A igreja do Convento da Luz, em Carnide, completou 50 anos. Ao Jornal VOZ DA VERDADE, o superior da comunidade, padre João Lourenço, explica os critérios que marcaram a construção do templo e as respostas pastorais e culturais que a igreja e o Convento da Luz – onde está inserido – vieram trazer à comunidade paroquial local e não só.
Mesmo ao lado do atual Convento da Luz, em Carnide, onde funcionou, em tempos, um Seminário, foi construída, em 1967, uma igreja que vinha responder aos “ventos de mudança” trazidos pelo Concílio Vaticano II. A igreja “foi construída naquilo que era um espaço complementar, uma casa de alfaias dos funcionários encarregados da manutenção do palácio”, explica ao Jornal VOZ DA VERDADE o superior da comunidade franciscana que ali vive, padre João Lourenço. Foi construída já numa “perspectiva de renovação conciliar do Vaticano II, no espírito da constituição ‘Sacrosanctum Concilium’, que solicita que a centralidade da igreja resida sobre o altar para a celebração. A sua construção decorreu num tempo em que o ‘Seminário das Missões Franciscanas’ – nome “oficial” que ainda hoje o convento mantém – tinha muitos formandos, teólogos e seminaristas e, por isso, uma parte era destinada à comunidade e outra aos fiéis. Estas duas dimensões da assistência tinham em comum a centralidade do altar”, releva o sacerdote franciscano, salientando as duas marcas arquitectónicas que estão presentes no templo que assinalou os 50 anos da sua inauguração na Festa Solene da Padroeira, Imaculada Conceição, no passado dia 8 de dezembro: “A primeira, o painel dedicado à Imaculada Conceição, junto do sacrário. Depois, um conjunto de vitrais que procuram traduzir plasticamente aquilo que é o ‘cântico das criaturas’ de São Francisco”.
Apoio à paróquia
A instalação da comunidade franciscana no Convento da Luz deu-se após a compra do palacete, em 1939. Desde então passariam a ter o encargo de serem párocos da Paróquia de Carnide, cuja igreja paroquial se situa a poucos metros do convento. A proximidade, a construção da igreja e a disponibilidade do Convento da Luz vieram “reforçar as respostas pastorais” da própria paróquia local e até de outras, vizinhas.
Nascido em Braga, em 1948, o padre João Lourenço veio para Lisboa em 1970 e, já nesse ano, viu o Seminário da Luz como “grande espaço de acolhimento de organismos da Paróquia de Carnide, que tinha instalações muito frágeis e residuais”. Atualmente como então, “a igreja da Luz serve para as grandes celebrações da paróquia, porque tem mais espaço”. “Outras paróquias e movimentos também utilizam muito as instalações do convento para encontros de preparação, por exemplo. É um apoio à vida paroquial com uma inserção local muito significativa, ativa, que complementa a paróquia em termos de atividades pastorais”, refere o sacerdote franciscano.
Ao Domingo, pelas 11h00, a igreja do Convento da Luz enche-se, com mais de 500 pessoas, para a Missa. “Creio que a razão da participação das pessoas prende-se com a centralidade, a possibilidade de haver sempre espaço para estacionamento, a beleza da igreja, a comodidade, o carisma franciscano e até o próprio canto. Isto atrai bastante”, sublinha o franciscano que é o “guardião do convento”.
Dois rostos
Até 1995, o antigo palacete junto ao Largo da Luz alojou a formação de vários seminaristas da Ordem dos Frades Menores. Após a transferência da formação para Braga, em meados da década de 90, a utilização do atual edifício cor de rosa destina-se à Cúria Provincial desta Ordem, mas também ao alojamento dos sacerdotes franciscanos que servem as paróquias de Carnide, Pontinha e do Bairro Padre Cruz e dos frades que trabalham no Externato da Luz, em espaço anexo. “Temos também a enfermaria provincial, que é também um lar onde estão vários irmãos já mais idosos, a biblioteca provincial, com um depósito assinalável de dezenas de milhares de livros, o arquivo provincial, com toda a documentação histórica, o Comissariado da Terra Santa, uma Delegação da Editorial Franciscana e o Centro Cultural Franciscano”, descreve o padre João Lourenço.
“Costumo dizer que esta comunidade tem, para além dos serviços que presta, dois rostos públicos: a igreja e o Centro Cultural. A igreja no que é a função específica do culto; o Centro Cultural naquilo que é a função específica da cultura e proporcionando espaços e infraestruturas a um conjunto de atividades das paróquias, tais como festas da catequese ou de escuteiros, por exemplo”, refere o sacerdote, sublinhando a “relação muito estreita” que existe com as paróquias locais. “Há uma relação que se tem intensificado nestes últimos anos entre a função pastoral do seminário e as paróquias. Procuramos fazer atividades conjuntas, programando-as. O centro é uma espécie de polo agregador dessas atividades e fornece infraestruturas para isso. Realizamos também um conjunto de atividades mais de natureza global, de rosto exterior, tais como teatros, ballet, conferências, cursos, simpósios. O Centro Cultural tem também anexo um espaço museológico, onde o acervo cultural da província está agora em processo de instalação”, descreve o padre João Lourenço.
Fazer memória
Outra valência do Centro Cultural Franciscano é a realização de exposições. Para assinalar os 50 anos da igreja do Convento da Luz, a congregação franciscana organizou uma exposição que homenageia o padre frei António Pereira da Silva que, durante 32 anos, foi o Comissário da Custódia da Terra Santa (ver caixa), um cargo que tem como objetivo “zelar pelos interesses e fazer a ponte, motivar”, explica o padre João Lourenço. “Este meu confrade, que faleceu em 2012, foi um grande paladino porque antigamente a visita à Terra Santa era uma coisa rara. Foi com ele que, em Portugal, a Terra Santa se redescobriu um bocadinho”, conta, lembrando que o seu confrade, antes de morrer, estimou ter levado cerca de 9000 peregrinos a visitar os locais santos. Esta exposição, agora inaugurada, dá a conhecer as marcas desta história e expõe objetos que estão relacionados com a Terra Santa.
Servir a comunidade
Segundo o padre João Lourenço, a igreja do Convento da Luz vai continuar a ter como objetivo “oferecer serviços de culto de qualidade, procurando agregar também alguma dimensão cultural”. “O objetivo é tornar o espaço da igreja mais próximo da comunidade local, das paróquias para quem trabalhamos”. Quanto ao convento, o objetivo é “preservar o património artístico da província, mas também ser um elo vivo de evangelização, quer através da cultura, quer através do apoio que damos ao Externato da Luz, quer agregando, acolhendo, com qualidade e disponibilidade, as instituições que nos procuram para que, a partir das estruturas que temos, possamos servir a comunidade”, deseja o superior da comunidade franciscana da Luz.
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A “força desarmada da oração” como caminho para a paz em Jerusalém
Por ocasião da comemoração do 50º aniversário da igreja do Convento da Luz, o atual Custódio da Terra Santa, frei Francesco Patton, esteve em Lisboa, onde apresentou a presença da Custódia e dos cristãos na Terra Santa e no Médio Oriente. Numa conferência que proferiu no passado sábado, dia 9 de dezembro, no Centro Cultural Franciscano, frei Francesco apontou a “força desarmada da oração” como caminho para a paz. “Creio que Portugal, com a mensagem de Fátima, pode compreender bem que a paz não se constrói com os exércitos e com as armas, não passa somente pela diplomacia, mas exige uma mudança profunda de mentalidade e vida que se chama conversão, e que é promovida principalmente pela força desarmada da oração”, referiu.
Face à recente decisão do presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, de mudar a embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém, que tem provocado momentos de grande tensão naquela região, o Custódio da Terra Santa, em declarações à Agência Ecclesia, lembrou as palavras do Papa Francisco e apelou à “prudência e sabedoria” nas tomadas de decisões. “Esperemos que não aconteçam atos de violência excessiva e por muito tempo, que os peregrinos venham e que a sua vinda contribua para superar este tipo de situações”, desejou.
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O que é a Custódia da Terra Santa?
Chama-se Custódia da Terra Santa ao conjunto da missão franciscana, dedicada aos lugares santos. ‘Custódia’ vem da palavra do latim custodiam, que significa ‘guardar’. É uma missão confiada aos franciscanos, pelo Papa, desde 1217 – há precisamente 800 anos. Tem como objetivo guardar, zelar, acolher, manter os lugares onde decorreu a vida de Jesus, mas não só. Atualmente os cerca de 270 frades que fazem parte desta missão, em 54 lugares, têm também o encargo de cuidar das comunidades vivas. A criação de condições para que as comunidades cristãs não emigrem tem sido uma das preocupações desta missão, garantindo um parque imobiliário para que famílias cristãs com carências possam aí habitar pagando rendas muito simbólicas. Outra das faces desta missão é a criação e manutenção de escolas com currículos acessíveis a cristãos, muçulmanos, hebreus e instituições de ensino superior.
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