. Sempre com amor. Eles têm a sua individualidade e nós temos que os aceitar”, frisou.

 

Precisamos uns dos outros

Ana Teresa Brito encerrou o segundo webinar organizado pela Pastoral da Família lembrando que “precisamos uns dos outros”. “Quando uma mãe se sente mais sozinha, ou quando um pai se sente mais sozinho, um dos sinais de alerta é também a solidão, as famílias não terem recursos, não terem à sua volta uma família que as apoie, que sintam que quando precisam têm ali quem os agarre. É importante as pessoas falarem sobre isso. Se se estão a sentir sozinhas, dizerem: ‘Estou a precisar de ajuda’”, aconselhou esta psicóloga.

 

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“Ficaremos cheios de alegria se os webinars forem uma ajuda real”

O casal diretor da Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa, Regiani e Tiago Líbano Monteiro, deseja que os webinars sobre ‘Família e Educação’ ajudem as famílias. “O primeiro webinar, na semana passada [dia 5 de novembro], teve mais de 700 ligações online nas redes sociais, e, depois, o vídeo que ficou gravado já teve mais de 3000 acessos durante a semana que passou. É bom, mas a nossa alegria não deve estar nos números, mas sim nos rostos de cada família, no rosto de cada pessoa que está a ver este webinar, no coração de cada um. Ficaremos realmente cheios de alegria se isto for uma ajuda real, efetiva, para algumas famílias ou pessoas que estão a assistir”, assinalou Tiago, no início do webinar n.º 2, dedicado ao tema ‘Serão os pais competentes para educar?’.

Já Regiani apontou que, “neste caminho” de formação, “interessa principalmente abrir o coração a Deus”. “Que as palavras que escutamos [nos webinars] sejam inspiradas pelo Espírito Santo para sermos melhores pais, filhos, professores, avós, catequistas, educadores. Para sermos famílias felizes – não famílias sem problemas, porque isso não existe – que não desistem de caminhar e vão encontrando, no caminho, a esperança que renova o ânimo, os sinais de mudança que confirmam o caminho e a alegria que conduz à festa”, referiu.

 

Webinars ‘Família e Educação’

Webinar n.º 1, ‘Educar para quê?’: https://bit.ly/webinarfamilia1

Webinar n.º 2, ‘Serão os pais competentes para educar?’: https://bit.ly/webinarfamilia2

 

 

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Módulo ‘Pais e Escola’ a 3 e 10 de dezembro

Após os dois primeiros webinars dedicados à temática ‘Pais e Filhos’, o ciclo ‘Família e Educação’ prossegue com o Módulo 2, sobre ‘Pais e Escola’, composto por mais dois webinars a decorrer nos dias 3 e 10 de dezembro, às 21h30. O webinar n.º 3, com Henrique Leitão, vai refletir sobre ‘O valor dos adultos para as crianças e jovens’, enquanto o webinar n.º 4, o último desta formação e que conta com a intervenção de Miguel Assis Raimundo, vai abordar a ‘Liberdade de Educação’. Em cada sessão, além da palestra haverá uma mesa redonda, com diversos convidados.

Recorde-se que refletir e aprofundar o tema ‘Família e Educação’ é o objetivo destes quatro webinars [videoconferência com intuito educacional] gratuitos que a Pastoral da Família de Lisboa está a organizar e que têm lugar no Facebook e no YouTube desta pastoral e do Patriarcado.

Inscrições: http://familia.patriarcado-lisboa.pt

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