Lisboa |
Visita Pastoral à paróquia do Calhariz de Benfica
Ser fraterna
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É a única paróquia do Patriarcado de Lisboa confiada aos Franciscanos Capuchinhos e recebeu a Visita Pastoral. Calhariz de Benfica quer ser uma paróquia “mais próxima, mais solidária, mais simples. No fundo, fraterna, como nos pede São Francisco”, aponta o pároco, padre frei António Martins.

 

“Uma paróquia franciscana capuchinha deve ser mais próxima das pessoas, mais solidária, mais simples, para ir à periferia, como quer o Papa Francisco, não fazendo distinção de pessoas, na base da fraternidade. A grande especificidade de São Francisco é a fraternidade, em que todos se sentem irmãos e não há engenheiros ou doutores. Uma paróquia como a do Calhariz, porque bebe desta espiritualidade, deve ser mais próxima, mais solidária, mais simples, sem grandes ostentações, sem grandes distâncias uns dos outros”. O padre frei António Martins é, desde há ano e meio, o pároco do Calhariz de Benfica, que tem a particularidade de ser a única da diocese que está confiada aos Franciscanos Capuchinhos. “Eu insisto muito na tese de que cada paróquia tem a sua fisionomia e também a sua espiritualidade. Uma coisa é uma paróquia entregue a sacerdotes diocesanos, outra é uma paróquia confiada a religiosos, porque bebem de uma fonte um pouco diferente – embora o Evangelho seja o mesmo”, acrescenta ao Jornal VOZ DA VERDADE este frade, de 69 anos, natural de Barcelos.

Fundados em 1528, os Franciscanos Capuchinhos são uma Ordem recente no nosso país (1939), que tem como nome oficial Ordem dos Frades Menores Capuchinhos. “Imaginando uma árvore, que tem como raiz o Evangelho, São Francisco de Assis seria o tronco dessa árvore e fundou uma primeira Ordem – a Ordem Franciscana –, depois uma segunda Ordem – as atuais Clarissas, porque Santa Clara era contemporânea de São Francisco – e finalmente a Ordem Terceira para os leigos. Ao longo dos séculos, a primeira Ordem subdividiu-se em diversos ramos: os Frades Franciscanos Conventuais, que optaram por grandes conventos; os Frades Franciscanos Observantes, que em Lisboa estão no Seminário da Luz; e os Frades Franciscanos Capuchinhos”, explica frei Martins. “Em Portugal somos poucos, talvez uns 45, e temos três paróquias: Calhariz, uma na diocese de Setúbal e outra no Porto”.

 

‘Convento vertical’

A chegada a Lisboa dos Capuchinhos aconteceu em 1954. “O senhor Cardeal Cerejeira só queria frades ou religiosos na diocese se assumissem paróquias. Como nessa altura os religiosos não ficavam no centro da cidade, no chamado núcleo duro, mas nos arredores, viemos para esta zona do Calhariz de Benfica, o Bairro da Boavista, o Bairro das Furnas, entre outros”, lembra frei Martins, sublinhando que com o passar dos anos foi no Calhariz que foram “crescendo e vivendo” a sua “consagração”.

À época, o Calhariz tinha apenas uma capela, para menos de 40 pessoas, que serviu até 1970. “Tínhamos um terreno na Avenida Conselheiro Barjona de Freitas e dividimos em três partes: ficámos com uma e cedemos as outras duas a um construtor, que nos fez a igreja e por cima o nosso convento, um ‘convento vertical’ de sete andares”, conta o pároco de Calhariz de Benfica. É neste convento que funciona a paróquia, mas também a Cúria Provincial dos Capuchinhos. “Na cave fica a igreja e, ao lado, as capelas mortuárias, no rés-do-chão há a receção e atendimento, o 1º andar é confiado à paróquia para o cartório e as salas da catequese, no 2º andar temos a Difusora Bíblica, no 3º começa a cozinha, lavandaria, sala de televisão e sala de jantar, no 4º andar a capela, a biblioteca, sala de visitas, despensa e dois quartos, o 5º andar tem os restantes quartos, o 6º andar é a sede dos Capuchinhos em Portugal, a Cúria Provincial, e no 7º novamente quartos. É um convento em altura!”, descreve este frade.

É no meio de prédios que fica situada a igreja paroquial. No piso inferior, por baixo do convento, numa decisão dos Capuchinhos que teve como base o Concílio Vaticano II. “Estávamos em 1970, poucos anos após o final do Concílio, e a igreja foi pensada assim, para ficar na parte de baixo de um prédio, no meio do povo”, justifica frei António Martins.

 

A segunda encarnação

A 2 de fevereiro de 1970, pelo cardeal Cerejeira, foi criado o vicariato paroquial da Sagrada Família do Calhariz de Benfica. “Esta é uma zona geográfica desdobrada da freguesia de São Domingos de Benfica, que compreende três paróquias: São Domingos de Benfica, a paróquia mãe, Calhariz de Benfica e São Tomás de Aquino”. Neste mesmo dia, mas passados 10 anos, em 1980, “quando a comunidade já estava amadurecida”, foi criada a paróquia. O pároco do Calhariz diz que está na “segunda encarnação” nesta paróquia da cidade. “Fui o primeiro pároco, entre 1970 e 1987, seguiu-se Madrid, o Porto e depois fui Provincial, e agora estou aqui novamente, desde setembro de 2014”, conta. Sobre o que encontrou de diferente na ‘sua’ paróquia do Calhariz, este frade não hesita: “Na minha primeira encarnação tínhamos 400 crianças na catequese, agora pouco passa das 100… havia 120 bebés a batizar por ano, agora não chegamos a 30 bebés. Chegámos a ter cinco grupos de jovens, só que essa gente casou e foi viver para outro lado e nós ficámos com uma comunidade envelhecida. A paróquia está muito envelhecida”. Frei Martins, que tem a colaboração sobretudo do coadjutor frei José Lopes, mas também do secretário provincial frei Américo e ainda de frei Antero, exemplifica as mudanças na pastoral, face à nova realidade que encontrou neste regresso à paróquia: “Coisas impensáveis há 30 anos, como ter um grupo de visitadores de doentes, hoje é uma das necessidades que eu quero reestruturar, porque atualmente temos muitos idosos e muita gente isolada. Será um grupo composto por vicentinos e ministros extraordinários da comunhão. Ao mesmo tempo, temos de apostar em gente amadurecida, que possa colaborar com a Igreja, porque tem mais tempo livre”. Os casais das Equipas de Nossa Senhora e as seis comunidades do Caminho Neocatecumenal são “uma grande ajuda a nível pastoral” na paróquia do Calhariz. “Uma das ‘baixas’ que tivemos foi o senhor D. João Marcos, atual Bispo Coadjutor de Beja, que pertencia a uma das dessas comunidades e vinha muitas vezes aqui celebrar”, salienta frei António Martins, que na paróquia anda sempre vestido com o hábito. “Como não é comum, as crianças aproximam-se muito”, aponta.

 

Presença divina no quotidiano

Desde 1992 que a paróquia do Calhariz de Benfica não recebia a Visita Pastoral. De 26 a 31 de janeiro, o Bispo Auxiliar de Lisboa D. Nuno Brás visitou esta paróquia da Vigararia Lisboa III, com frei Martins a destacar “a proximidade de D. Nuno” com todas as pessoas. “É sempre bom termos o senhor Bispo próximo de nós. Por um lado, porque representa Cristo Bom Pastor; por outro, porque é o elo de comunhão eclesial. Temos de apostar na comunhão obediencial eclesial, porque se não facilmente descarrilamos”, refere o padre frei António Martins.

Na conclusão da Visita Pastoral, D. Nuno Brás presidiu à Eucaristia, lembrando que “a presença de Deus é, antes de mais nada, uma presença no quotidiano”. “Gostava de vos convidar a tomar consciência de que Deus está connosco, nos acompanha, nos sustenta e nos apoia. Mas a sermos nós também esta presença de Deus no meio do mundo, a fazer a diferença. Nós somos esta presença de Deus, assim, simples mas eficaz, humilde mas sempre presente. Que cada um de nós seja capaz de dizer, de mostrar, a todos aqueles que connosco se cruzam, na família, no trabalho, nos divertimentos, que Deus também os ama e não desiste. Se o fizermos, não tenhamos dúvidas disso, estamos a fazer o maior serviço que podemos alguma vez prestar a quem quer seja, à própria humanidade, à própria cidade de Lisboa”, garantiu o Bispo Auxiliar do Patriarcado.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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