Presos, leprosos, cegos, pobres. Todos os dias os Franciscanos do Emanuel saem para as ruas ao encontro dos mais pobres dos pobres da comunidade. Numa região já perturbada pelos tambores da guerra e do terrorismo, estes homens de Deus são semente de paz.
Por ali, em Nkongsamba, todos os conhecem, todos sabem quem são os Franciscanos do Emanuel. Vestem-se com uma túnica comprida, de um azul acinzentado, com capuz, e uma corda à cintura de onde pende, também, um largo terço. Estão praticamente sempre a sorrir. A alegria destes franciscanos é contagiante. Algum segredo haverá, pois quase 60% de todos os membros desta ordem franciscana fundada no Canadá estão ali, nos Camarões, desde há 15 anos. O Irmão Denis-Antoine é o rosto desta comunidade em Nkongsamba, em resposta ao repto então lançado pelo bispo local. Era necessário que alguém, inspirado por São Francisco de Assis, aceitasse partilhar com os mais pobres a alegria do Evangelho.
Tambores de guerra
Todos os dias, Denis-Antoine, juntamente com os seus irmãos, palmilha as ruas para levar uma palavra de conforto aos leprosos, aos cegos, aos que estão nas cadeias, às famílias em maior necessidade. E fazem-no sempre com uma alegria cativante. “Somos filhos de Deus, que poderá acontecer-nos?”, afirma Denis-Antoine, não dando importância às notícias inquietantes que ultimamente têm sobressaltado as populações deste país africano. A situação tensa que se vive na fronteira com a Nigéria, com os jihadistas do Boko Haram a fazerem da região como que um santuário para os seus combatentes, tem levado, nos últimos meses, à fuga de milhares de pessoas. Calcula-se que, neste momento, mais de 400 mil pessoas vivam refugiadas nos Camarões, em fuga da guerra e dos atentados na Nigéria, mas também em fuga da República Centro-Africana.
Ameaças à paz
Em Setembro do ano passado, um duplo atentado no norte do país provocou mais de três dezenas de mortos e inúmeros feridos. Por ali, não vale a pena falar em fronteiras. As pessoas atravessam de um lado para o outro entre os Camarões e a Nigéria com a maior das facilidades. Qualquer pessoa pode fazê-lo. Até os bombistas suicidas que querem implantar um estado islâmico à força na região.
São muitos os desafios que se colocam à comunidade franciscana do Emanuel durante os tempos mais próximos. No norte do país, a ameaça vem do Islão fanático, enquanto ao sul alastram as seitas evangélicas. O Irmão Denis-Antoine não parece preocupado. Sempre com um sorriso imenso que lhe ilumina o rosto, prefere falar de como a comunidade franciscana tem crescido, com 22 irmãos e 95 leigos, em cinco dioceses, sendo que o trabalho, ali, em Nkongsamba tem um papel particular, com a criação de um centro espiritual que está a ser edificado e que se irá transformar no espaço central para a formação do clero deste país africano.
O sal da vida
O Irmão Denis prefere, porém, destacar o trabalho com os mais pobres. É aí que está o centro do Evangelho. É aí que está o sal desta comunidade fraterna. “Os mais pobres, os presos, os doentes, são meus irmãos e irmãs. Nos seus olhos vejo Cristo, vejo a alegria dos redimidos.” Neste Ano da Misericórdia, ali, nos Camarões, apesar da violência ensurdecedora que chega todos os dias pelas rádios e televisões, apesar das ameaças dos islamitas do Boko Haram, é possível construir um oásis de paz. O Centro que os Franciscanos do Emanuel estão a edificar nos Camarões, com o apoio dos benfeitores e amigos da Fundação AIS, é um sinal de esperança nestes dias de tempestade. Se o ódio alimenta a guerra, o amor é fermento de paz. Na comunidade Emanuel, ninguém é dono de nada. Ninguém sabe sequer o que vai ter para comer no dia seguinte. Tudo o que têm recebem. Tudo o que recebem distribuem. Estes franciscanos, amigos dos pobres, dos leprosos e dos presos, são semente de um tempo novo, sem guerras nem violência. “É o amor que salva. O amor ganha força na amizade que temos uns pelos outros”, explica, em poucas palavras, o Irmão Denis-Antoine, como se estivesse a revelar o segredo desta comunidade franciscana. “Esta amizade faz sentir o amor de Deus.”
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