Gosto muito de “road movies”. Não só pelas belas paisagens que habitualmente oferecem, mas principalmente pelo efeito da viagem na vida dos viajantes. Há um sabor de peregrinação, que tem origem no latim “per agros”, “pelos campos”, nestas narrativas em que o caminho é também pelos campos largos das almas. Neles regresso também ao convite de Jesus, que chamou os discípulos para andarem com Ele, numa viagem de 3 anos até à Páscoa. Assim gostei de ver o filme “Green Book – Um guia para a vida”, de Peter Farrelly, com Viggo Mortensen e Mahershala Ali, que interpretam a história verídica de uma amizade improvável entre um condutor branco e um célebre pianista negro, numa viagem por terras do sul norte-americano nos anos 60. A planura da paisagem contrasta com os abismos interiores onde surge a nu a hipocrisia e as consequências do racismo e do preconceito. Como é dito: “com violência nunca se ganha, só se ganha quando se mantém a dignidade”; e também, “é preciso coragem para mudar o coração das pessoas”.
Conhecemos dois relatos de “bem-aventuranças” ditas por Jesus. Em Mateus e em Lucas. As primeiras, sete, têm um sabor religioso e sapiencial, Jesus di-las num monte (como “novo Moisés”), sentado (em atitude de ensino). As que escutamos hoje são quatro, seguidas de quatro “Ai de vós…” (em advertência), ditas numa planície (onde os pobres e os doentes podem ir mais facilmente), com Jesus de pé (num tom profético), a falar da indigência e dos sofrimentos dos pobres. Certamente relatam dois momentos diferentes na pregação de Jesus, captados pela sensibilidade própria dos evangelistas. Não são elogio à pobreza e miserabilismo, nem ódio às riquezas e aos bens. Vejo nelas a coragem de Jesus “para mudar os corações”, e propor a verdadeira felicidade dos que confiam em Deus (e não nas riquezas ou na fama), e tudo põem ao serviço dos outros, na justiça e na paz.
A predilecção de Jesus pelos mais necessitados e aflitos é um traço comum em Lucas. A advertência aos ricos desmascara os auto-suficientes, indiferentes e gananciosos, que endeusam os bens. Geram infelicidade os bens que não servem para promover e partilhar vida. Os que vivem saciados, indiferentes à injustiça que provoca miséria, também são advertidos. Se ao menos distribuíssem o que lhes sobra! Assim também a alegria egoísta e alienante, de quem não olha à sua volta, nem se deixa tocar pelas tristezas do mundo. Gasta-se depressa a alegria que não é multiplicada.
Comecei com viagens e volto a elas. Não se muda o coração de um dia para o outro. Sem caminhos comuns, conhecimento mútuo, respeito pelas diferenças, mútua necessidade, alegrias e tristezas partilhadas, bens dados e recebidos, por maior que pareça a felicidade, estaremos sempre enganados. Só quando desejo e contribuo para a felicidade de outros e com outros, é que sou feliz. Aí começarei a entender o próprio coração de Deus!
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