Como companhia de verão tivemos incêndios fustigando a natureza e as populações, vimos imagens de desastres ambientais, ouvimos alertas dos cientistas sobre a última hora para travar uma catástrofe sem retorno, tivemos há dias a Mobilização Global pelo Clima e agora começa a Cimeira para a Ação Climática. Tudo nos diz respeito e responsabiliza.
O pulmão do mundo
Tornou-se rotina ver e escutar notícias sobre os incêndios na Amazónia. E pelas piores razões. Não tanto pelos fogos em si, que sempre aconteceram, mas mais pelo sua intensidade, em relação à qual o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) afirma que a desflorestação da Amazónia aumentou 88% em Junho e 278% em Julho, comparando com o mesmo período do ano passado; mas sobretudo porque este fenómeno, para além das alterações climáticas e da intervenção humana, tem por detrás uma visão sobre o clima e sobre o desenvolvimento baseada na recusa da ciência e ancorada no lucro fácil e imediato de grandes grupos ligados à agricultura intensiva, à agropecuária, ao comércio internacional de madeiras e à mineração. O bem-estar e os direitos dos povos indígenas e das populações empobrecidas, o cuidado pela natureza e a responsabilidade pelo futuro diluem-se perante esse objetivo.
Por isso, a Rede Eclesial Pan-Amazónica da Igreja, que inclui representantes de comunidades católicas de nove países, alertou para a extrema gravidade que se vive na região – não só no Brasil – onde a intervenção humana está a conduzir a Amazónia para um ponto de não retorno. Numa região disputada por várias frentes, a Igreja, inserida no meio, vai repetindo o duelo entre David e Golias, iniciado há muito por lutadores e mártires assim reconhecidos pelo povo.
O pseudodesenvolvimento
As políticas governamentais abertas a um pseudodesenvolvimento, e fazendo ouvidos moucos aos avisos dos cientistas, estão apostadas em dificultar e neutralizar a ação dos mecanismos de controle que já existem, apesar de pouco eficazes perante a ingente tarefa que têm pela frente. Tentam domesticar o povo com palavras de um populismo rudimentar, com meias verdades e algumas mentiras à mistura para inventarem algum presumível bode expiatório, a quem podem chamar ONG’s com fome de subsídios ou criminosos e inimigos da pátria como bispos, padres, freiras e leigos, alguns já eliminados numa total impunidade.
Ainda nestes dias, num testemunho de quem vive no terreno, isto se confirmava: “fui visitar a comunidade, em plena estrada transamazónica. Percorridos 308 quilómetros… uma surpresa: em cima da ponte estava ardendo um montão de pneus velhos e uma nuvem negra se elevava para os céus. Parei e indaguei: os trabalhadores das diversas serrarias clandestinas da cidade tinham ateado fogo na ponte protestando contra a ação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, que havia multado todas as serrarias”. Terminava dizendo: “O problema não é fácil e o atual governo brasileiro está desmantelando todos os órgãos ligados à política ambiental”. E continuava referindo-se ao “dia do fogo” decretado em protesto pela presença do IBAMA: “10 de Agosto foi o dia escolhido e nesse dia foram registados em Novo Progresso 327 focos de incêndio e, no município ao lado, em Altamira, 431 focos de incêndio.”
O Sínodo para a Amazónia
Aproxima-se o Sínodo da Amazónia a realizar entre 6 e 27 de Outubro e que é expressão da Igreja que se quer incarnar na vida dos povos dessa imensa região, com a suas caraterísticas muito diversificadas, mas todas a serem respeitadas, criando comunhão e não deixando ninguém de fora: indígenas, quilombolas, populações ribeirinhas e aquelas que vivem em áreas urbanas; muito menos arrumando para o lado os que são um “estorvo” para o lucro. Novos caminhos para a Igreja e por uma ecologia integral constitui o objetivo dessa Assembleia. É incómodo para uns, visto com desconfiança por outros. Lamentável que dentro da Igreja e por parte de figuras relevantes na instituição, se olhe para esta oportunidade com desconfiança, por vezes com desprezo, obcecados por papões do passado e paralisados pelo medo de que alguma coisa mude no status quo. Como na parábola do samaritano, evitam sujar as mãos, esquecendo que Deus só se deixa encontrar no “próximo”.
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