Lisboa |
Miradouro da torre sineira da igreja de Santa Cruz do Castelo
Mais do que uma nova vista
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A cidade de Lisboa tem um novo miradouro. A torre sineira da igreja de Santa Cruz do Castelo abriu as portas no dia 7 de junho a todos os turistas e moradores. Apesar da vista, o objetivo é outro: manter a igreja aberta, para que todas as pessoas “se possam encontrar com Deus”, conta o pároco, padre Edgar Clara.

 

É numa das mais antigas igrejas de Lisboa que, desde o passado dia 7 de junho, se pode ter uma vista inédita sobre a cidade e o rio. Em plena época de festas populares, a torre sineira da igreja de Santa Cruz do Castelo abriu ao público e, especialmente, aos moradores daquele bairro lisboeta. Para o pároco, padre Edgar Clara, existe certamente um fim turístico neste projeto, mas o objetivo não é esse. “A mim, interessa-me sobretudo a parte espiritual. Ao desenvolvermos este projeto com a empresa Signinum, quis garantir que aqueles que se apresentassem no templo para rezar ou, para apenas descansar, pudessem entrar de forma gratuita”, explicou o sacerdote, na cerimónia de bênção e inauguração da obra. Com esta atração turística, a igreja de Santa Cruz do Castelo deixa de estar aberta uma hora por semana, para a Missa ao sábado, e passa a estar aberta 12 horas por dia, no verão, e 8 horas diárias, no inverno. Assim, “os habitantes do Castelo e os turistas poderão vir rezar, desabafar ou descansar”, afirmou o pároco, que também acenou com a recuperação do toque dos sinos, diariamente, ao meio-dia, para a oração do Angelus.

Dentro da igreja, o património que está disponível para uma “visita interpretativa” apresenta pinturas – quase desconhecidas – de Pedro Alexandrino, uma imagem de Santa Helena ou uma escultura da Santíssima Trindade, do século XV. Mas há muito mais para ver e explicar, garante o padre Edgar Clara. Para assegurar o funcionamento das visitas, a igreja do Castelo conta com a colaboração de uma equipa de oito jovens licenciados em áreas como História, Museologia, Gestão de Património, Turismo e Design.

 

‘Toca e foge’

Com vista desde a Graça até à outra margem, a torre sineira da igreja de Santa Cruz do Castelo está situada junto à muralha, no topo da encosta, bem no epicentro dos problemas de afastamento da população local, ao ritmo das condições ditadas pelo turismo. Lembrando que a saída da maioria das pessoas já começou há quase 20 anos, com o intuito de se fazerem obras nas casas, o padre Edgar Clara confirma que os casos recentes obrigam a olhar de outro modo para esta zona da cidade. “Há cinco anos, quando cheguei, havia turistas, mas não em tão grande número. Os habitantes estão cansados de tanta gente e, acima de tudo, começam a ficar sozinhos”, refere o pároco da Paróquia do Castelo, atualmente com cerca de 40 a 50 habitantes ditos “tradicionais”. Estes números levam o sacerdote a pensar numa “pastoral de ‘toca e foge’”, isto é, “acolher as pessoas, poder assisti-las nas necessidades espirituais, sabendo que no dia seguinte já ali não estão”.

Dos habitantes, cerca de metade esteve presente na celebração de bênção do miradouro. “Muitas pessoas, depois da celebração, disseram-me que, em 40 anos, nunca ali tinham entrado e nem sabiam o que lá existia”, revelou o padre Edgar Clara, em declarações ao Jornal VOZ DA VERDADE.

 

Envolvimento

Juntamente com a Paróquia do Castelo, o padre Edgar é, atualmente, pároco de Santiago, Socorro e São Cristóvão – com esta última a ter iniciado, há pouco tempo, as obras de recuperação do exterior e do telhado do templo. Habituado, por isso, a mobilizar a população para o apoio à recuperação do património, o sacerdote aponta o “envolvimento comunitário” como essencial para o andamento dos projetos. “Não posso trabalhar só com as pessoas que estão dentro da Igreja. Tenho que trabalhar também com aqueles a quem a religião não lhes diz nada. Há património que tenho nas minhas paróquias que interessam a gente mais diversa. Por exemplo, um ateu pode não ter sensibilidade religiosa, mas tem sensibilidade cultural e sabe que aquele espaço deve ser mantido, deve ser projetado para o futuro, deve ser arranjado”, explica o padre Edgar, salientando que, em qualquer projeto, o mais importante é “não se perder a nossa identidade católica”.

 

Acolher

A abertura do miradouro da torre sineira da igreja de Santa Cruz do Castelo veio permitir manter a igreja aberta durante o dia e custear as obras de reparação exterior do templo, realizadas em 2013. Contudo, é o facto de ter a igreja aberta, levando as pessoas a “encontrarem-se com Deus”, que garante a “continuidade do projeto”, afirma o padre Edgar Clara. “A ideia é que em todas as ações que fazemos, possa haver esta preocupação de acolher as pessoas, manter o respeito dentro do espaço, fazermos visitas interpretativas, e que possam permitir às pessoas terem uma vista que não existe noutro lugar da cidade. Isto tudo tem um objetivo principal que é o de levar as pessoas a conhecerem Jesus”, refere o padre Edgar, desejando ter naquele espaço de culto maior ‘oferta’ para o trabalho pastoral. “Gostava muito de ter a Igreja, ela própria, a acolher as pessoas, e não funcionários. Gostaria de falar com as pessoas e atendê-las na confissão. Para já, não é possível, mas penso que dar um cunho mais pastoral a este projeto será o futuro”, aponta.

 

À primeira vista

No passado dia 7 de junho, na sessão de inauguração e bênção do miradouro da torre sineira da igreja de Santa Cruz do Castelo, o responsável da empresa Signinum, encarregue das obras de recuperação e gestão daquele espaço, Luís Aguiar Campos, recordou como o projeto começou, há três anos atrás. “Foi a vista magnifica sobre o Rio Tejo que nos motivou para lançarmos o projeto. Foi um amor à primeira vista”, assegurou este responsável, que explicou também como funciona esta atração turística. O espaço que permite o acesso à torre está situado junto ao templo e, no mesmo local, vai funcionar também uma loja com vários materiais de merchandising próprio para venda. A torre da igreja de Santa Cruz do Castelo estará aberta diariamente para visitas, a partir das 9h00, e tem encerramento previsto para as 21h00, no verão, ou 18h00, no inverno. As “visitas interpretativas”, disponíveis em vários idiomas e em linguagem gestual, decorrem em dois horários fixos, durante 30 minutos, de manhã e à tarde, sendo possível, através do site www.torredaigrejadocastelo.pt, reservar os lugares.

Para qualquer visitante, o custo do bilhete normal é de 3,5¤ e há ainda um bilhete prioritário, de 5¤, que permite não ter de esperar na fila para subir à torre. O acesso será sempre gratuito para os habitantes da Paróquia do Castelo, bem como para sacerdotes e jornalistas.

Segundo Luís Aguiar Campos, estão previstas mais iniciativas para este “espaço obrigatório de visita”, tais como “workshops, ateliers com crianças e pessoas com mais idade”. No primeiro fim de semana após a inauguração, o miradouro recebeu cerca de 250 visitas.

 

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“A persistência da memória cristã da nossa cidade”

Na bênção e inauguração do miradouro da igreja de Santa Cruz do Castelo, D. Manuel Clemente parabenizou o “empenho, a criatividade e a persistência” que levou à recuperação daquele espaço, “mesmo no coração histórico de Lisboa”, e definiu-o, juntamente com outros espaços religiosos, como exemplo “do melhor que a nossa cidade tem”. Contudo, para o Cardeal-Patriarca de Lisboa, esta obra deve ser “mais do que uma recordação”. “Tem que ser uma vivência e uma convivência que tantos sinais, de tanta beleza, agora reencontrada e quase transfigurada, nos apresentam”, desejou D. Manuel Clemente.

Na sessão de bênção das instalações, o Cardeal-Patriarca destacou a importância da população local que, mesmo fazendo face à desertificação do centro histórico, ditado pelo turismo, continua a ser quem “transporta a tradição cristã deste lugar”. “Isto está para continuar e com tantas vicissitudes que este espaço da nossa cidade já teve, desde a Idade Média, com um terramoto, a reedificação e agora, até aos nossos dias, com estas modificações que a pressão turística também traz, com tudo isto, esta persistência populacional é também a persistência desta memória viva, e da memória cristã da nossa cidade. Assim, estamos a criar futuro, porque aquilo que nós guardamos do passado não é passadismo, é futuro”, sublinhou D. Manuel Clemente.

 

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Miradouro da torre sineira da igreja de Santa Cruz do Castelo

Largo de Santa Cruz do Castelo, 1100-477 LISBOA

215998801 / www.torredaigrejadocastelo.pt

VISITAS: todos os dias, das 9h00 às 18h00 (inverno) ou 21h00 (verão).

PREÇO: o bilhete normal custa 3,5¤; o bilhete prioritário custa 5¤ e permite não esperar na fila para subir à torre. O acesso será sempre gratuito para os habitantes da Paróquia do Castelo, bem como para sacerdotes e jornalistas.

texto por Filipe Teixeira; fotos por Diogo Paiva Brandão
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