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Síria: Irmã Annie lança grito de ajuda desde Aleppo
Silêncio que mata
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Aleppo está a ferro e fogo. A guerra civil redobrou de violência nos últimos dias e, se nada se fizer, teme-se o pior. Desta cidade, que já foi o orgulho da Síria, chega-nos um grito de dor, chega-nos uma carta escrita em lágrimas. A Irmã Annie pede-nos ajuda. Antes que seja tarde de mais.

 

O mundo parece ter esquecido a cidade de Aleppo. Nos últimos dias, nas últimas semanas, os combates ganharam novo vigor, adquiriram uma violência inusitada, mas ninguém fala disso. A guerra civil na Síria dura há já quatro anos. O mundo parece que se anestesiou perante tanto sangue, tanto escombro, tanta notícia de morte. Anestesiou-se e esqueceu. Mas há ainda quem viva lá, nessa cidade que já foi o orgulho da Síria, com uma história que atravessa séculos, até ao império otomano, mas que parece não resistir às balas de agora, às rajadas das metralhadoras que vomitam pólvora e sangue, aos bombardeamentos cegos dos aviões que riscam os céus. Aleppo está a morrer e ninguém parece ser capaz de sobreviver à guerra que está a matar a cidade.

 

Derradeiro grito

De Aleppo chega-nos uma carta. Escreve-nos Annie Demerjian, da Congregação das Irmãs de Jesus e Maria. Os seus dias são uma aflição. Não tem mãos a medir perante tantos pedidos de ajuda. Annie escreve-nos como quem lança um grito, um derradeiro grito. “Parece-me que a cidade de Aleppo foi esquecida e o mundo inteiro está em silêncio. Ninguém fala dos massacres contra a humanidade. Quanto tempo é que o mundo vai permanecer em silêncio a assistir a tudo como espectador?” Estas são palavras desesperadas, de quem sente que já nada pode fazer. Todas as ruas de Aleppo foram transformadas em cemitérios. Todas as ruas têm cicatrizes da guerra, prédios em escombros, ruínas que tapam corpos por resgatar, que escondem a violência que cai dos céus, deixando um cheiro nauseabundo a morte. A cidade é uma ruína, mas a guerra continua mais feroz ainda, incompreensível.

 

“Salvem as nossas famílias”

Na memória de todos está ainda a Páscoa. Em Aleppo, chorou-se. Escreve a Irmã Annie: “A nossa festa pascal converteu-se em dor, as pessoas choram e estão de luto.” Não há ninguém na cidade que não tenha perdido um ente-querido, um familiar próximo, um amigo ou um vizinho. Todos estão de luto. “Há dois dias – diz a Irmã Annie - 165 famílias abandonaram a cidade depois de terem chovido quarenta projécteis sobre Aleppo. A pacífica população, que só quer viver em paz, recebeu todo o tipo de bombas, quais presentes de Páscoa… Ouçam o meu grito: por favor, salvem Aleppo, salvem as nossas famílias!”

 

Um novo genocídio

O grito da Irmã Annie é também o grito dos bispos sírios. Dizem que se está “perante um novo genocídio”, e que “os Cristãos estão a desaparecer à frente dos nossos olhos”. “ E perguntam: “Vamos ser cúmplices deste horror?” Em Aleppo falta tudo. As populações estão sitiadas pelos bombardeamentos. Em todo o instante ouve-se o crepitar de metralhadoras, o silvo de bombas que caem com estrondo de aviões, de helicópteros, os gritos de dor de quem foi atingido. Gritos de morte. Em Aleppo falta tudo: água, comida, medicamentos, electricidade. Há meses, numa outra carta enviada à Fundação AIS, a Irmã Annie afirmava que conhecia pessoas que já tinham queimado “as próprias mobílias para se aquecerem”. Agora é ainda pior. Já não há nada. Já não há sequer mobílias para transformar em lenha. As ruas são um entulho e um precipício para a morte. Atravessar os escombros de um bairro é arriscar a própria vida.

 

“Isto não é cristão”

Os que vivem em Aleppo estão sitiados, como se vivessem encurralados numa ilha rodeada de metralhadoras por todos os lados. Não conseguem sair e ninguém consegue entrar para os resgatar ainda com vida. Há dias, escreve a Irmã Annie, “encontrámos uma bomba debaixo da nossa cozinha e salvámo-nos graças à divina Providência. A maior parte das nossas janelas estão partidas”. E continua a escrever. “Já perdemos muita gente; conhecíamos a maior parte deles. As pessoas têm muito medo e a maioria são-nos muito queridas”. E acrescenta: “Os habitantes de Soulemaneh e Telfon abandonaram as suas casas, porque os edifícios foram destruídos e danificados seriamente ou porque têm medo. Isto não é cristão!”

A carta da Irmã Annie é toda ela um pranto. Perante o espanto da violência, quando as palavras já pouco podem dizer, restam as lágrimas. “Novamente faço um apelo a todo o mundo: por favor, não fiqueis em silêncio, fazei algo para salvar a nossa gente!”

Esta carta foi dirigida a cada um de nós. A mim, a si… Esta carta tem o nosso nome escrito no endereço. Nós somos “o mundo” que não pode ficar calado. Se ficarmos em silêncio, seremos cúmplices deste horror. A Irmã Annie suplica as nossas orações como um náufrago que estende o braço à espera de ser resgatado com vida.

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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