Lisboa |
Comemorações dos 300 anos da primeira pedra da Real Basílica de Mafra
“Um monumento sacro que conta a história de Deus com os homens”
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O Cardeal-Patriarca de Lisboa considera que a Basílica de Mafra continua a ser sinal da história de Deus com a humanidade. Na conferência ‘O Ritual da Sagração da Basílica de Mafra’, no tricentenário da colocação e bênção da primeira pedra do templo, D. Manuel Clemente garantiu que “para perceber Mafra, é preciso perceber o reinado régio e sacral de D. João V”.

 

Foi uma aula de história sobre a construção da Real Basílica de Mafra. Na conferência com o tema ‘O Ritual da Sagração da Basílica de Mafra’, na noite do passado dia 28 de novembro, D. Manuel Clemente, que é licenciado em História, citou o livro ‘Monumento Sacro da Fábrica e Soleníssima Sagração da Santa Basílica do real Convento que junto à vila de Mafra dedicou a Nossa Senhora e Santo António a Majestade Augusta do Máximo Rei D. João V’, de 1751, da autoria de um antigo frade do Convento de Mafra, frei João de São José do Prado, “que era o cerimoniário mor dos Franciscanos Arrábidos da altura e que descreve com muito pormenor” a história sobre a primeira pedra e a dedicação desta igreja. “Diz o texto: ‘Determinou el Rei [D. João V] que a 17 de novembro de 1717 se lançasse a primeira pedra a cuja função assistiu com toda a corte o ilustríssimo e reverendíssimo Patriarca de Lisboa Ocidental [D. Tomás de Almeida], com toda a sua comitiva’”, leu. Lembrando que D. João V esteve à frente do nosso país quase meio século, entre 1706 e 1750, o Cardeal-Patriarca destacou “a ligação intrínseca entre a sua religiosidade – ele era um homem religioso – e o sentido do Estado, com o engrandecimento da figura real, de Portugal e da coroa”. “Todo o seu longo reinado teve estas duas notas”, apontou, destacando ainda que foi este rei que mandou construir a Capela Real do Paço da Ribeira, “com o qual vai conseguir depois o título de Patriarcal”.

“Para perceber Mafra, é preciso perceber sobre o reinado régio e sacral de D. João V”, alertou. “D. João V vai fundar este convento, que depois também será palácio – e estou a dizer por esta ordem porque foi por esta ordem que as coisas aconteceram –, no cumprimento de um voto. Tendo casado com D. Maria Ana de Áustria, colocou-se o problema da sucessão dinástica e fez o voto de que construiria um convento em honra de Santo António, que acabou também por ser de Nossa Senhora da Conceição, que é a padroeira da Casa de Bragança. Assim acontece quando nasce a princesa Maria Bárbara, que depois será rainha de Espanha”, contou.

 

Significativo

D. Manuel Clemente explicou ainda que a 7 de novembro de 1716, um ano antes da primeira pedra da Real Basílica de Mafra, o Papa Clemente XI criava, através da bula ‘In supremo apostolatus solio’, o Patriarcado de Lisboa, título da capela real que se alargaria depois à diocese inteira – primeiro a Lisboa Ocidental e em 1740 também a Lisboa Oriental. “Mafra, e tudo aquilo que aqui está, ao mesmo tempo régio e sacral, não aparece por acaso, não é algo isolado, mas muito representativo – atendendo ao terramoto e à devastação de Lisboa e das obras que lá havia, é o monumento mais alto, mais perene desta época de D. João V. Percebemos agora, como escreveu frei João de São José do Prado, a presença do seu capelão, ‘o ilustríssimo e reverendíssimo Patriarca de Lisboa Ocidental’ D. Tomás de Almeida, antigo Bispo do Porto. É muito significativo que logo no ano a seguir à criação do Patriarcado, a primeira pedra da Real Basílica de Mafra seja feita por ordem do Rei, com a presença do Patriarca”, referiu.

 

Sofrimento

Nesta conferência com o tema ‘O Ritual da Sagração da Basílica de Mafra’, integrada no programa de comemorações dos 300 anos do Palácio Nacional de Mafra, que se prolonga até 17 de novembro de 2017, o Cardeal-Patriarca lembrou ainda todos os que ficaram doentes e os muitos trabalhadores que acabaram por morrer. “Esta casa lindíssima, onde nós estamos, tem aqui dentro destas pedras muito sofrimento. Ao longo dos anos da sua construção, muita gente penou para que tal acontecesse. Oiçam esta resenha feita por uma recente biógrafa de D. João V, mas que tem os elementos também noutras fontes: ‘Fruto da devoção do monarca mas também do desejo de ostentar o seu poder e riqueza, a construção do palácio convento representou um enorme esforço em gente e dinheiro. Mas a dificuldade em manter a mão-de-obra para a construção era grande. Aí estavam 15 mil jornaleiros – quer dizer, à jorna – mas em setembro de 1729 tinham fugido dois mil e por isso chegavam novas levas de trabalhadores – e nem todos vinham de espontânea vontade. Uma relação de todas as pessoas que trabalhavam em Mafra mostra que foram fornecidas um total de 21594. Nesta enorme massa de trabalhadores, tinham adoecido 17097, o que é uma taxa elevadíssima de enfermidades. Tinham morrido 1713 trabalhadores e D. João V determinou, para compensar as famílias, que se desse esmola por cada um dos mortos – três mil reis’. Houve aqui um eclipse para muita gente, para centenas e centenas de pessoas, na construção desta casa”, assinalou, reforçando que “estas obras, estas casas, hoje estão feitas mas nós devemos, ao contemplar as suas maravilhas, perceber que são assim como os eclipses: belas ideias, grandes esforços, muitos trabalhos e finalmente luz para aqueles que partiram e para aqueles que podem gozar da beleza que fica, mas sem esquecer a dor que custou”.

 

Cruz

D. Manuel Clemente falou ainda de uma cruz de madeira que foi benzida na véspera do lançamento da primeira pedra do edifício. “Continua assim o texto do bom frei João de São José do Prado: ‘Na manhã do dia 16 do referido mês [novembro de 1717], foi D. Filipe de Sousa, chantre da Santa Sé Patriarcal – uma das figuras principais da cleresia –, benzer a cruz que se erigiu por quatro sacerdotes no lugar em que existe o altar-mor’. Era uma cruz de madeira, de dez palmos, portanto comprida. Essa cruz de madeira desapareceu e deu origem ao altar-mor que lá estava, mas foi encimada por outra”, começou por partilhar, chamando então a atenção para aquilo que sempre o despertou, desde que começou a ir à Basílica de Mafra, em criança: “Na capela-mor, além de um quadro trevisiano italiano e de um admirável candelabro de sete lâmpadas suspenso da boca de sete serpentes, vê-se um enorme crucifixo de jaspe, com 4,2 metros de altura, ladeado por anjos em adoração. Observe-se o justo equilíbrio entre o seu tamanho descomunal e a vastidão do templo em que se encontra. Podemos dizer que desde aquela cruz de madeira da primeira pedra, até esta grande cruz de mais de quatro metros que nos olha do topo do altar-mor, vai a história desta casa e deste monumento. Com tudo o que esta cruz, ali gloriosa e adorada por anjos – e com certeza que também por nós –, representa”.

O Cardeal-Patriarca terminou a conferência explicando porque a Real Basílica de Mafra é um monumento sacro. “A este conjunto de significados, entre históricos, arquitetónicos, políticos, religiosos, simbólicos, trata-se verdadeiramente de um monumento sacro aqui em Mafra, como lhe chamou frei João de São José do Prado. Monumento significa algo que lembra, algo que recorda; e sacro porque aqui, com a história de D. João V e do seu Patriarca, com o que ergueu, o que desapareceu, com o que está, com os que morreram, com os que ficaram, connosco agora, temos precisamente isso: um monumento sacro, porque nos conta a história de Deus com os homens, aqui também num trecho da história de Portugal e da história de Mafra”, observou D. Manuel Clemente.

 

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50 iniciativas nos 300 anos do Palácio Nacional de Mafra

Foi com uma conferência pelo Bispo Auxiliar de Lisboa D. Nuno Brás, sobre ‘A Basílica de Mafra: o Templo e a Cidade’ (acessível no link Documentos/Conferências, no site do Patriarcado de Lisboa), que teve início, no dia 17 de novembro, o programa de comemorações dos 300 anos do lançamento da primeira pedra da Real Basílica de Mafra. Este primeiro dia teve ainda um espetáculo de música, com a atuação da Banda do Exército, e fogo-de-artifício. Numa organização conjunta da Câmara Municipal de Mafra, Direção Geral do Património Cultural / Palácio Nacional de Mafra, Escola das Armas, Paróquia de Mafra e a Tapada Nacional de Mafra, ao longo de um ano, de 17 de novembro de 2016 a 17 de novembro de 2017, são 50 as iniciativas culturais e religiosas previstas, com destaque para diversas conferências, visitas à Tapada Nacional, lançamento de livros, concertos, encenação de uma peça de teatro, visitas subterrâneas a locais vedados ao público e exposições.

 

Programa completo: www.cm-mafra.pt/sites/default/files/folheto_300_anos.pdf

Informações: www.palaciomafra.pt

 

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Comemorações do Tricentenário da Construção do Real Edifício de Mafra: um pouco de História

Data de 17 de novembro de 1717 o lançamento da 1.ª pedra da edificação do monumento de Mafra, que reúne na imponência de um edifício de estilo Barroco a Basílica, o Convento e o Palácio.

Foi por alvará de dezembro de 1711, que o rei D. João V, “por justos motivos e por especial devoção ao glorioso Santo António” decidiu erguer, no sítio do Alto da Vela, em Mafra, um convento para habitação e oração dos frades capuchinhos da Arrábida. Em 1714, o alvará é renovado, mas as obras só se iniciam 1717, existindo entre as duas datas um conjunto de ocorrências relacionados entre Lisboa e Roma que, direta ou indiretamente, influenciaram a edificação e sagração do régio edifício.

Em 1716, a cristandade da Península Itálica e da Grécia sentia-se ameaçada no Mediterrâneo pelos otomanos, motivando o Papa Clemente XI a pedir auxílio aos príncipes europeus. Portugal correspondeu ao pedido, enviando uma frota naval para o mar Adriático, onde chegou em agosto. Consta que os turcos retiraram quando souberam da aproximação da frota portuguesa. A esquadra, debaixo de um preito de agradecimentos, regressou a Lisboa, onde chegou em novembro. A 7 desse mesmo mês, o Papa atribui o estatuto de Patriarcal à cidade de Lisboa através da Bula In Supremo Apostolatus Solio. Entretanto, os turcos voltaram a atacar em 1717 e desta vez travou-se batalha, a 19 de julho, a sul da Grécia, ao largo do cabo de Matapão, onde as forças cristãs venceram as turcas, cabendo à frota portuguesa a ação decisiva. Novo regresso sob o aplauso geral, sendo a frota recebida por D. João V; estava-se em novembro e em 17 desse mês foi colocada a primeira pedra do convento de Mafra. O rei iria ter as mercês arquitetónicas, artísticas e financeiras de Roma para a sua edificação.

A Basílica foi consagrada a Nossa Senhora e a Santo António, em 22 de outubro de 1730 (data do 41.º aniversário de D. João V), altura em que tocaram os seis órgãos da Basílica e os sinos dos carrilhões. O convento no seu todo foi dado como concluído em 1744. Por fim, em 23 de dezembro de 1748, D. João V foi distinguido pelo Papa com o título de «Fidelíssimo», que o colava a par do «Muito Católico» rei de Espanha e do «Cristianíssimo» rei de França.

Hoje em dia, o Real Edifício de Mafra é um dos mais emblemáticos monumentos nacionais e tem uma função religiosa (Basílica), militar (grande parte do Convento) e cultural (Palácio Nacional).

texto por Abílio Pires Lousada; fotos por Arlindo Homem

 

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Cruz de Santo André

No início da conferência do Cardeal-Patriarca, o pároco de Mafra, padre Luís Barros, explicou que, junto ao altar, estava colocada a cruz de Santo André. “É uma cruz antiquíssima, que vem da igreja paroquial primitiva, lá em baixo, em Santo André, e que foi usada no dia da sagração da Basílica de Mafra, a 22 de outubro de 1730”, referiu o sacerdote.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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