É raro o dia em que não ocorrem incidentes graves contra cristãos na Índia. Infelizmente, nem sempre são notícia, pois quase ninguém quer saber do que se passa com os dalits, os intocáveis, aqueles que estão na base do complexo sistema de castas do país. A sociedade considera-os indignos. Muitos destes dalits são cristãos.
Há um mundo de castas e sub-castas na sociedade indiana. E depois há os intocáveis, ou os dalits. Os que estão na base deste sistema, na base de tudo. Não pertencem a nenhuma casta. São insignificantes. Completamente marginalizados, apesar de serem mais de 165 milhões de pessoas. São considerados impuros e, para não “contagiarem” os outros, não podem sequer usar copos para beber, nem pratos para comer, mas apenas as mãos. Esta tragédia sem nome atinge particularmente as crianças. Muitas raparigas são vendidas pelas próprias famílias para serem exploradas como empregadas domésticas, sofrendo abusos. Há milhões de intocáveis na Índia mas ninguém repara neles. É como se não existissem. São uma população fantasma. Talvez por isso, são poucos os que se comovem com a sua sorte. Muitos destes dalits são cristãos. E isso revela algo de terrível.
Violência contra os Cristãos
Os ataques contra os Cristãos na Índia continuam a ser sinónimo de discriminação terrível por parte de grupos extremistas hindus. Só no ano passado, segundo a Conferência Episcopal Indiana, contabilizaram-se mais de quatro mil casos de violência contra cristãos. Que casos foram esses? Assassinatos, abusos e agressões de mulheres, crianças. Ataques a centenas de sacerdotes e a destruição de mais de 100 Igrejas e lugares de culto. Karnataka, Maharashtra, Andra Pradesh, Chhattisgarh, Gujarat, Orissa, Madhya Pradesh, Tamil Nadu e Kerala são alguns dos estados indianos onde mais se tem verificado a violência contra os cristãos com a marca do extremismo hindu.
Beco sem saída
Não é só o complexo sistema de castas que tem infernizado a vida aos cristãos. A lei proíbe a conversão, o que cria gravíssimos problemas a quem pretende mudar de religião. Como se isso fosse crime. Para os intocáveis, é como se estivessem num beco sem saída. Proscritos pela sociedade, que os discrimina, não podem converter-se ao Cristianismo, que os acolhe como iguais. Estão encurralados por uma lei que os escraviza desde sempre. Nasceram assim: menorizados. Continuam assim: inferiores. A sociedade não os considera. Discrimina-os. E nem o facto de serem abraçados pela Igreja de Cristo os impede de continuarem a ser insignificantes aos olhos de todos os outros. Não existem. Não têm direitos, não são gente. E são violentados como pessoas.
Vidas sem valor
Poderíamos citar aqui alguns nomes. Pessoas concretas. Homens, mulheres, crianças, adolescentes como Namrata Nayak, que ficou com o rosto desfigurado pela explosão de uma bomba… Ou a Irmã Meena Barwa, que foi agredida e violada em público... Ou Gobinda Nayak que viu a sua casa ser totalmente destruída por uma multidão enfurecida… Mas que importam os seus nomes, porém, se aos olhos da maioria continuam invisíveis, mesmo quando se arrastam pelas ruas, mesmo quando estão de mãos estendidas nas esquinas das cidades? Até quando estão a ser agredidos. Os dalits, os intocáveis e os cristãos na Índia valem tão pouco que é como se não existissem, mesmo quando estão nas ruas a pedir esmola. Por tudo isto, ganha ainda um mérito maior o trabalho dos missionários e das religiosas que dedicam toda a sua energia e vida na promoção dos que não podem sequer ser tocados para não contagiarem os outros com a sua insignificância.
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