Mundo |
Médio Oriente: a barbárie contra os Cristãos não tem fim
Vidas interrompidas
<<
1/
>>
Imagem

No mesmo dia, praticamente à mesma hora em que uma igreja católica era inaugurada no Egipto, corria o sangue, numa praia da Líbia, de 21 mártires às mãos dos jihadistas. Quando iam ser degolados, por serem cristãos, deram um testemunho impressionante da sua fé. Estavam a rezar: “Jesus, ajuda-me!” 


Estranha coincidência. No domingo, dia 15 de Fevereiro, em Sharm el-Sheij, foi em festa que a comunidade cristã copta inaugurou a primeira igreja católica no Monte Sinai. Conseguir licença para a construção de uma igreja é tão raro no Egipto que todos, por ali, davam graças a Deus por este templo ter conseguido ver a luz do dia depois de um complexo processo que teve início há mais de uma década.
Domingo, dia 15 de Fevereiro. Provavelmente à mesma hora, junto a uma praia na Líbia, um grupo de homens, envergando roupas cor-de-laranja e com as mãos atrás das costas, caminha junto à água. Atrás deles, vestidos de negro e encapuzados, seguem outros homens. Estão armados com facas. Os homens vestidos de cor-de-laranja são alinhados, de costas para o Mediterrâneo. São todos egípcios. São todos cristãos coptas. Depois, ficam ajoelhados. Alguns balbuciam palavras. Estão a rezar. Um deles - percebe-se claramente pelo movimento dos lábios -, diz: “Jesus, ajuda-me!” Instantes mais tarde, quando estão já todos deitados por terra, os homens de negro agarram nas suas cabeças e degolam-nos. A água da praia de Wilayat Tarabulus começa a ficar tingida de vermelho. Os homens de negro são terroristas do “Estado Islâmico”.

 

Tristeza e dor

Há um luto carregado na Diocese de Samallout, província de Minya. A maior parte destes 21 cristãos era oriunda dali, das muitas aldeias da região. Só em Al-Aour, há 13 famílias que ainda não conseguiram compreender bem o que aconteceu aos seus filhos, maridos, irmãos, vizinhos. Estão todos em choque. Em Al-Aour, o trabalho escasseia. Foi para conseguirem trabalho que estes 21 cristãos coptas decidiram rumar até à Líbia. Youssef Younan, um dos assassinados, estava noivo. O seu trabalho era também o sustento da sua casa, da sua mãe e das suas duas irmãs. Louqâ Ngati tinha 27 anos, era casado e era pai de uma menina de nove meses. Hany Salib tinha três raparigas e um filho… Todos os 21 têm histórias assim. Pertenciam a uma família, viviam numa aldeia, tinham sonhos, projectos. As suas vidas foram interrompidas no domingo, dia 15 de Fevereiro, numa praia junto ao Mediterrâneo. Foram culpados de seguirem Jesus, de serem cristãos.

 

Contagem decrescente

O sofrimento das famílias dos 21 cristãos assassinados já começara há bastante tempo, quando as suas fotos foram publicadas na Internet, ainda em Janeiro. Já então se imaginava um desfecho terrível para esta história, mas nunca de forma tão macabra. No dia 3 de Janeiro, era ainda de madrugada na cidade costeira de Sirte, na Líbia, onde estavam alojados muitos dos trabalhadores cristãos oriundos do Egipto, quando um grupo de homens armados e mascarados bateu às portas e irrompeu nas casas e nos quartos à procura de cristãos. Era fácil descobri-los pelas tatuagens de cruzes que normalmente ostentam nas suas mãos. Muitos foram arrancados das suas camas. Outros, conseguiram esconder-se. Para alguns, começou ali a contagem decrescente que os levaria até à praia de Tarabulus, até ao dia 15 de Janeiro.

 

“O sangue confessa Cristo”

Na segunda-feira, dia 16, o Papa Francisco fez questão de rezar por estes cristãos mártires. “O sangue dos nossos irmãos cristãos é um testemunho que grita. Pouco importa que sejam católicos, ortodoxos, luteranos, coptas: são cristãos e o sangue é o mesmo, o sangue confessa Cristo”, afirmou então o Papa Francisco. E acrescentou: “Permito-me usar a minha língua materna para expressar um profundo e triste sentimento. Hoje li sobre a execução desses cristãos coptas. Somente diziam ‘Jesus, ajuda-me’. Foram assassinados simplesmente porque eram cristãos”.

 

Novos mártires

Hoje ninguém esconde o medo. Poucos dias depois deste bárbaro assassinato, soube-se que outros 35 egípcios teriam caído também nas mãos dos jihadistas. Desde a decapitação dos 21 cristãos, calcula-se que mais de 10 mil egípcios tenham cruzado a fronteira rumo a casa, mas desconhece-se quantos ainda estarão na Líbia. Agora, na Igreja de Sharm el-Sheij, no Monte Sinai, as orações são também lamentos e lágrimas. Ninguém vai esquecer o sangue derramado pelos cristãos no dia da inauguração deste templo, tal como ninguém vai esquecer os nomes e os rostos dos novos mártires da Igreja.

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
A OPINIÃO DE
Guilherme d'Oliveira Martins
A Santa Sé acaba de divulgar o tema da mensagem do Papa Leão XIV para o Dia Mundial da Paz de 2026....
ver [+]

Tony Neves
Domingo é o Dia Mundial das Missões. Há 99 anos, decorria o ano 1926, o Papa Pio XI instituiu o Dia Mundial...
ver [+]

Pedro Vaz Patto
No âmbito das celebrações do ano jubilar no Patriarcado de Lisboa, catorze organizações católicas (Ação...
ver [+]

Tony Neves
Há notícias que nos entram pelo coração adentro deixando-nos um misto de sentimentos. A nomeação do P.
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES