DOMINGO III DA QUARESMA Ano B
“Destruí este templo e em três dias o levantarei.”
Jo 2, 21
A senhora Maria era uma mulher fiel. Em cada manhã, ao sair de casa, a primeira coisa que fazia era ir “falar com Deus Nosso Senhor” na igreja da terra, desde cedo aberta. Não adiantava dar-lhe os bons dias, ou pedir-lhe alguma coisa naquele itinerário: ela não perdia tempo para o ansiado encontro matinal. Contudo, um dia, deu com a porta fechada! Pôs-se logo a pensar mal do sacristão, do padre, ou de quem tinha causado aquele enorme incómodo. Mas o escândalo foi ainda maior quando viu um papel afixado na porta onde se lia: “Eu também estou aí fora!”. E a assinatura era bem legível: “Deus”!
É bom lembrar que o substantivo “igreja” designa, em primeiro lugar e na sua etimologia, a “assembleia”, a “reunião daqueles que foram chamados por Cristo”. Foi aos poucos que passou a designar o lugar desse encontro, vindo a tornar-se esse o seu significado mais comum. Os espaços que habitamos revelam-nos. O filósofo Martin Heidegger dizia que “habitar é o traço essencial do ser de acordo com o qual os mortais são”, e Saint-Exupéry descobria que “os homens habitam e que o sentido das coisas varia para eles em função do sentido das suas casas”. Por isso, para além das casas, os lugares sagrados sempre foram expressão do encontro com o divino. Do santuário “portátil” que acompanhava o povo de Israel no deserto ao Templo de Jerusalém, duas vezes edificado, fez-se um enorme caminho. E o Templo, no tempo de Jesus, era o coração de Israel. Nele, Jesus foi consagrado ao Senhor; ali se perdeu em debates teológicos com os doutores da Lei; e também virou tudo do avesso ao ver o átrio dos gentios transformado em mercado. Decididamente, o messias esperado não iria atacar a religião que estava “tão bem organizadinha” em esquemas de sacrifícios, mandamentos e preceitos, clarinha quem nem água para distinguir os “verdadeiros” dos “falsos crentes”! Assustados com a alusão à destruição do Templo (outra vez?) não entendem que a ressurreição de Jesus nos dará o “novo templo” do seu corpo.
E andaremos sempre a descobrir a maravilhosa ousadia de nos “encontrarmos” no Corpo de Cristo, e de ser membros deste “Corpo”. Para nos encontrarmos com Deus não basta entrar numa igreja (embora possa ser um passo, e daí a importância de serem reflexo da beleza que é ser cristão!). É preciso entrar na intimidade com Jesus, encantarmo-nos com o seu projecto, viver ao seu jeito. Mais do que ser “pedra” de uma construção, todos podem descobrir-se “membros” de um corpo, com uma vida interdependente, onde não há “átrios” de discriminação, e as portas estão abertas a todos, especialmente os mais necessitados de vida e de amor. Sim, é um habitar diferente, mais ao ar livre, sem telhados nem paredes, onde o Espírito Santo nos convoca e estimula a viver em plenitude. Numa comunhão em que, se um membro sofre, todos sofrem, e se um se alegra, todos se alegram. Há muito ainda a aprender para viver assim, não é verdade?
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