Explicando aos jornalistas o significado do nome Francisco que escolhera, o Papa recordou as palavras que o Cardeal Cláudio Humes lhe tinha sussurrado quando a sua escolha já se tornava evidente: “Não te esqueças dos pobres”. A palavra pobre trouxe-lhe à mente a figura de Francisco de Assis, as guerras que ocupavam os poderosos e a paz que é o sonho de todos. O nome que escolheu identificava-se com um projeto de vida, com a sua missão.
O cuidado da casa comum
É assim que a Encíclica “Laudato si”, acabada de aparecer, é expressão de uma espiritualidade profunda que parte do reconhecimento de um Deus que nos entrega o cuidado da casa comum; da casa onde cabem todas as pessoas e tudo o que com ela está relacionado, desde a corporeidade que a liga à terra até aos sonhos mais belos que a lançam para a transcendência. Só alguém com uma sensibilidade de poeta e uma simplicidade de pobre e de sábio, como o Povorello, consegue ir entrando nessa realidade próxima e ao mesmo tempo infinita, nunca deixando o princípio de tudo desligado de qualquer lugar ou momento. Por isso esta não é apenas uma “encíclica verde”; é um esforço a juntar os muitos fios que constituem o tecido que é a humanidade, para aí introduzir o seu contributo de harmonia, que se expressará em felicidade. Mas não é o esforço de uma só pessoa ou de um só grupo: assume-se “a reflexão de inúmeros cientistas, filósofos, teólogos e organizações sociais que enriqueceram o pensamento da Igreja sobre estas questões.” Constitui um marco para a Igreja que deve fazer suas “as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias do homens de hoje”; um marco para as pessoas de boa vontade, interessadas num mundo mais feliz.
A degradação que nos destrói
O mundo está aí diante de nós com tremendos desafios e penosas incertezas: temos as atrocidades diárias da guerra, o drama dos deslocados, o escândalo da fome, a injustiça da pobreza, a insegurança deixando o amanhã por um fio; temos as novas escravaturas exercidas sobre os indefesos e sobre aqueles que aparentemente libertos e ricos deixaram de ter acesso a coisas fundamentais como o tempo para si, para a família, para os amigos, porque transformados em peça de uma máquina que tem de produzir coisas; a par da superabundância e do consumismo cego, temos as diferenças obscenas no acesso aos bens materiais, à educação, à saúde.
Já há muito que se vem falando da relação da pobreza com a guerra e também das agressões ao meio ambiente como potenciadoras de ambas e de uma catástrofe global. Recordo o que a queniana Wangari Maathai, Prémio Nobel da Paz em 2004, escreveu num dos últimos livros: “Nas regiões subdesenvolvidas a preocupação pelas questões ambientais é tida como um luxo. Mas não é: a proteção e restauração dos ecossistemas, a diminuição ou reversão do aquecimento global são questões de vida ou de morte… Se destruímos o ambiente, estamos a matar-nos a nós próprios”.
Um convite urgente
Inserindo-se no movimento ecológico mundial que já percorreu “um longo e rico caminho”, o Papa lança “um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos a construir o futuro do planeta”. Lamenta que “muitos esforços na busca de soluções concretas para a crise ambiental acabam, com frequência, frustrados não só pela recusa dos poderosos, mas também pelo desinteresse dos outros.” Nestes outros inclui os crentes, que também percorrem caminhos de indiferença, de resignação acomodada ou confiando cegamente nas soluções técnicas. Eles e os outros apenas precisam de estar atentos ao que as novas tecnologias deixam entrar nas nossas casas: a exploração mineira irresponsável, a destruição dos ecossistemas, o envenenamento das reservas de água, a produção incontrolável de antibióticos com lançamento de efluentes perigosos para os cursos de água, a produção de pesticidas com danos mais do que colaterais, a exploração industrial descontroladas de espécies piscícolas, a poluição dos oceanos… e a lista continua. A abertura de espírito à universalidade e à globalidade nos alerta para o mais importante da vida. Talvez então possamos descobrir que o Reino de Deus está aqui e também a nós compete fazê-lo avançar. E muitas vezes com um clique no nosso computador já podemos manifestar que queremos e exigimos respeito pela casa comum.
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