Doutrina social |
Encíclica Laudato Si
Agir para salvar a casa comum
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Quando, em 24 de Maio de 2015, o Papa Francisco publicou a Encíclica Laudato Si quis alargar o conceito de pobre, incluindo a “nossa terra oprimida e devastada” entre os pobres mais abandonados (nº1). Para isso utilizou uma linguagem corrente e menos hermética para mais eficazmente entrar em diálogo com todos.

 

O cuidado da casa comum

Se na Evangelii Gaudium apontava para um processo de reforma missionária da Igreja, na LS pretende “entrar em diálogo com todos acerca da nossa casa comum” (nº 3). Não como uma “encíclica verde”, mas muito mais, indo ao fundo do que está em causa e que é a felicidade das pessoas, que passa pelo respeito pela natureza de que fazemos parte. Por isso – e citando apenas o nº 41 – aí se fala de “peixes, caranguejos, moluscos, esponjas, algas, recifes de coral; e ainda de maravilhoso mundo marinho transformado em cemitérios subaquáticos, poluição, desflorestamento, monoculturas agrícolas, descargas industriais, métodos de pesca destrutivos, cianeto e dinamite, aumento de temperatura dos oceanos.” Como afirmou o Patriarca Bartolomeu I, citado na encíclica (nº 9) ”o divino e o humano se encontram no menor detalhe da túnica inconsútil da criação de Deus”.

 

Metas e obstáculos

Não é uma descoberta do Papa. Ele refere que “o movimento ecológico mundial já percorreu um longo e rico caminho, tendo gerado numerosas agregações de cidadãos que ajudaram na consciencialização” (nº 14). Mas nessa direção encontram-se obstáculos a barrar o caminho: a recusa dos poderosos e o desinteresse dos outros. Basta pensar na perplexidade provocada pelas posições da nova administração dos Estados Unidos relativamente aos acordos sobre o clima, posições claras no sentido de usar e abusar da natureza, do fechamento sobre os interesses exclusivos do país, de muros psicológicos e físicos que é preciso levantar, da obsessão por ser o primeiro.
Não podem os cristãos passar ao lado destas questões. São ameaças à felicidade de todos. É preciso abrir brechas nos muros construídos, como também lutar contra uma visão espiritualista e dualista na qual ainda tanto se parqueia e que é alienante e oposta à construção do Reino.

 

Para além das palavras

Há lugares onde esta consciência está mais viva e é motivadora para o compromisso individual e coletivo. Para os que sofrem na pele as consequências diretas ou indiretas do abuso da natureza trata-se de uma questão vital. Com eles está o Papa, como quando se associa à Campanha de Quaresma da Conferência Episcopal do Brasil, com o tema ‘Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida’. Já anteriormente, dirigindo-se aos “cartoneros” (os que recolhem cartão e lixo), que bem conhece desde os tempos de Buenos Aires, afirmava que “hoje não podemos dar-nos ao luxo de desprezar aquilo que sobra. Estamos a viver uma cultura do descartável onde facilmente fazemos sobrar não somente coisas, mas pessoas”. 
Ele sabe como algumas comunidades têm desafiado poderosas companhias de mineração pelo prejuízo causado à natureza e à sua qualidade de vida. É o que verificamos ao ler informações que nos vão chegando. O Boletim da Província SVD da Colômbia faz uma referência aos 120 líderes sociais assassinados nos últimos 14 meses, por causa da sua luta pelos direitos humanos, entre os quais o direito à terra.
O Boletim da Vivat International, uma ONG de institutos religiosos, com estatuto consultivo junto da ONU, refere que só no ano de 2014, foram 19,2 milhões de pessoas deslocadas por causa de desastres naturais; é uma situação que, porque provocada, conduz à negação dos direitos humanos. O mesmo informa que mais de 60 chefes tradicionais e outros líderes comunitários do distrito de Yahuma, na RDC, se manifestaram contra uma companhia de plantação que os pressiona a cederem o seu direito à terra. O Boletim da Comissão JUPIC (no âmbito dos superiores/as gerais) escreve sobre os progressos registados no desenvolvimento sustentável numa zona rural do Quénia. Idênticas notícias de luta pela preservação das florestas tropicais na Indonésia envolvendo também pessoas consagradas; mas também notícia de boas práticas, como aconteceu na ilha de Flores, no passado 10 de Março, com mais de 200 pessoas – muçulmanos, católicos, protestantes – a trabalharam em conjunto para proteger o planeta, plantando só nesse dia 500 árvores. Ou ainda os pequenos passos dados com o povo na Zâmbia plantando árvores e racionalizando a utilização do carvão vegetal. São brechas abertas nos muros que defendem o lucro e travam o passo à justiça.

texto por Valentim Gonçalves, CJP-CIRP
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