Mais uma vez a Igreja celebrou o Dia Mundial do Migrante e Refugiado. A OCPM, a Caritas e a Agência Ecclesia promoveram o XVIII Encontro de Agentes Sociopastorais das Migrações, em Alfragide, nos dias 12 a 14 de Janeiro, com vista a despertar consciências e promover relações mais estreitas entre as populações em mobilidade e as comunidades locais.
Insistir a tempo e fora de tempo
O Papa Francisco, na Mensagem para este dia, continua a não dar tréguas ao apelo para que saibamos interpretar os sinais dos tempos para criar uma “cultura do encontro” e ir afastando a “globalização da indiferença”. Tendo optado por escolher Lampedusa como destino da sua primeira visita fora do Vaticano, deu um sinal que continua a confirmar-se; não por qualquer opção ideológica, mas por causa da fé radicada na Palavra de Deus que já no Antigo Testamento apresentava o autêntico culto a Deus condicionado pelo respeito e pela cuidado do outro, sobretudo do mais fragilizado, como é o caso do imigrante: “O estrangeiro que reside convosco será tratado como um dos vossos compatriotas e amá-lo-ás como a ti mesmo, porque foste estrangeiro na terra do Egito.” (Lv 19,34)
Aos participantes no encontro, Martina Liebsch, Diretora de Campanhas da Caritas Internacional, lembrou que atualmente existem 63 muros finalizados ou projetados, todos eles com o medo como alicerce. “O medo é o cimento que os mantem de pé”. No mundo há quatro vezes mais muros do que quando caiu o “Muro da Vergonha” de Berlim em 1989. A falta de vergonha continua a marcar pontos.
Não a um presente sem futuro
As pessoas anseiam por um futuro melhor e pedem a Deus que isso aconteça. Mas Deus não substitui a criatura a quem deu inteligência e vontade para construir a sua felicidade. Disse Martina: “Para alguém que tem acompanhado o tema das migrações há mais de trinta anos não é fácil encontrar algo de novo. É um fenómeno que tem acompanhado toda a humanidade, mas que nos custa aceitar. Por quê? Porque nos custa dinheiro ou mexe com os nossos privilégios?” É interessante verificar que na partilha de testemunhos se pode concluir que, quando alguém se aproxima do outro com espírito limpo e coração sincero, os muros que mentalmente se foram levantando desfazem-se como as nuvens. Aquela imagem que capta o campo de golf confinando com as vedações de aço, em cima das quais jazem encavalitados homens que tentam chegar ao lado de lá, ainda que esse seja apenas mais um passo de uma aventura que pode terminar em tragédia, exprime a insensibilidade perante o óbvio: como é possível que humanos possam viver felizes vendo ao lado pessoas a quem são negados direitos tão básicos?
Recordo as palavras do Arcebispo de Tanger, D. Santiago Agrelo, que bem conhece a situação dos refugiados acampados nos bosques circundantes da fronteira de Tarajal: “Não podemos tirar-lhes o sonho; nem pô-los a sonhar; somente estar a seu lado. Que na Igreja de Tânger encontrem uma casa de família”. Ele conhece a fronteira invisível, mas bem real, que existe entre a liberdade e a escravidão, entre a saúde e a doença, entre a justiça e a iniquidade, entre a vida e a morte. Ele denuncia e rejeita uma política que se preocupa demasiado com fronteiras e muito pouco com as pessoas, aquelas pessoas empobrecidas e condenadas à exclusão, à doença, à escravidão, à prostituição, ao sofrimento em todos os casos e, com uma inaceitável frequência, à morte.
Onde está o teu irmão?
D. Santiago falava de milhares de condenações à morte sem julgamento prévio. E os países ditos civilizados ficam serenos como que se nada fosse com eles. Pensamos nos sírios, nos iraquianos, nos rohingyas, nos nigerianos; mas há ainda muitos outros como os mexicanos ou os venezuelanos (entre os quais muitos milhares de portugueses, que de um momento para o outro foram despojados dos frutos de uma vida de trabalhos e de sonhos). A Mensagem do Papa aponta quatro atitudes para os encararmos: acolher, proteger, promover e integrar. A campanha da Caritas Internacional “Share the Journey” (Partilha a Viagem) propõe-nos essas atitudes como contributo para a solução de um problema que poderá transformar-se numa oportunidade de enriquecimento mútuo. Ao contrário, é trágico quando se fecham os ouvidos à interpelação de Deus a Caim: “Onde está o teu irmão?”
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