Tinha apenas 3 anos. Morreu na praia, na Turquia, quando a sua família procurava fugir da guerra na Síria. O mundo comoveu-se quando viu a sua fotografia, de bruços, com a água a tocar-lhe o rosto, ou depois, quando um polícia o retirava dali com todo o cuidado, como se ainda estivesse vivo. A morte de Aylan vai fazer alguma diferença?
Quantos Aylan já morreram sem direito sequer a fotografia? Quantos Aylan morreram sem que o mundo se tivesse comovido? As lágrimas que foram choradas por esta criança de apenas 3 anos são talvez o símbolo maior da nossa impotência perante a tragédia dos refugiados que estão a bater à porta da Europa. À nossa porta. Não é possível ignorar isto. O que vale uma fotografia? O menino Aylan morreu quase na praia. Nesse dia, nesses instantes de tragédia quando o barco começou a meter água, quando estavam quase a chegar a terra, o mundo chegou ao fim para o pai de Aylan, Abdullah Kurdi. A família estava em fuga da Síria. Ele, Abdullah, a sua mulher, o filho mais velho, de 5 anos, e o bebé, Aylan, de apenas 3 anos. Estavam a cumprir o sonho de uma vida nova sem o medo da guerra, o cheiro da morte e o ruído ensurdecedor das metralhadoras a cuspirem sangue. Faltava tão pouco…
A tragédia
Tudo acabou ali, derramado em lágrimas que se confundiram com as águas salgadas do mar. “Os meus filhos escorregaram das minhas mãos”, disse, depois, aos microfones dos jornalistas, ainda perplexo perante o naufrágio da sua própria vida.
O barco, onde viajavam e que lhes tinha custado uma fortuna – todo o dinheiro que tinham – estava a meter água. Muitos dos que iam a bordo ficaram em pânico. Foram momentos trágicos, com gritos, pessoas a cair borda fora, a desaparecerem nas águas. Como esquecer? Abdullah agarrou na sua mulher e nos filhos quando o barco se virou. “Os meus filhos escorregaram das minhas mãos”, disse depois, como quem suporta agora um fardo de que nunca se irá libertar. Morreram todos. Ficou ele para contar a história. Ficou a fotografia de Aylan para comover o mundo.
É preciso recuar até ao fim da II Guerra Mundial para nos darmos conta de uma situação semelhante. De uma tragédia assim. São milhares e milhares de pessoas em fuga de uma região em guerra, o Médio Oriente, e que arriscam a vida a caminho da Europa. São tantos que não é possível ignorá-los. Seria um crime fingir que não os vemos, mesmo que fossem apenas uma família, apenas meia dúzia de pessoas. Mas são milhares. Que fazer agora?
É a nossa vez
Ninguém escolheu estar vivo agora. Ninguém. Nenhum de nós é responsável pelo que está a acontecer a nível mundial, mas todos somos responsáveis pela forma como responderemos aos que nos gritam por ajuda. A Fundação AIS é uma das instituições da Igreja e da sociedade civil que integra a Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR) que tem como objectivo principal apoiar o acolhimento e integração de crianças refugiadas e das suas famílias em Portugal. A Fundação AIS pretende mobilizar os seus benfeitores e amigos para se criar, aqui, em Portugal, essa rede de acolhimento. Tal como aconteceu no rescaldo da II Guerra Mundial, quando o Padre Werenfried van Straaten se comoveu com os milhares de refugiados oriundos da Alemanha e que deambulavam como miseráveis pelas ruas da Europa, com fome, sede e cheios de frio. Nasceu aí a lenda do Padre Toucinho. Ele conseguiu, inspirado que estava por Deus, convencer as pessoas a doarem o pouco que tinham àqueles que eram ainda, para muitos, o inimigo. Hoje, o desafio não é diferente. Somos interpelados a dar o que temos. Nenhum de nós é responsável por estas guerras, por esta multidão de refugiados, por esta tragédia. Mas todos seremos julgados por aquilo que fizermos e seremos principalmente julgados por aquilo que não fizermos. “Vemos, ouvimos e lemos”, dizia Sophia de Mello Breyner. Não podemos ignorar.
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