É a casa onde o Cardeal-Patriarca residiu, nos anos 60, enquanto frequentou o liceu e a faculdade, antes da entrada no seminário. O Colégio Universitário Pio XII, em Lisboa, é uma obra dos Missionários Claretianos, com 60 anos, que quer continuar a formar jovens para serem “lucernas e archotes”, como pediu o fundador, padre Aguiar.
As prioridades do Colégio Universitário Pio XII, frequentado atualmente por 180 alunos de todo o país e das ex-colónias, são “o acolhimento, o acompanhamento e a iluminação”. “O acolhimento é uma dimensão em termos humanos, de proporcionar as condições de habitação e de alojamento que são necessárias; o acompanhamento insere-se numa perspetiva de crescimento pessoal, de estar muito próximo dos jovens; e a iluminação, ou seja, a dimensão mais pastoral, que é sempre um desafio no meio universitário”, descreve ao Jornal VOZ DA VERDADE o diretor do colégio universitário, padre Carlos Ângelo da Silva Ferreira.
Fundado em 1957, pelo padre Joaquim António de Aguiar, o ‘Pio 12’, como é carinhosamente tratado, recebeu em 1964 o então jovem Manuel Clemente, natural de Torres Vedras e, à época com 16 anos, ainda a frequentar o liceu. O futuro Cardeal-Patriarca, que esteve presente na festa dos 60 anos do colégio universitário, no passado dia 27 de maio, matriculou-se em Direito, mas acabou por se formar em História, na Faculdade de Letras de Lisboa, em 1973, tendo residido por diversos anos nesta casa. Nestas seis décadas a acolher os jovens, o Colégio Universitário Pio XII tem procurado ser mais do que um simples lar ou república de estudantes, apostando no acompanhamento, segundo o diretor. “No início do ano falei individualmente com todos os alunos, quando chegaram ao colégio, procurando saber as expetativas, quais os seus projetos, quais as ambições e sonhos. Isso repete-se depois, ao longo do ano, também para saber como vão as evoluções”, refere o padre Carlos, que é diretor do ‘Pio 12’ desde setembro do ano passado – após três anos como subdiretor – e sucedeu ao padre António Oliveira, que esteve à frente do colégio entre 1989 e 2016.
Liberdade e responsabilidade
Pertencente à Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria (Claretianos), o Colégio Universitário Pio XII, situado na Avenida das Forças Armadas, em Lisboa, tem atualmente ‘casa cheia’, com 180 alunos, entre os 17/18 anos e os 23/24. “Cerca de 99 por cento dos alunos são de fora de Lisboa – temos um ou outro caso de famílias de Lisboa que estão no estrangeiro e têm cá algum filho –, e é muito diversificada a origem dos rapazes: temos jovens de Trás-os-Montes, do Minho, das Beiras, Alentejo, Algarve, Madeira, Açores… de todos os lados. Depois também há estudantes de Angola, que é um número ainda considerável e são sobretudo jovens com mais idade, que veem para Lisboa fazer a especialização. É uma tradição que esta casa sempre teve, neste sentido de acolher jovens das antigas colónias”, explica o diretor do colégio.
O dia-a-dia no Colégio Universitário Pio XII tem duas fases distintas. Se as manhãs e tardes são mais individuais, os responsáveis procuram que as noites sejam comunitárias. “Os momentos mais comunitários são ao fim do dia. Da parte da manhã e da parte da tarde, geralmente, cada um tem os seus horários, porque as faculdades e os cursos não coincidem e é um tempo mais individual, porque os rapazes ou estão no seu trabalho de estudo ou estão nas aulas, cada um com o seu ritmo. A partir do fim da tarde há sempre um momento desportivo, entre as 5 e as 7, o jantar é a refeição em que toda a comunidade se junta e depois há também o convívio, com atividades e acontecimentos diversos”, explica o diretor.
O padre Carlos garante que, desde há muitos anos, “ainda no tempo do padre Aguiar”, há um binómio que orienta os horários da casa: “liberdade e responsabilidade”. “Nesse sentido, não há uma hora obrigatória de recolher, mas temos sempre um funcionário na receção, 24 horas por dia”, refere.
Vida ‘paroquial’
Como colégio universitário católico, o ‘Pio 12’ procura dar a conhecer Deus aos seus alunos residentes. “Apostamos sobretudo numa proposta não só de vivência da fé, mas também, para muitos, de descoberta da fé. O nosso trabalho, no colégio, é muitas vezes uma pré-evangelização, ou seja, é criar as condições para que a fé possa nascer, possa despertar”, refere o padre Carlos Ângelo, lembrando o jovem universitário que foi batizado este ano. “Há dois ou três anos que um rapaz se vinha a preparar e agora fez a celebração do sacramento do Batismo”, salienta. O Colégio Universitário Pio XII propõe ainda “alguns momentos de retiro” e organiza “diversas conferências que procuram abranger um leque diversificado de temas e que inclui, também, a dimensão religiosa”. Este ano, segundo o diretor, “as propostas foram muito relacionadas com Fátima e com a vinda do Santo Padre ao nosso país”.
A igreja do Colégio Universitário Pio XII “não serve apenas a vida interna da casa” e é “aberta à comunidade circundante”. “Temos sempre Eucaristia diária às 8 horas da manhã e às 19 horas. Há estudantes que participam, sobretudo na celebração da tarde”, aponta o diretor, sublinhando que “ao fim-de-semana há ainda as celebrações dominicais”. Situado no espaço geográfico da Paróquia do Campo Grande, o ‘Pio 12’ tem ainda um agrupamento de escuteiros, o Agrupamento 541 com cerca de 120 elementos – “sendo que 80 deles têm menos de 14 anos” –, e um centro de catequese. “Para a catequese estamos articulados com a paróquia e, como temos um agrupamento de escuteiros, fazia sentido ter formação cristã no colégio, dirigida à população local”, refere o padre Carlos, salientando que “quem anda nos escuteiros tem também de frequentar a catequese”. “Procuramos criar uma dimensão de grupo, comunitária, e graças a Deus o agrupamento tem corrido bem porque temos chefes que, além da dimensão humana e social, têm uma formação cristã bastante sólida”, frisa. Os escuteiros e a catequese decorrem todos os sábados, da parte da tarde. “Os escuteiros têm as atividades a partir das 14 horas e a catequese inicia às 18 horas. Às 19 horas, é a Eucaristia”, partilha.
Presença que ilumine
Por não ter ajudas e apoios de qualquer tipo – “temos somente o contributo que os alunos fazem”, explica o diretor – há um investimento da Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria nesta obra universitária, “em especial quando são necessárias obras”.
Os Claretianos, a quem pertence o Colégio Universitário Pio XII, foram fundados por Santo António Maria Claret, sacerdote espanhol nascido na Catalunha (1807-1870), canonizado por Pio XII, a 7 de maio de 1950, no Vaticano, e que “tanto se preocupou com os problemas da educação da juventude e a evangelização da cultura”, de acordo com o site do colégio universitário (www.colegiopio12.com). O Colégio Universitário Pio XII “é uma obra fundamental para a congregação, não só na província portuguesa mas também em geral”, salienta o diretor. “Consideramos este âmbito da universidade, da pastoral universitária, como uma das dimensões fundamentais do nosso carisma e da nossa ação missionária. Uma presença que nós queremos que seja, cada vez mais, uma presença que ilumine e que ajude os jovens universitários, porque, como sabemos, as universidades são, muitas vezes, um meio longe do conhecimento da própria realidade da fé. Que possamos ser, neste meio universitário, um instrumento que possa ajudar a fazer com que estes jovens encontrem o seu caminho humano, mas também encontrem esta dimensão do encontro com Deus, um encontro espiritual e transcendente com Deus”, manifesta o sacerdote claretiano, padre Carlos Ângelo da Silva Ferreira, diretor do Colégio Universitário Pio XII.
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“Horizonte largo de presença humana”
Antigo aluno do Colégio Universitário Pio XII, o Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, esteve presente na sessão solene dos 60 anos da instituição e recordou o fundador, “o querido padre Joaquim António de Aguiar”, que “abriu o seu espírito ao humanismo cristão”. “Desde que o conheci, em meados dos anos 60, e depois ao longo da vida, que procurou proporcionar à juventude portuguesa, e não só, aqui, nesta casa, a possibilidade de se fortalecer e se formar um horizonte largo de presença humana e cristãmente identificada. Esta temática foi a vida do padre Aguiar”, apontou D. Manuel Clemente, no auditório do Colégio Universitário Pio XII, na manhã do passado dia 27 de maio.
O diretor da instituição, padre Carlos Ferreira, lembrou a expressão do padre Joaquim Aguiar, de que “são necessárias lucernas e archotes”. “Possam os atuais e antigos estudantes corresponder ao anseio do fundador, e ser hoje, na universidade e na sociedade em geral, lucernas e archotes que oferecem um pouco de luz ao caminho da vida”, desejou o sacerdote claretiano. Nesta cerimónia, onde esteve presente Adriano Moreira, atual conselheiro de Estado que foi amigo pessoal do padre Joaquim de Aguiar, o superior provincial dos Missionários Claretianos, padre Carlos Candeias, sublinhou que “o desafio desta instituição é ensinar a generosidade”. “Sermos audazes, relevar o amor pela verdade e promover o abnegado amor ao próximo”, salientou.
Após a sessão solene, na igreja do colégio, o Cardeal-Patriarca presidiu à Eucaristia. “Num dos seus últimos discursos, guardados no Evangelho de João, Jesus resume a sua vida assim: ‘Saí de Deus e vim ao mundo, agora deixo o mundo e vou para o Pai’. Esta saída para ir ao encontro do mundo, ao encontro dos outros… isto não vos faz lembrar o padre Aguiar? Ele tinha o mundo todo na sua consciência, com uma vontade muito grande de sair, de ir ao encontro e encontrar-se com outras culturas”, frisou D. Manuel Clemente.
As comemorações do centenário do padre Joaquim António de Aguiar e do 60º aniversário do Colégio Universitário Pio XII terminaram com um almoço convívio, no refeitório do colégio.
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Situada entre a Estrada da Circunvalação e a Avenida Dr. Alfredo Bensaúde, em Lisboa, junto ao Seminário dos Olivais, a ‘Rua Padre Joaquim Aguiar – Pedagogo (1915-2004)’ foi inaugurada oficialmente na manhã do passado dia 27 de maio. “Homem de Lisboa porque foi em Lisboa que viveu e foi a Lisboa que deixou o imenso legado que constitui a sua obra. As ruas desta cidade recordam a sua passada decidida e rápida, porque para o padre Aguiar o tempo era bem escasso e o servir os outros missão imperiosa”, referiu José Luís Seixas, antigo estudante do Colégio Universitário Pio XII, ao discursar em nome da família do ‘Pio 12’.
Busto do padre Joaquim António de Aguiar
A Galeria dos Diretores do Colégio Pio XII, junto da biblioteca, tem desde dia 27 de maio um busto do padre Aguiar, feito pelo escultor José Antunes, antigo estudante do colégio. “Em 1994, fiz um retrato do padre Aguiar e foi a primeira etapa do busto. Em 2015, por ocasião do centenário do nascimento do padre Aguiar, antigos alunos lembraram-se de fazer uma homenagem que contemplasse uma escultura. Procurei que o busto não ficasse com uma figura hierática, uma presença muito distante. Quis que o padre Aguiar ficasse recordado na escultura como eu o recordo: numa posição confiante e jovial”, manifestou o escultor.
Livro ‘Educação e Cidadania’
O livro ‘Educação e Cidadania - Em Memória do Padre Joaquim António de Aguiar, CMF’, dedicado à vida do sacerdote que foi o primeiro diretor do Colégio Pio XII, foi apresentado na sessão de dia 27 de maio e reúne contributos de antigos estudantes e de membros da direção do colégio, abarcando um vasto leque de áreas, nomeadamente o âmbito do Direito, da Saúde, da Educação, da Filosofia, da Ciência Política, da Economia. Coordenada pelo padre claretiano Jerónimo Trigo e por José Fontes, a obra publicada pela Almedina tem prefácio do Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, antigo estudante deste colégio universitário.
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