“O mundo é um lugar perigoso para viver, não tanto por causa daqueles que fazem o mal, como por causa daqueles que veem e o deixam fazer”. Quem o afirmou foi Einstein, de quem se falou nos últimos dias por causa das ondas gravitacionais teorizadas por ele há 100 anos mas até agora não confirmadas. Foi grande na sua visão do mundo; grande na sua abertura à humanidade.
Lugar perigoso, mas é o nosso
Ao contemplar a situação dramática da família humana o meu pensamento foge para aquela placa afixada à entrada de um barracão de Aushwitz – onde vemos a que ponto pode chegar a brutalidade humana – com a afirmação do filósofo e ensaísta George Santayana: "aqueles que não são capazes de lembrar o passado, estão condenados a repeti-lo".
De ficar calado perante a desumanização deste lugar que é o mundo não pode ser acusado o Papa Francisco. A tempo e fora de tempo ele tem falado na questão da dignidade das pessoas, da igualdade, da injustiça e da exclusão. Insistentemente, como na recente viagem a Cuba e ao México, como há poucas semanas ao Quénia, ao Uganda e à República Centro-Africana, os excluídos têm encontrado eco na sua voz: a guerra, a violência e a pobreza andam unidas aos ilícitos como o narcotráfico, o tráfico de pessoas e o tráfico de armas; tudo ao serviço do egoísmo, que encontra no sistema económico dominante um forte aliado.
Sim à economia, não a uma economia que mata
Tornou-se conhecida e polémica também a sua expressão “Não a uma economia da exclusão e da desigualdade social, uma economia que mata” (EG 53). Não fala contra a economia, que é o saber e a arte de bem gerir o que diz respeito à casa; não contra a economia como exigência da pessoa inteligente e responsável. Como observa o jesuíta Alonso-Lasheras, ele não diz “a economia”, mas sim “uma economia”, o que denota a existência de alternativas aceitáveis. Não se pode confundir coisas tão simples e tão profundas ao mesmo tempo. É condenável aquele sistema que dá primazia à autonomia dos mercados e à especulação financeira e coloca a pessoa em segundo lugar. Começando por aí, rapidamente se chega ao abandono da política como serviço ao bem comum e se entroniza o mercado divinizado no altar de Mamon.
A doutrina perene da Igreja
Temem as suas palavras aqueles que não querem perder o seu tesouro; temem-nas também aqueles que têm medo de se abrir à novidade de Deus e às surpresas do Espírito. Para estes aplicam-se as palavras da Evangelii Gaudium: “prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças” (nº 49). Não cita constantemente a chamada Doutrina Social da Igreja porque já a pressupõe; ensina o que já vem das raízes da fé, realçando os ensinamentos e a prática de Jesus, assumidos pelos discípulos que se tornaram nossos mestres, como São João Crisóstomo que afirma: “Não partilhar com os pobres é roubá-los e tirar-lhes a vida. Os bens que possuímos não são nossos, mas deles.”
A conversão leva-nos a pensar, depois a discernir e, por fim, a atuar em conformidade. Não nos podemos contentar com o que menor incomodo nos provoca, deixando-nos embalar na alienação do “panem et circenses”, que generosamente nos é distribuída. É preciso pensar, é preciso questionar, inclusivamente as regras que temos, sabendo que frequentemente são elaboradas por “facilitadores”, isto é, recetores da encomenda dos poderosos que seguem em frente num caminho que neles começa e neles termina. Como fruto temos as guerras desastrosas do Médio Oriente, a bestialidade das guerrilhas e do genocídio em países de África, como a recente carnificina de Béni (Congo), onde, segundo um relatório da Caritas, os cidadãos estão traumatizados por terem vivido o assassinato de um próximo, de um vizinho, de um amigo, de um parente, de um colega de escola. Mas o nosso mundo não quer ver; nem isso nem sequer o que se passa ao seu lado; é mais fácil ver telenovelas e desafios de futebol; mais do que isso, só dormir, se a consciência não estiver pesada.
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