2 – Chegados às diferentes povoações visitadas, há um País que é formado por pessoas concretas, por famílias, por pequenas unidades económicas que têm uma entrega comovente ao que fazem diariamente. O pequeno comércio que se orgulha de oferecer ao cliente o bom queijo, os enchidos ou as peles curtidas. Os estudantes da Covilhã que, em grupos, exibem perante os pares as suas proezas ou procuram forças. O lagar de azeite onde centenas e centenas de sacos despejam a azeitona na passadeira a caminho do lagar que dará o “fio de ouro”, precioso, com que havemos de temperar o bacalhau. O cheiro do lagar invade as narinas de quem lhe é alheio. Ao lado, vemos o azeite que tanto nos identifica, a sala que o promove em garrafas com um rótulo de bom “design” acompanhado de outros “mimos” (os doces) da região.
3 – Por vezes, a nostalgia da desertificação invade-nos, como em Idanha-a-Velha, onde as memórias de Romanos, de vila Medieval e de um passado de décadas recentes e florescentes é hoje, pouco mais do que o amontoado de pedras a quem perguntamos – o que nos queres dizer? E estas aguardam que um qualquer Programa Europeu de financiamento da cultura venha dar-lhes voz.
4 – Nestes dias ouvem-se notícias estridentes, que nada relevam naquelas paragens, onde o sol se levanta atrás das serras para quebrar o gelo que cobre a rocha e permite que cada dia seja vivido com uma intensidade humana que ofusca aquelas ideologias noticiadas, algumas insensatas e até desumanas.
5 – Corre pouca, muito pouca água nos rios e riachos, mas há uma força humana que todos os dias se levanta para construir, para ser gente. Seja em que circunstância for, desde que com dignidade. No café de uma aldeia, o filho do dono, com pouco mais de 20 anos e portador de trissomia 21 – o “Luís” – serve os cafés, recebe o pagamento e fala com alegria aos clientes. Comovente!
6 – A vida é profundamente marcada pelo ambiente que nos é dado. E este serve a Vida de todos numa hipoteca recíproca e permanente entre o dar e o receber, que gera a felicidade de cada ser humano. Dificuldades? Muitas, com toda a certeza. Tal como existem nos “melhores bairros” de Lisboa ou do Porto. Entre o jovem “Luís” do café que atende os clientes e o estagiário de advocacia que num grande escritório de Lisboa preenche formulários judiciais, há o mesmo desejo. Há um coração que bate por uma vida que em cada minuto se completa.
7 – Num tempo em que aparecem as qualificações e quantificações de vidas úteis, inúteis ou menos úteis, e em face disso ditam-se Leis, importa que se olhe a Realidade. Qual o papel de quem tem obrigações colectivas para com o “Mar de Fogo” que varreu tantas encostas e planícies mas também como respeitar, apoiar, incentivar quem ao Lagar de Azeite chega com centenas de quilos de azeitonas que, feitas azeite, vão iluminar a Ceia do próximo Natal em tantas casas, no seio de tantas Famílias.
A vida real é muito bonita, porque esta nos remete para o Natal.