Quem forma os candidatos ao sacerdócio? Como é constituída a equipa formadora do Seminário Maior da diocese? Que desafios se colocam à formação dos futuros sacerdotes? Na Semana dos Seminários (8 a 15 de novembro), o Jornal VOZ DA VERDADE dá a conhecer a equipa formadora do Seminário de Cristo Rei, nos Olivais.
São cinco os padres que constituem a atual equipa formadora do Seminário dos Olivais, na Diocese de Lisboa. Aos seus cuidados estão 47 jovens candidatos ao sacerdócio, mas nem todos são de Lisboa. “É uma comunidade de vida cristã, em formação para o sacerdócio e corresponde à última fase do itinerário de formação da Diocese de Lisboa e de outras dioceses que também fazem, no Seminário dos Olivais, a formação dos seus futuros sacerdotes”, explica o reitor deste seminário, padre José Miguel Pereira.
O Seminário de Cristo Rei, nos Olivais, é o Seminário Maior do Patriarcado de Lisboa e acompanha os seminaristas do 3º ao 6º ano de Teologia – a última etapa daqueles que procuram ver confirmada a vocação a que foram chamados. Ao Jornal VOZ DA VERDADE, os membros da equipa formadora deste seminário descrevem a sua missão e falam sobre os principais desafios para a formação dos novos padres.
Padre José Miguel Pereira
44 anos
Reitor
“A minha missão é tentar ser congregador, é conseguir que, numa coresponsabilidade, nos animemos, como equipa, para assumir esta missão de cuidar daqueles que o Senhor confia à nossa guarda, numa sintonia afetiva e pastoral com o nosso Bispo, mas também com os outros Bispos e reitores que têm aqui seminaristas. Com a ‘rapaziada’, procuro ser um bocadinho o rosto do chamamento de Deus junto deles.”
Este sacerdote destaca a importância da família para o processo formativo do seminarista, embora reconheça a necessidade de um “maior aprofundamento” nesta temática. “Fazemos anualmente alguns momentos de encontro com as famílias. Depois, a propósito dos passos que vão dando, sempre que há instituições ou ordenações, as famílias são convidadas para virem ao seminário, bem como na comemoração dos aniversários”, refere o reitor, lembrando que “o caminho do seminarista também é o caminho da família, e o caminho da família também acompanha o caminho do seminarista”.
Para este sacerdote, que está nestas funções desde 2011, os frutos do trabalho como formador vão-se vendo nas “vidas que se vão aprendendo a aprofundar, a solidificar em alguns dinamismos de fé, a lidar com as suas fraquezas e dificuldades”. “É muito consolador chegar ao dia das ordenações e participar daquilo que é a ordenação de um novo padre”, afirma, satisfeito.
Para o reitor do Seminário dos Olivais, os desafios que se colocam na formação de novos padres são a capacidade de formar “gente que não tenha medo de ser pastor, que não seja apenas aplicador de doutrina ou de regras, mas que também não seja árbitro que faz aquilo que, em cada momento, sente. E também que sejam muito desafiados a serem pastores, a caminharem num rebanho e a confiar que é o Espírito Santo que conduz o rebanho, a acompanhar proximamente cada um e o povo de Deus nos desafios que vai fazendo. É um dinamismo de comunhão, na pluralidade”, justifica.
Padre Alexandre Palma
37 anos
Prefeito
“Enquanto os diretores espirituais fazem um acompanhamento mais interno e pessoal, os prefeitos fazem um acompanhamento mais atendendo e observando todas as outras dimensões da vida, ou seja, os estudos, a iniciação pastoral, a vida comunitária e, obviamente, a vida de oração.”
O padre Alexandre Palma entrou para a equipa formadora do Seminário dos Olivais em abril de 2012. No “longo prazo”, este sacerdote considera que o grande fruto da formação de novos padres é “ver gente a crescer, ver gente que dá passos humanos, espirituais, de fé, e intelectuais”. “Nuns casos mais, noutros menos”, aponta este sacerdote, afirmando que o trabalho que é feito na formação terá, “para graça ou desgraça”, uma “reflexão no presbitério das dioceses que são formadas no Seminário dos Olivais”.
“Há agora um estilo de se ser padre que tempos novos exigem”, aponta o padre Alexandre Palma. “Por um lado, somos herdeiros de gerações anteriores, de padres mais velhos que devemos saber honrar. Há um capital de generosidade e martírio, até, que devemos saber honrar, estar a altura do legado de quem nos precedeu. É uma ideia que temos de cultivar nos novos padres. É uma coisa que nos precede e que nos sucede”, define um dos dois prefeitos do Seminário dos Olivais.
Para o padre Alexandre Palma, um segundo aspeto reside na existência de “um estilo de ser padre mais simplificado, no sentido de uma presença simples, que talvez venha das provocações e interpelações do Papa Francisco”. Na formação dos seminaristas, há também um desafio que passa pela preparação para um “estilo de vida presbiteral e eclesial, mais assente na lógica da comunhão”, de modo a “construir comunidades com leigos, religiosos, não crentes e ser um fator de comunhão entre pessoas” e “com o próprio presbitério, com o Bispo à cabeça”, assegura.
Padre Carlos Miguel Gonçalves
41 anos
Diretor Espiritual
“A minha missão é acompanhar uma pessoa que alegadamente é chamada por Deus para este ministério. Há uma história que me precede. Tenho também uma função própria de diretor espiritual, como padre, ou irmão mais velho, de ir acautelando, ajudando, mostrando caminhos, prevenindo armadilhas, enganos, para que a resposta seja a adequada ou para que seja a descoberta de que afinal Deus não chama.”
Há cerca de um ano na função de diretor espiritual do Seminário dos Olivais, o padre Carlos Gonçalves acompanha, de muito perto, alguns dos candidatos ao sacerdócio que estudam neste seminário. “A caminhada espiritual dos candidatos acaba por ser a caminhada geral da sua vida, nesta fase em que eles estão a ser iniciados no ministério sacerdotal”, refere. “A minha função aparece no quadro global do seminário que tem uma proposta formativa e que é muito mais abrangente do que apenas a direção espiritual. É também dialogando com a parte mais global e do foro externo que eu ajudo estas pessoas que nós achamos que, neste momento, têm vocação ao sacerdócio”, descreve o padre Carlos Gonçalves.
Neste trabalho de formação, “uma grande parte dos frutos, nem os conhecemos. Se a pessoa responde adequadamente ao chamamento de Deus e se isso acontece já é um fruto” que se “torna mais concreto com a ordenação”, afirma. “Quase sempre vemos caminhadas muito significativas de crescimento espiritual, de crescimento humano, cristão, de vida evangélica... mesmo com algum seminarista que saia do seminário porque descobriu que a sua vocação é outra. Tudo isso são frutos”, salienta.
Sobre os desafios que se colocam aos novos sacerdotes, o padre Carlos sublinha que “ser padre para este tempo significa algo muito concreto: ser ao mesmo tempo rosto de misericórdia para esta humanidade, na Igreja, sem que isso seja contraditório – e não é –, com a apresentação de uma proposta firme e concreta de alguém que guia o povo, que é pastor. Outro desafio é também combater uma conceção ideológica do ministério, de militante, no fundo, trabalhar para que apareça a conceção evangélica do que é ser padre, no contexto que é a Igreja”, refere o padre Carlos Gonçalves, diretor espiritual.
Padre Pedro Lourenço
42 anos
Prefeito e responsável pela formação musical e litúrgica
“Na missão como prefeito, estou a acompanhar o curso do 4º ano, com 18 seminaristas. Passa por acompanhar o dia-a-dia da missão deles, sobretudo nas coisas práticas, como por exemplo, na vida académica e na ligação com o trabalho que fazem nas paróquias ao fim-de-semana.”
Foi ordenado sacerdote há 17 anos e, ao final de dois, foi trabalhar para o Seminário dos Olivais, integrando a equipa formadora. Mais tarde, foi para Roma estudar liturgia e regressou, depois, a este seminário. “Quando regressei, voltei a integrar a equipa formadora e, na altura, nem fiquei como prefeito porque o senhor Patriarca D. José Policarpo pediu-me a responsabilidade da formação musical e litúrgica no seminário. No ano seguinte, o número de seminaristas aumentou bastante com os alunos vindos de outras dioceses e foi necessário alargar as responsabilidades dos membros da equipa formadora. Então, voltei a assumir a missão de prefeito, mantendo a responsabilidade da formação musical e litúrgica no Seminário dos Olivais”, conta o padre Pedro Lourenço.
Este sacerdote garante que “a preparação não passa tanto por aulas de liturgia, uma vez que o curso é feito na universidade, mas passa muito por um cuidado na preparação das celebrações, pelo acompanhamento regular”, observa.
Dos desafios que se apresentam à formação dos candidatos ao sacerdócio, o padre Pedro Lourenço destaca “a consolidação interior, ou seja, uma vida espiritual intensa, bem fundamentada, porque é isso que permite partir em missão. Aquela ideia contrária, de um certo ativismo, de partir em missão conforme estamos, depois dá maus frutos”. “Para sairmos de nós mesmos também temos que nos encontrar com nós mesmos”, conclui.
Padre Rui Pedro Carvalho
37 anos
Diretor espiritual
“Ser diretor espiritual é conhecer o candidato por dentro e ir ajudando a estruturar um homem, um cristão, um santo e um padre, sendo também seu confessor. Vamos experimentando, através do acompanhamento, como Deus os olha com misericórdia, como os vai chamando e fazendo uma obra neles, na medida em que eles também se deixam transformar por Ele.”
Em funções há um ano e meio, este jovem padre olha para o trabalho de direção espiritual como “uma sementeira”. “Quando a olhamos diariamente, parece que está sempre tudo igual mas, passado algum tempo, olhamos e vemos que há aqui coisas a acontecer. É progressivo e tem fases”, descreve. Neste trabalho de “acompanhamento interior”, o padre Rui Pedro reconhece que “Deus chama homens frágeis e pecadores” para os tornar também “curadores feridos, à imagem de Jesus”. Por isso, tornar visível “a experiência do encontro com Deus” e “serem pastores humildes e perceberem que este ministério não tem a ver com a qualidade humana dos seminaristas ou por serem o ‘supra-sumo dos cristãos’”, é o desafio que se coloca à formação dos futuros padres.
O padre Rui Pedro, que é também o diretor da Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa, afirma que o acompanhamento das famílias e dos seminaristas é uma “mais-valia e tocam-se muito, porque os problemas que os casais vão vivendo no casamento, como por exemplo na falta de diálogo, por vezes é o problema que os celibatários têm na falta de oração”. “Na Igreja somos uma família. É um jardim com vocações muito belas, ao matrimónio e ao celibato. Elas ajudam-se, são complementares. Preparamos padres para ajudarem as famílias a serem famílias e teremos famílias que vão ajudar os padres a serem padres”, aponta.
__________________
Seminaristas
Atualmente, o Seminário Maior de Cristo Rei, nos Olivais, tem 47 seminaristas, oriundos de várias dioceses portuguesas e estrangeiras: Lisboa, Santarém, Funchal, Aveiro, Portalegre-Castelo Branco, Leiria-Fátima, Santiago e Mindelo, em Cabo Verde, Cochim, na Índia, e São Tomé e Príncipe.
__________________
http://seminarios.patriarcado-lisboa.pt
Novo site reúne informação sobre os quatro seminários diocesanos, em Lisboa: Seminário de Cristo Rei, nos Olivais, Seminário de São José, em Caparide, Seminário de Nossa Senhora da Graça, em Penafirme, e Seminário Redemptoris Mater, em Caneças.
![]() |
Guilherme d'Oliveira Martins
A Santa Sé acaba de divulgar o tema da mensagem do Papa Leão XIV para o Dia Mundial da Paz de 2026....
ver [+]
|
![]() |
Tony Neves
Domingo é o Dia Mundial das Missões. Há 99 anos, decorria o ano 1926, o Papa Pio XI instituiu o Dia Mundial...
ver [+]
|
![]() |
Pedro Vaz Patto
No âmbito das celebrações do ano jubilar no Patriarcado de Lisboa, catorze organizações católicas (Ação...
ver [+]
|
![]() |
Tony Neves
Há notícias que nos entram pelo coração adentro deixando-nos um misto de sentimentos. A nomeação do P.
ver [+]
|