Nesta semana em que preparámos este primeiro número do Jornal VOZ DA VERDADE após as férias, decorreu, em Fátima, o 9º Simpósio do Clero sobre a temática ‘O Padre: ministro e testemunha da alegria do Evangelho’. Considero que é um tema muito oportuno, tendo em conta o que temos vindo a assistir nas últimas semanas, no que diz respeito aos escândalos de abusos que, mais uma vez, vieram abrir feridas na Igreja. É uma temática que surge no momento certo, apesar de a sua programação ser bem anterior às notícias e ao momento que temos vindo a viver e que nos causam dor e incómodo. Ninguém pode ficar indiferente aos factos, pela sua gravidade, e, tal como diz o Papa Francisco na Carta que escreveu ao Povo de Deus a 20 de agosto, “é necessário que cada baptizado se sinta envolvido na transformação eclesial e social de que tanto necessitamos”. Tal transformação, sublinha, “exige conversão pessoal e comunitária, e leva-nos a dirigir os olhos na mesma direção do olhar do Senhor”. Para isso, o Papa Francisco desafia-nos, a todos, ao exercício penitencial da oração e do jejum, “seguindo o mandato do Senhor, que desperte a nossa consciência, a nossa solidariedade e o compromisso com uma cultura do cuidado e o nunca mais a qualquer tipo e forma de abuso”, exorta o Papa Francisco.

É preciso que, cada vez mais, o Povo de Deus se sinta Igreja, deixando de lado a concepção de que a Igreja é o Papa, os bispos, os padres, os religiosos... e que todos se sintam parte da mesma família. “É preciso crescer nesta consciência iniciada com o Concílio Vaticano II de haver padres e leigos em cooperação”, referiu esta semana, aos sacerdotes portugueses, o Cardeal Beniamino Stella, Prefeito da Congregação para o Clero.  Recordando que “as comunidades recebem o sinal da presença de Cristo Bom Pastor, através do Sacerdote, carregando as dificuldades das pessoas, os seus cansaços”, o Cardeal Stella acrescentou que “por vezes esquecemos o cansaço e a paciência dos sacerdotes”.

A imagem que estas situações problemáticas podem provocar numa opinião pública e muitas vezes influenciando aqueles que fazem parte da família pode levar, erradamente, a uma generalização e até a atitudes de rejeição. No entanto, há algo que é preciso ter em conta e que muitas vezes é esquecido: o sacerdote enfrenta o perigo do cansaço e do desânimo porque “corre muito” ao serviço do Povo de Deus. “Isto é algo que não tem reconhecimento pelos media”, observou o Cardeal Beniamino Stella. “Há uma grande quantidade de padres que vive com grande empenho a sua missão. E o sacerdote merece ser reconhecido na sua fadiga e desgaste físico”, comentou. 

O padre não é um ‘bicho mau’! É um homem que também tem fragilidades humanas e precisa de contar com o Povo de Deus para o ajudar e, até, corrigir quando erra. Da nossa parte, precisamos crescer na virtude “da humildade, do respeito e da mansidão”, lembrou o Cardeal Stella.

Editorial, pelo P. Nuno Rosário Fernandes, diretor

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