Mundo |
Síria: pequenos gestos de solidariedade que fazem toda a diferença
Amar até ao fim…
<<
1/
>>
Imagem

Vivem-se tempos muito duros na Síria. A guerra civil, de que a Irmã Guadalupe nos veio falar, a convite da Fundação AIS, não destruiu apenas a cidade de Alepo. As suas marcas estão em todo o lado, revelando feridas abertas e uma multidão de pessoas que precisam, mais do que nunca, de ajuda. Uma delas é o Padre Paul Khoury.


A Síria é um país sem segredos para o Padre Paul Khoury de 85 anos. Dedicou toda a sua vida a este país que se encontra actualmente mergulhado numa temível guerra civil. Aliás, em quase toda a memória que Khoury tem da Síria há sempre algum episódio de guerra ou de violência que sobressai. Quando nasceu, o país estava sob mandato francês. Era uma porção admirável de território que incluía ainda o Líbano. Depois, com a II Guerra Mundial, a Síria adquiriu a independência, mas nunca deixou de ser palco de conflitos sangrentos, guerras regionais, golpes, ditaduras e, desde Março de 2011, do mais temível dos conflitos: a guerra civil. Durante todos estes anos, o Padre Paul Khoury nunca descansou. A Síria é um país complexo, uma espécie de mosaico que reúne dentro de si vários mundos. A começar nas próprias religiões. Quando decidiu entregar toda a sua vida a Deus, o Padre Paul já sabia que ia passar os seus dias a rezar, dedilhando as contas do Rosário que traz sempre consigo, no bolso das calças, mas nunca terá imaginado que seria agora, na fragilidade dos seus 85 anos, quando o país parece mais necessitar de si, das suas orações, que se veria impedido de celebrar a Santa Missa, acamado que está desde que sofreu um AVC…

 

Obra de Misericórdia

O Padre Paul Khoury é exemplo para todos nós. Dedicou a vida inteira aos outros. Rezou sem descanso, ensinou os caminhos da paz, foi mensageiro de amor e sofreu, como poucos, sempre que as guerras tomaram conta do país. Desde 2011, com a Síria a caminho da destruição, com a cidade de Alepo em ruínas, o seu coração não aguentou tanta dor. Um AVC atirou-o para uma cama e impediu-o de continuar a fazer aquilo que sempre deu sentido aos seus dias: a celebração eucarística. Agora, tal como a própria Síria, também o Padre Khoury depende de nós. Como ele, há imensos sacerdotes que sofrem duplamente pela tragédia em que o país está mergulhado. A Fundação AIS assumiu o dever de os sustentar. Esta é também uma Obra de Misericórdia. Ajudar a subsistência de sacerdotes e religiosas na Síria e no Médio Oriente é uma responsabilidade indeclinável para todos nós. E há, infelizmente, muitos padres e irmãs que estão acamados, como o Padre Paul Khoury, e que precisam da nossa ajuda para sobreviverem.

 

Milagres de vida

Quando se fala na Síria, todos os olhares se voltam para a cidade mártir de Alepo. A tragédia aí é de tal forma intensa que parece ofuscar todos os dramas que se vivem no resto do país. Todos os dias chegam à Fundação AIS pedidos concretos de ajuda. Há populações inteiras cercadas pela guerra e pela pobreza, e que precisam de nós. Na Diocese de Latakia, nas aldeias de Michrefeh, Rable e Ain  Hlaquim, entre outras, situadas nas altas montanhas que no Inverno se cobrem de neve e de frio, a Igreja procura socorrer as famílias mais carenciadas que, na sua extrema pobreza, não têm sequer como comprar combustível para se aquecerem. Para o Bispo maronita D. Antoine Chbeir ajudar estas famílias é apenas uma das prioridades da sua diocese, situada no norte da Síria. A guerra tem o poder de revelar, também, o melhor e o pior do ser humano. Por ali, por Latakia, a falta de recursos conduziu centenas e centenas de famílias para a pobreza absoluta. Eram pessoas com vidas normais que, de um momento para o outro, ficaram sem trabalho, sem recursos, sem alternativas. E todos bateram à porta da Igreja. D. Antoine Chbeir condoeu-se particularmente com a sorte dos bebés levados pelas suas mães, que choravam de fome e precisavam de ajuda urgente. Rapidamente, o Bispo mobilizou a diocese e aquelas pessoas transformaram a sua própria pobreza em leite e fraldas, num quase milagre de vida para aquelas crianças.

 

Para sempre

O Padre Paul Khoury também pertence à Diocese de Latakia. Ajudá-lo na sua doença, auxiliar a diocese na compra de leite e de fraldas, ou apoiar as populações encurraladas na neve nas aldeias perdidas nas montanhas, são gestos de misericórdia a que todos somos chamados a concretizar. Nos últimos dias, a Irmã Guadalupe, que dedicou vários anos da sua vida ao povo Sírio, nomeadamente na cidade de Alepo, mergulhada na guerra civil, esteve em Portugal a convite da Fundação AIS. No sábado passado, numa vigília de oração na Igreja de Santo António do Estoril, ela falou deste povo que sofre tanto e que tem sido tão abandonado pelo Ocidente, mas onde os Cristãos, apesar da violência que é exercida sobre eles, não renegam a própria fé. Eles pedem-nos ajuda. Pedem para não serem esquecidos, pedem que os apoiemos. Pedem que rezemos por eles. O Padre Paul Khoury passa agora os dias acamado, num sofá velho, totalmente dependente de ajuda. Da nossa ajuda. No entanto, os seus dedos dedilham ainda as mesmas ave-marias do seu rosário, como sempre fez ao longo da sua vida. Quando decidiu entregar os seus dias a Deus, Paul Khoury soube logo que aquela era a decisão mais importante que alguma vez iria tomar. Nem podia ser de outra maneira: era para sempre. Era até ao fim. Até ao Céu. Falta um mês até ao Natal. Vamos ajudar o Padre Paul Khoury?

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
A OPINIÃO DE
Pedro Vaz Patto
No âmbito das celebrações do ano jubilar no Patriarcado de Lisboa, catorze organizações católicas (Ação...
ver [+]

Tony Neves
Há notícias que nos entram pelo coração adentro deixando-nos um misto de sentimentos. A nomeação do P.
ver [+]

Tony Neves
O Papa Leão XIV disse, há tempos, que ‘antes de ser uma questão religiosa, a compaixão é uma questão de humanidade.
ver [+]

Guilherme d'Oliveira Martins
A presença em Portugal do Cardeal Pietro Parolin constituiu um acontecimento que merece destaque, uma...
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES