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P. Duarte da Cunha
O Sínodo e as imagens da Igreja
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O Sínodo dos bispos que decorreu em Roma durante o mês de Outubro foi dedicado à família. Apesar de esse ter sido o tema do Sínodo, por causa do que lá se discutiu, mas sobretudo por causa dos debates que aconteceram a propósito de alguns pontos discutidos entre os bispos, ficou patente que há diversas “ideias” de Igreja que se confrontam. O que aqui proponho é certamente limitado e talvez injusto, mas partilho como um ponto de reflexão a aprofundar.

Temos por um lado aqueles para quem o essencial na Igreja é a moral. Cristo aparece como um mestre de moral e a Igreja como a instituição que dita regras de vida inspiradas em Jesus. É aqui que se enquadram as lutas entre progressistas e conservadores. Uns acham que as regras devem mudar para se adaptarem ao mundo moderno, outros que as regras são imutáveis. Mas ambos os grupos têm um handicap, porque olham para a Igreja como se fosse apenas uma instituição moralizadora. Como olhar para quem não cumpre as regras? como educar os jovens para que aprendam e cumpram as regras? como enfrentar um mundo que já não dá importância a essas regras?, são algumas das questões que surgem como essenciais quando se fica neste horizonte. Não é sequer solução tentar ser moderado, pensando que se é mais sábio ficando pelo meio termo, porque querer ficar entre os que acham que tudo é válido desde que a pessoa tenha boa vontade e os que acham que as regras devem ser cumpridas à risca é sempre ficar neste horizonte da moral. O importante é ir à raiz das questões e não ficar na discussão do que se pode ou não fazer.

Um outro horizonte das discussões à volta do Sínodo é aquele que olha para a Igreja apenas como uma realidade sociológica. Os responsáveis da Igreja que discutem nos limites deste horizonte aparecem como pessoas preocupadas em garantir que a instituição funcione, que seja apelativa e moderna para que as igrejas não fiquem vazias. Pretender atrair pessoas, recorrendo aos meios de comunicação mais sofisticados, adaptando alguns aspectos da comunicação e da linguagem é importante, mas não me parece que seja esse o problema de hoje.

É verdade que a moral e as regras são importantes, mas isso não é o essencial. A moral decorre da fé e a fé explica quem somos e qual o bem que Deus nos quer dar e nos pede para pôr em prática. A moral, por isso, é o caminho para se viver a fidelidade a Cristo, mas isso significa que o primeiro objectivo da Igreja é o encontro com Cristo de onde virá uma moral correspondente ao ideal de santidade de Jesus Cristo. Uma evangelização eficaz tem, portanto, de ter no centro das suas preocupações a vontade de Deus que quer encontrar e salvar todos, e tem de olhar com atenção para as pessoas que procuram, por vezes sem o saber, a Verdade que só Deus revela e oferece.

Também é verdade que a dimensão institucional da Igreja é indispensável, e que as suas obras são de enorme utilidade e que ela deve saber falar às pessoas de hoje. Porém, a Igreja é mais do que uma instituição ou um clube que procura sócios, é uma família, é o corpo de Cristo, e, por isso, a sua preocupação última não é ela mesma. Como diz o Papa Francisco, a Igreja não pode ser “auto-referencial”, mas deve fazer sempre referência a Cristo.

Quando o Papa insiste na “cultura do encontro” e diz que a Igreja deve ser uma “Igreja em saída” dá-nos a linha clara do caminho a seguir. A Igreja existe para que quem a encontra encontre Jesus Cristo e encha a sua vida de alegria. É assim que quer a moral quer a dimensão institucional da Igreja se mostram importantes, mas decorrentes da verdade da Igreja e não podem ser compreendidas desligadas do encontro com Jesus vivo.

Voltando ao Sínodo e à família, parece-me que se pode concluir que o ponto central é o de insistir na evangelização da família e de cada um dos seus membros. Eu acredito que o que a Igreja diz e ensina faz todo o sentido, mas estou convencido que só se compreende este sentido quando encontramos Cristo e reconhecemos que Ele é a verdade que nos ensina a viver, a amar e a servir.