O que têm em comum um doce, tipo encharcada, e a interioridade de uma pessoa? Aparentemente, nada. Mas, analisada a devida metáfora, é possível perceber que ambos resultam da conjugação e do equilíbrio entre três coisas. O doce resulta de uma receita, de ingredientes e do uso do fogo. A interioridade, do funcionamento de três centros vitais: a cabeça, o coração e as vísceras. Foi esta a ideia explorada por João Delicado, life coach e autor do blogue ‘Ver para além do Olhar’, numa palestra que decorreu no passado dia 20 de maio, na Escola da Vida, na paróquia de Cascais.
A receita do doce deve ser vista como a teoria ou as orientações para chegar ao produto final. O mesmo se aplica à nossa cabeça, que contém a virtude da razão, do saber e do planeamento estratégico da vida, explicou João Delicado. Mas nem a receita do doce resulta sem os ingredientes, nem a existência do homem pode ser plena sem o uso do coração, onde constam as emoções e a ligação a Deus e ao outro. “Temos cabeça para pensar. Mas se acreditamos só nessa fonte, podemos viver de forma calculista e fria. Podemos estar bloqueados por razões internas difíceis de resolver e, mesmo que façamos boas acções, não estamos presentes nelas”, alertou o autor, desafiado a falar sobre este tema a propósito do Ano da Misericórdia.
O que dá sabor à vida é, assim, a capacidade de estabelecer relações com o próximo, defendeu João Delicado. Mas o uso exagerado deste centro vital da interioridade, o coração, também pode trazer problemas, alertou o autor. “Se nos refugiamos só nisso, vivemos numa montanha russa emocional, num sentimentalismo”. Para o ser funcionar equilibradamente, tem de se abrir aos três centros vitais da interioridade, explicou o especialista em desenvolvimento pessoal. E além da razão e do coração, há mais um: as vísceras. “São as nossas entranhas, de onde vem a nossa vontade, motivação, a nossa pulsão vital”. Ou seja, tal como a produção de uma encharcada exige a utilização do fogo, também a vida humana precisa desta pulsão vital.
João Delicado sublinhou a necessidade de cada um aprofundar o conhecimento sobre a sua interioridade e ponderar a articulação dos três centros vitais. “Só assim conseguiremos ser inteiros. Vivemos subjugados com a tirania do ser perfeito. Mas a perfeição de sermos auto-suficientes não é cristã. Ser cristão é viver em pleno aquilo que se é, é ser inteiro no amor”. Este percurso de auto conhecimento deve ser anterior à misericórdia, rematou ainda o autor. Pois antes de amar o próximo, cada um tem de saber amar-se a si próprio.
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