Nem sempre a televisão nos apresenta maus produtos. Nos últimos tempos, graças à possibilidade que nos é dada de vermos quando nos for possível aquilo que já foi transmitido, confesso que tenho ficado “preso” pela figura do Padre Brown.
Trata-se de uma série de ficção transmitida num dos canais de TV Cabo. Sacerdote católico na Inglaterra do pós-Iª Guerra Mundial, o Padre Brown não consegue resistir à solução de um homicídio que lhe apareça pela frente. É superior às suas forças. O personagem foi criado pelo grande G. K. Chesterton, inspirado em Mons. John O’Connor, figura importante na sua conversão ao catolicismo. A série procura respeitar a figura, o carácter que lhe deu o seu autor, embora não se prenda literalmente aos escritos de Chesterton (já traduzidos para português).
À partida, poderia parecer que se trata da simples história de um Padre curioso, inteligente e astuto, que Chesterton criou para se divertir nos intervalos das suas obras filosóficas. Mas é muito mais que isso.
Muito mais que a curiosidade de quem gosta de saber, sobressai no Padre Brown um amor irresistível à verdade. Trata-se de procurar a verdade dos acontecimentos e a verdade das próprias pessoas; de as fazer confrontar consigo mesmas e com Deus que é a Verdade.
Muito mais que as congeminações dos personagens e do próprio Padre, o mundo ilusório que foram criando e a própria imaginação, é importante a realidade. A atenção ao real, a percepção das suas interrogações, a verdade que ele nos mostra.
Muito mais que as leis escritas e muito mais que as normas da correcção social, importa ao Padre Brown a consciência iluminada pelo Evangelho: a consciência própria, que em cada um de nós sussurra o que devemos fazer, pensar, dizer, qual lei natural que nos ajuda a distinguir o bem do mal; e a consciência que se deixa conduzir por Deus – a consciência que caminha e que vai descobrindo o próprio pecado, abandonando-o e aderindo ao bem.
Muito mais que as condenações humanas, importa ao Padre Brown a salvação da alma, a vida eterna, o confronto de alguém com Deus no momento do juízo. É por isso que o sacramento da confissão é essencial em praticamente todos os episódios. Não porque nela o sacerdote adquira informações que não consegue em mais nenhum outro lugar e que o ajudam na resolução do crime, mas porque é o momento do pecador experimentar o perdão e o amor de Deus.
Muito mais que as honrarias próprias, importa ao Padre Brown o cuidado do seu rebanho. Para a polícia, ele é um Padre intrometido; para os superiores, é um Padre duma pobre paróquia, despreocupado com a “carreira eclesiástica” e que não irá muito longe. Mas o bem das suas ovelhas – quer dizer: a salvação de todas, quaisquer que sejam – é para o Padre Brown o bem maior. Muito maior que o seu próprio bem-estar. Uma figura admirável de sacerdote e de cristão.
Nunca conheci nenhum Padre que resolva homicídios. Mas conheço muitos Padres Brown.
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