Samer ficou quase sem palavras quando regressou a casa, na Planície de Nínive, no Iraque, de onde tinha sido expulso pelos jihadistas no Verão de 2014. Quando voltou a cruzar a porta da rua, com a mulher e as filhas, as lágrimas correram-lhe pela face. Estava a viver a concretização de um sonho…
Durante muito tempo, Samer chegou a pensar que seria impossível voltar a casa, à sua casa, na Planície de Nínive, no Iraque, de onde foi expulso mais a sua família, amigos e vizinhos no Verão de 2014 quando a sua aldeia foi invadida por centenas de combatentes jihadistas do auto-proclamado Estado Islâmico. Foi há quatro anos. No espaço de poucas horas, aquela região bíblica ficou vazia, transformando-se numa terra fantasma. A chegada dos jihadistas provocou uma das maiores fugas de população civil de que há memória nos tempos modernos. Não havia ninguém para proteger os Cristãos. Nem exércitos, nem milícias. Ninguém. Abandonados à sua sorte, milhares de pessoas fizeram-se à estrada, em pleno deserto, levando consigo apenas a roupa que traziam vestida. Quem ousasse ficar teria de renunciar ao Cristianismo. Ou então, seria escravizado ou morto.
6 de Agosto
Samer Issa nunca mais vai esquecer esse dia 6 de Agosto de 2014 em que, no espaço de poucas horas, ficou sem nada. Sem trabalho nem dinheiro, sem casa, sem saber sequer como alimentar as suas filhas, então com 4 e 3 anos de idade. Samer ficou de mãos vazias. No espaço de poucas horas sentiu toda a vida a desmoronar-se. Samer Issa, a sua mulher Najeeba, e as filhas Mariam e Gazal dormiram as primeiras noites ao relento, assustados, no meio de um turbilhão humano de pessoas completamente perdidas, no norte do país, na região de Erbil, no chamado Curdistão Iraquiano. Mais de 120 mil cristãos amontoaram-se por ali naqueles dias, naquelas semanas e meses. A Igreja, com o apoio fundamental da Fundação AIS, começou então uma das mais extraordinárias campanhas de ajuda humanitária nos tempos recentes. As igrejas abriram as suas portas e transformaram-se em albergues improvisados. Ninguém ficou sem comer, ninguém ficou sem roupa para vestir. Ninguém foi esquecido.
Refazer a vida
De um dia para o outro, graças à solidariedade de benfeitores da Ajuda à Igreja que Sofre espalhados por todo o mundo – e também em Portugal, onde esta campanha de solidariedade teve um forte impacto –, milhares de cristãos começaram a ser acolhidos em casas particulares, em pensões, em improvisados aldeamentos. De um dia para o outro, a vida começou a refazer-se por ali, longe de casa, mas sempre com a esperança de um tempo novo. Erbil, no Curdistão iraquiano, passou a ser, desde Agosto de 2014, desde essa invasão ignóbil, a pátria dos Cristãos da Planície de Nínive. Desde então, as igrejas encheram-se de cânticos e de orações. De preces. Desde então, todos os dias milhares de vozes passaram a erguer-se para o Céu, em Erbil, no Curdistão iraquiano, pedindo paz, o fim do martírio, o regresso a casa.
Os sinos voltaram a tocar
Quando há semanas Samer Issa voltou a cruzar a porta de entrada da sua casa, em Qaraqosh, na Planície de Nínive, juntamente com a mulher Najeeba, e as filhas Mariam e Gazal, os seus olhos voltaram a encher-se de lágrimas. Mas, desta vez, de felicidade. “Muito obrigado!”, foi tudo o que conseguiu dizer, num agradecimento emotivo à Fundação AIS que permitiu que a reconstrução da sua casa fosse possível. No dia em que entraram de novo em casa, os sinos da igreja voltaram a tocar, como se a aldeia inteira estivesse ali a acolher os seus filhos de volta. O “muito obrigado” de Samer dirige-se a todos os benfeitores e amigos da Fundação AIS que nunca deixaram, com a sua generosidade, que estes milhares de cristãos perdessem a esperança de refazer as suas vidas, apesar de todo o sofrimento por que passaram. E Samer voltou a sonhar…
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