“Que ninguém ficasse sozinho na Noite de Natal, que ninguém ficasse arredado da festa do Nascimento daquele que é o fundamento de toda a Vida”. Foi com este objetivo que a Paróquia do Bairro Padre Cruz, em Lisboa, organizou o jantar de Natal direcionado para as pessoas deste bairro que vivem em situação de isolamento e fragilidade social. “Não será um gesto inédito, mas é certamente um gesto carregado de sentido e que desafiou a repensar o verdadeiro espirito de comunidade, de proximidade e de cuidado ao próximo, feito irmão, afinal, no próprio Jesus Cristo”, assinala uma nota.

Testemunho completo:

Não será um gesto inédito, mas é certamente um gesto carregado de sentido e que desafiou os cristãos da Comunidade Paroquial do Bairro Padre Cruz a repensar o verdadeiro espirito de comunidade, de proximidade e de cuidado ao próximo, feito irmão, afinal, no próprio Jesus Cristo.

Um espírito que se parece ir gradualmente perdendo na grande cidade, dando lugar a situações de isolamento e de solidão, fundo último da condição humana.

Que ninguém ficasse sozinho na Noite de Natal, que ninguém ficasse arredado da festa do Nascimento daquele que é o fundamento de toda a Vida. Era este o lema assumido por cada um dos envolvidos neste projeto paroquial, que aconteceu no maior Bairro Social da Europa.

Com o apoio, a parceria e o envolvimento direto da Junta de Freguesia de Carnide a Comunidade Paroquial do Bairro Padre Cruz procurou identificar situações de pessoas que, particularmente naquela noite, e naquela freguesia, estivessem a viver em solidão ou a experimentar situações de fragilidade social e a todos quis acolher num jantar familiar e comunitário, que promoveu nas suas instalações.

Um jantar totalmente confecionado com os temperos da solidariedade humana e da fraternidade cristã. 

Providenciaram-se meios que ajudassem as pessoas com dificuldade de locomoção a deslocar-se das suas casas até à Igreja e a regressar a elas ao final da noite; providenciaram-se viaturas, recursos humanos, cadeiras de rodas... e, fundamentalmente, providenciaram-se corações disponíveis para acolher.

Promoveram-se condições para que aquelas pessoas que, após o jantar, desejassem participar na Eucaristia o pudessem fazer de forma cómoda e afetuosa, e os que não desejassem participar continuassem acompanhados durante toda a noite.  Em momento algum se daria espaço à solidão.

Promoveram-se condições para que, após a eucaristia, todos se voltassem a reunir para um tempo de ceia e de convívio. Mais velhos e mais novos, homens e mulheres, crentes ou não crentes, todos juntos numa experiência de relação humana e de cumplicidade de vidas em partilha.

Promoveu-se animação, afeto, presença genuína. 

Houve também espaço – reencontrando-se com as práticas tradicionais – para a oferta a cada uma das pessoas presentes de pequenas mas significativas lembranças por parte da Junta de Freguesia de Carnide e de pequenas peças artesanais e individualizadas confecionadas por uma voluntária desta Paróquia.

Promoveu-se, no fundo, condições de proximidade e de afetação calorosa para que a presença desta noite se prolongue pelas demais noites fora.

De sublinhar também que, nesta iniciativa, a própria comunidade Paroquial viveu a experiência autêntica de um milagre de Natal. Perante as dificuldades que vinha sentido de mobilizar elementos em número suficiente que pudessem corporizar as capacidades humanas deste projeto, eis que começou a ser surpreendida com o contacto e a adesão inesperada e inusitada de vários jovens, vindos um pouco de todo o lado, que, não sendo sequer habituais nesta Paróquia  (ou alguns deles não tendo sequer identidade confessional), se quiseram a ela associar, porque desejavam dar sentido ao seu Natal ou porque sabiam, na primeira pessoa, o que é a experiência da deslocalização ou da distância das suas terras de origem e daqueles que amam. Jovens voluntários que vieram de mais perto, de Lisboa ou Venda do Pinheiro, ou que vieram de mais longe, do Azerbaijão ou Eslovénia...

E a noite foi de luz. A noite foi de Natal. A noite foi de irmãos!

No final da noite, na consciência dos participantes o lema havia mudado: Que ninguém fique sozinho! Que a solidão não se imponha! Que o vazio não anule e o comodismo nem aniquile a ação. Nem hoje nem nunca!