A Radio Vaticano informava há dias que “o Pacto das Catacumbas está a completar 50 anos e será lembrado em Roma com 3 dias de eventos e a participação de 250 pessoas de todo o mundo pertencentes a congregações, universidades, movimentos e associações.” Entre nós, no passado dia 16, realizou-se, na Capela do Rato, o lançamento do livro ‘O Pacto das Catacumbas’, com apresentação do Cardeal-Patriarca, numa iniciativa dos Missionários do Verbo Divino e da Paulinas Editora.
Os sinais dos tempos
Apesar de pouco conhecido, esse pacto tem um significado profundo por aquilo que representa: um compromisso assumido por meia centena de Padres Conciliares, os quais, já na fase final do Concílio constatavam que o desejo de uma Igreja serva e pobre, manifestado por João XXIII, não tinha provocado grande impacto. Por isso assumem retomar essa perspetiva, como um compromisso pessoal e ao mesmo tempo um convite aos irmãos no episcopado. Aconteceu no dia 16 de Novembro de 1965, quando celebraram a Eucaristia nas Catacumbas de Domitila, um lugar simbólico de uma “Igreja despojada de poder humano, pobre, humilde, piedosa, oprimida e heroica” como o afirmara Paulo VI numa visita às mesmas.
Não o fizeram como arma de arremesso contra posições diferentes, nem os moveram sentimentos de singularidade e de presunção. Apenas, atentos aos sinais dos tempos e abertos à ação do Espírito, regressaram às fontes cristalinas do Evangelho anunciado por Jesus, Ele que virou a perspetiva histórica ao contrário, ao apresentar uma nova ordem de valores, onde o maior é a aquele que serve e o mais importante é o mais pequeno.
Assim se propõem viver segundo a maneira normal do povo, renunciar à aparência e à realidade da riqueza, às insígnias de materiais preciosos, à posse de bens em seu nome, a títulos que sugiram grandeza e poder; propõem-se evitar privilégios bem como incentivar ou lisonjear a vaidade e dar atenção aos grupos economicamente mais frágeis; procurarão transformar as obras de beneficência em obras sociais baseadas na caridade e na justiça; sugerem aos responsáveis dos governos que realizem a justiça, a igualdade e o desenvolvimento harmónico do homem todo, com vista a uma ordem social nova e digna.
Convite a ver e a sair
Quem viveu em tempos pré-conciliares teve a oportunidade de descobrir as forças que fazem avançar a Igreja. O Concílio, com todas os seus questionamentos, interpelações e debates (por vezes muito acesos) constituiu uma oportunidade para regressar à fidelidade ao Evangelho, que nos deixa sempre a caminho. E muitos foram os passos em frente, vencendo a resistência da mudança, da presunçosa segurança, da verdade única. A Igreja é convidada a sair, como peregrina que é, e a levar consigo toda a humanidade; ultrapassada a visão dicotómica do sagrado e do profano, tudo a encaminha para a dignidade da pessoa e o Reino de Deus não mais poderá ser olhado como organização de poder, mas sim como a realidade que se vai transformando lentamente num mundo melhor e mais feliz. Não foram os signatários do Pacto (a que se juntaram 500 Bispos), que criaram esta perspetiva; eles limitaram-se a abrir a sua mente e o seu coração a esse fermento evangélico, deixando-se transformar também eles em fermento.
Caminho feito e a fazer
Caminhou-se em frente no campo da doutrina, da liturgia, mas também desta dinâmica da incarnação, que coloca a Igreja não à parte, mas inserida nas realidades terrestres. Ela continuou, em muitos sítios, a viver em registo de catacumbas. Recordo aqueles pequenos grupos com uma vivência de inserção (como o chamado “Igreja dos Pobres”, onde a iniciativa do Pacto encontrou inspiração) ou as pequenas comunidades religiosas que, contra os padrões correntes de pensar e bem-estar, entenderam “sair” para estar mais perto de quem estava na periferia (como nos bairros degradados da nossa capital). Mas também representantes qualificados da Igreja se aproximaram dessas pequeninas fogueiras que garantiram o calor e a alegria transformadora do Evangelho. O Papa Francisco não se cansa de o repetir; basta atender às suas intervenções ao longo da última semana. O despojamento em relação ao poder e o marcar a realidade com o espírito libertador de Jesus foram ontem um marco importante e são hoje um sinal apontando um caminho longo ainda a percorrer.
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