Doutrina social |
Sentinelas da madrugada
Sair em direção a todas as periferias
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Uma ameaça nuclear ligada ao conflito Coreia do Norte/Estados Unidos, o medo de uma nova “guerra fria” nas crispações entre Washington e Moscovo, o pavor da guerra da Síria que continua a somar mortos, a desconfiança que arde debaixo das cinzas do Afeganistão e do Iraque, os conflitos regionais em África onde a pessoa humana reduzida ao nível de lixo é joguete de fundamentalistas apoiados em poderosos que lhes fornecem armas, a instabilidade social na Venezuela e no Brasil, são situações que constituem como que uma nuvem carregada sob a qual tivemos a visita do Papa Francisco a falar de luz e de esperança.

 

Igreja sempre a renovar-se

Aquela perspetiva de quem vê a Igreja estática e pesada, não é a de quem olha para além do presente. Basta ficar na análise dos dias das nossas vidas, tendo como referência o Concílio do Vaticano II, para nos deixarmos surpreender pelos passos já dados, compreendendo as reações típicas dos que olham para as mudanças com a alegria de sentir que uma lufada de ar fresco revitaliza espaços bafientos que de Boa Notícia pouco têm, mas também compreendendo os que delas têm medo, receando o colapso da Igreja. A dicotomia Igreja/Mundo foi-se atenuando e a ideia de que a salvação é para todo o homem e para o homem todo foi ganhando espaço.

Quando atendemos à homilia do Papa Francisco na missa do dia 13 de Maio na Cova da Iria logo nos apercebemos da perspicácia com que, numa profunda sensibilidade para com a religiosidade popular, soube acentuar a centralidade de Jesus e a salvação (como vida em abundância) que Ele traz à humanidade.

 

A mensagem que deixou

Ele disse: “Quando Jesus subiu ao Céu, levou para junto do Pai Celeste a humanidade – que tinha assumido no seio da Virgem Mãe, e nunca mais a largará… Como uma âncora, fundeemos a nossa esperança nessa humanidade colocada nos céus à direita do Pai. Seja esta esperança a alavanca da vida de todos nós!”

E continuou: “Ele criou-nos como uma esperança para os outros, uma esperança real e realizável segundo o estado de vida de cada um. Ao “pedir” e “exigir” o cumprimento dos nossos deveres de estado (carta da Irmã Lúcia), o céu desencadeia aqui uma verdadeira mobilização geral contra a indiferença que nos gela o coração e agrava a miopia do olhar. Não queiramos ser uma esperança abortada!”

Terminou apelando a que sejamos “sentinelas” da madrugada que sabem descobrir novamente “o rosto jovem e belo da Igreja que brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica de amor”.

O mundo renova-se no meio das tempestades da vida quando a inteligência humana, incluindo a dos economistas, dos políticos e dos empresários, procura encontrar soluções e caminhos alternativos para resolver os problemas. Nesta linha, quando falou no Congresso dos EUA repetiu uma constante do seu pensamento: “Se a política deve estar verdadeiramente ao serviço da pessoa humana, segue-se que não pode estar submetida à economia e às finanças”. E mais: “A política é expressão da nossa insuprível necessidade de vivermos juntos em unidade, para podermos construir o bem comum maior: uma comunidade que sacrifique os interesses particulares para poder partilhar, na justiça e na paz, os seus benefícios, os seus interesses, a sua vida social”. Em Fátima apontou para o Evangelho e para o acolhimento do que a sua Mãe, a primeira discípula, disse em Caná: “fazei tudo o que Ele vos disser”.

 

O dia a seguir

Concluindo a homilia do dia 13 insistiu que a Igreja deve ser “missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica de amor”. Apontou o caminho para o dia seguinte: como peregrino ele trouxe os que nós devemos levar: “os deserdados e infelizes a quem roubaram o presente, os excluídos e abandonados a quem negam o futuro, os órfãos e injustiçados a quem não se permite ter um passado”. Só assim a visita deixará de ser um evento, para se tornar num momento de graça. Francisco não nos afastou do mundo, mas nos aproximou dele: “peregrinos de todos os caminhos, derrubaremos todos os muros e venceremos todas as fronteiras, saindo em direção a todas as periferias, aí revelando a justiça e a paz de Deus”. Assim poderemos ser como Maria “imagem da coluna luminosa que alumia os caminhos do mundo”. Não nos afastou do mundo, mas nos recordou a missão de alumiar os seus caminhos.

texto por Valentim Gonçalves, CJP-CIRP; foto por Filipe Amorim
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