Sem título próprio, o Papa Francisco tornou-se presente na Cimeira do G20 por meio de uma mensagem aos participantes reunidos em Hamburgo, nos dias 7 e 8 de Julho. Com a autoridade moral que lhe advém da sua missão de pastor, quis ser a voz dos que não têm voz no concerto das nações. Apontou princípios de ação para construir uma sociedade fraterna, justa e pacífica.
Os poderosos juntam-se
Vem de 1975, por iniciativa de Giscard d’Estaing, a prática de os chefes de Estado e do Governo se reunirem com os seus conselheiros para discutirem questões de interesse comum num ambiente desburocratizado e descontraído. Na altura eram apenas seis: França, Alemanha, EUA, Reino Unido, Japão e Itália; já no ano seguinte o Canadá foi convidado a integrar o grupo; em 1997 juntou-se a Rússia e, em 1999, foi decido fundar o chamado G20, representando as maiores economias do mundo, como espaço para debate de assuntos políticos, financeiros, sociais e ambientais.
O papel da Igreja
Quando Pedro e João subiram ao Templo, encontraram um aleijado que “com os olhos fixos neles, esperava receber qualquer coisa”. É então que Pedro lhe diz: “Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho isto te dou: em nome de Jesus de Nazaré, levanta-se e anda” (Act 3,6). Não pode ser outro o caminho a seguir por aquele que continua a missão de Pedro. Por isso o Papa se fez presente nesta Cimeira, através de uma mensagem dirigida à anfitriã Angela Merkel. Ele o faz, não como mais um poderoso em territórios, forças armadas ou poderio económico e financeiro; apenas como alguém que, como membro da família humana, e com a convicção de que Deus quer a vida para todos, apresenta a exigência fundamental apresentada pelo Mestre: que todos tenham vida e vida em abundância.
Começa por manifestar apreço pelos esforços feitos em ordem à governabilidade e estabilidade da economia mundial e a um crescimento inclusivo e sustentável. Mas recorda que esses esforços são inseparáveis da atenção aos conflitos e ao problema das migrações, porque esse drama é inseparável da pobreza e exacerbado pelas guerras. São claras as suas palavras: “é necessário dar prioridade absoluta aos pobres, aos refugiados, aos deslocados e aos excluídos, sem distinção de nação, raça, religião ou cultura, e rejeitar conflitos armados.” E aproveita para apontar o dedo a emergências que não podem esperar por resposta, apelando aos presentes e a toda a comunidade internacional para a trágica situação do Sudão do Sul, nos Grandes Lagos, no Chade, no Corno de África, no Iémen, “onde 30 milhões de pessoas não têm alimento e água para sobreviver.”
Quanto aos conflitos afirma que “a guerra jamais é a solução”; como que faz eco da afirmação do seu antecessor João Paulo II, e por ele mesmo repetida, de que “A guerra é uma derrota para a Humanidade”. Perante um fórum tão seleto não se inibe de afirmar: “É uma trágica contradição e incoerência a aparente unidade em fóruns económicos e sociais e a persistência de conflitos bélicos”.
Perante as novas ideologias da autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira, que deixam atrás de si um rasto de exclusão, de descarte e de morte, ele pede a Deus “que a Cimeira de Hamburgo seja iluminada pelo exemplo de líderes europeus e mundiais que privilegiaram o diálogo e a busca de soluções comuns.” Repete como que o “leitmotiv” do seu ensino social.
Toca também num ponto sensível ao referir que é preciso ter uma visão ampla e considerar as repercussões em todos os países, não só nos que fazem parte do grupo, tendo em conta que é sobre as nações sem voz e seus habitantes que recaem os efeitos das crises económicas. Para bom entendedor ele foi claro ao rejeitar a posição dos que repetem constantemente que o seu país está primeiro – “first”, sem ter em conta que os outros também contam. Ele dá voz aos sem voz.
Linhas de ação também para nós
Quando atendemos às expressões utilizadas na mensagem, como “massacres inúteis” ou “envolvimento direto ou indireto nos conflitos”, ou “corrida aos armamentos” e verificamos como tudo isso continua a acontecer, poderemos perguntar: será que estas palavras vão ter algum efeito na mente e na vontade desses poderosos? Sem responder, creio que a mensagem ao G20, também é uma mensagem e um apelo para nós. O mundo só vai mudando quando cada um faz alguma coisa para que isso aconteça.
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