O Cardeal-Patriarca desafiou os seis ordinandos a manterem “os olhos na Imaculada”, para serem “inteiramente límpidos de coração e gesto”. No Mosteiro dos Jerónimos, na celebração de Ordenações, que foi também conclusiva do Sínodo Diocesano, D. Manuel Clemente apelou às comunidades para terem uma “atitude marial” de “maior acolhimento e mais decidida missão”.
A Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria, no Patriarcado de Lisboa, ficou este ano marcada pela celebração conclusiva do Sínodo Diocesano e pelas Ordenações. “A Imaculada Conceição foi em Maria a preparação pessoal para a incarnação de Cristo: Nova Terra para o Homem Novo. Desde o Batismo, caríssimos ordinandos, o mesmo Espírito que a guardou a Ela de todo o contágio do mal, trabalhou também em cada um de vós para serdes sacramento da presença diaconal ou sacerdotal de Cristo. Mantende os olhos na Imaculada, para serdes inteiramente límpidos de coração e gesto, na graça de Cristo de que sereis instrumentos”, desejou o Cardeal-Patriarca, na Eucaristia do passado dia 8 de dezembro, dirigindo-se de forma particular aos cinco novos diáconos e ao recém-ordenado sacerdote. “Entregai-vos constantemente à proteção da Virgem Imaculada. Experimentareis a sua proximidade e incentivo, tão próprios dum coração materno, repassado de misericórdia divina. Com Ela acolhei a Cristo em vós e nos outros, em vós para os outros. Verificareis assim, verificaremos todos, as maravilhas de Deus, num contínuo Magnificat que sempre cantaremos”, prosseguiu D. Manuel Clemente, na sua homilia.
Atitude marial
Após a Assembleia Sinodal, que decorreu de 30 de novembro a 4 de dezembro, no Centro Diocesano de Espiritualidade, no Turcifal, a celebração nos Jerónimos era também conclusiva do Sínodo Diocesano, que o Patriarcado de Lisboa viveu ao longo dos últimos quase três anos. Após a caminhada sinodal, onde participaram mais de vinte mil pessoas das várias realidades eclesiais da diocese, e a Assembleia Sinodal, o Cardeal-Patriarca apresentou, nesta celebração nos Jerónimos, a Constituição Sinodal de Lisboa – um documento que vai conduzir a ação pastoral diocesana nos próximos anos e que está disponível como Suplemento, juntamente com esta edição do jornal. “Também nós, Patriarcado, nos acrescentaremos com Maria no amor de Deus e do próximo. Na Constituição Sinodal de Lisboa, hoje oferecida à Diocese, apresenta-se um conjunto de opções que são outras tantas coincidências com a primordial opção de Deus. Sim, de Deus, que, como aconteceu com Maria Imaculada, nos quer santos e em missão, em comunidade e crescimento na fé, em cada família e na resposta fiel à vocação pessoal; tudo sinodalmente levado, pois só em conjunto faremos o que devemos”, referiu D. Manuel Clemente, apelando a uma “atitude marial” por parte das comunidades cristãs: “Com Maria, nossa Senhora e Mãe Imaculada, prossigamos sempre e sinodalmente também. A melhor receção do Sínodo Diocesano será essa mesma, de cada comunidade se perguntar ciclicamente pela concretização prática desta atitude marial de maior acolhimento e mais decidida missão, longe ou perto. Atitude ‘marial’, repito, pois a Maria nos confiou Jesus Cristo e sem Ela nada seríamos nem faríamos como Igreja”.
Mais proximidade e maiores cuidados
O Cardeal-Patriarca de Lisboa considerou “abusiva” qualquer tentativa de legalizar a eutanásia. “Como Nossa Senhora da Conceição, Maria é também Padroeira de Portugal. Com este título a queremos invocar e imitar, alargando nós, como sociedade, um manto protetor aos que sofrem momentos difíceis e a roçar o desespero. Não nos dispensemos, por qualquer legalização abusiva, do bom apoio que lhes devemos, sempre no sentido da vida. Recuarmos neste ponto seria gravíssima limitação da liberdade autêntica, que apenas reside no viver e conviver”, salientou.
D. Manuel Clemente propôs depois uma sociedade “paliativa” que esteja ao lado dos necessitados. “Tornemo-nos também nós numa ‘sociedade paliativa’, que corresponda com mais proximidade e maiores cuidados a qualquer dor que surja, a cada pessoa que sofra. De contrário avançaria a morte, que nem se há de pedir nem jamais se há de dar a ninguém. Entreabrir-lhe a mais pequena brecha seria rapidamente escancarar-lhe a porta larga das mais graves consequências – como já se sofrem nas sociedades que o fizeram”, alertou o Cardeal-Patriarca, que voltou a este tema no final da celebração, em declarações aos jornalistas: “A eutanásia não elimina apenas a dor, elimina a vida. E a vida é um direito inviolável pela nossa Constituição. Artigo 24: a vida humana é inviolável. Portanto, se é inviolável vamos fazer disto também uma prática de proximidade, de conforto e de presença”.
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Ordinandos
Diáconos:
Miguel Maria Sousa Rêgo de Cabedo e Vasconcelos (Estoril - Seminário dos Olivais)
Pedro Miguel Roquete Tavares (Peniche - Seminário dos Olivais)
Lúcio Lopes dos Santos (Brasil - Seminário ‘Redemptoris Mater’, em Caneças)
Marco Leotta (Itália - Seminário ‘Redemptoris Mater’, em Caneças)
Rui Jorge dos Santos Vieira Ferreira, smp (Sociedade Missionária Portuguesa - Missionários da Boa Nova)
Presbítero:
Fredy Moreno Aponte, ssp (Pia Sociedade de São Paulo - Paulistas)
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Constituição Sinodal de Lisboa
Durante a celebração no Mosteiro dos Jerónimos, o Cardeal-Patriarca assinou alguns exemplares da Constituição Sinodal de Lisboa, entregando-os de seguida ao Deão do Cabido, cónego Carlos Paes, aos coordenadores dos Conselhos Presbiteral e Pastoral, padre José Manuel Pereira de Almeida e cónego Francisco Tito, e ainda ao secretário do Sínodo Diocesano, padre Rui Pedro Carvalho.
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Mensagem do Papa Francisco ao Patriarcado de Lisboa
Venerado Irmão
D. MANUEL CLEMENTE
Cardeal Patriarca de Lisboa
No próximo dia 8 de dezembro, solenidade de Nossa Senhora da Conceição, terá lugar o encerramento do Sínodo Diocesano dessa amada Igreja local, promovido na passagem dos 300 anos da sua qualificação «patriarcal» recebida do meu antecessor Clemente XI, a 7 de novembro de 1716, em atenção ao assinalável esforço missionário que, de Lisboa, fizera irradiar a Boa Nova de Jesus pelas cinco partidas do mundo.
E permanece viva, como comprova o presente Sínodo, a vossa decisão de prosseguir neste caminho ao encontro de todas as pessoas e situações que esperam o anúncio do Evangelho de Cristo. Disseste-me, venerado Irmão, que a caminhada sinodal envolveu milhares de fiéis do Patriarcado, que estudaram e rezaram os sucessivos capítulos da Exortação Apostólica Evangelii gaudium, compartilhando comigo «o sonho missionário de chegar a todos» (n. 31). Obrigado pela alegria que me dais! Que as vossas comunidades se abram cada vez mais a fim de «alcançar a todas as pessoas que vivem no seu território, para que chegue a todas a carícia de Deus através do testemunho dos crentes. Este é o tempo da misericórdia» (Carta ap. Misericordia et misera, 21), que nos impele a trabalhar para restituir dignidade a todos esses nossos irmãos e irmãs, chamados connosco a construir uma cidade fiável (cf. Ibid., 18).
Na Sagrada Escritura, fala-se duma cidade luminosa colocada sobre o monte que a tradição aplicou à Igreja (cf. Mt 5, 14; Ap 21, 10-11.23-24) advertindo, porém, a seus filhos e filhas de que só poderão irradiar a luz de Deus, se acolherem em si mesmos a pessoa do Senhor ressuscitado, procurando transfigurar-se n’Ele num contínuo e perseverante caminho de verdadeira conversão. Que o Senhor encha da sua graça quantos trabalharam para o Sínodo e agora se vão empenhar para que dele nasçam e amadureçam abundantes frutos do Espírito Santo! Na hora da aplicação das decisões sinodais que espelham o rosto e o coração do Patriarcado latino de Lisboa, ao deparar-vos com as limitações humanas e as dificuldades que sempre aparecem, nunca percais de vista a promessa que o Senhor vos fez: «Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28, 20).
Queridos irmãos e irmãs da Igreja de Deus que está em Lisboa, à cabeça da vossa peregrinação no tempo rumo ao futuro de Deus colocai a Imaculada Virgem Mãe, pois ninguém soube como Ela anunciar Cristo ao mundo: não Se limitou a dizê-lo, mas deu-O. Que Ela, o padroeiro São Vicente, Santo António e todos os outros Santos e Santas que, através dos séculos, tornaram fecundo o caminho dessa amada Igreja local, vos guiem e sustentem com o seu exemplo e a sua intercessão. E não vos esqueçais de rezar por mim, como eu rezo por vós. Como prova da minha estima fraterna, a todos concedo a implorada Bênção Apostólica.
Vaticano, 29 de novembro de 2016.
FRANCISCUS
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