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Pe. Alexandre Palma
O testemunho de Mahmoud al Asali
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Talvez nunca tenha ouvido falar de Mahmoud al Asali. E o mais provável é que não volte a ouvir falar dele. Era um muçulmano e professor de pedagogia na Universidade de Mossul (Iraque) assassinado, pelos meados de Julho, às mãos do sinistro grupo do autoproclamado Estado Islâmico. Causa da morte? Ter defendido os cristãos, que naquelas terras são hoje violentamente perseguidos. Sobretudo, ter levantado a sua voz e afrontado esse grupo, declarando as suas acções contrárias à própria fé islâmica. Uma espécie de muçulmano mártir do cristianismo.

Não quero aqui elaborar acerca das iniciativas de mais este grupo de radicais. Até porque não encontro no nosso dicionário palavras adequadas para exprimir o asco que sinto perante as suas actividades, sobretudo as suas execuções e inqualificável exibição destas. Por muito que nos custe reconhecer, a hipótese da barbárie nunca nos abandona por completo. Não importa em que fase da história humana nos encontremos, ela pode sempre regressar! Estes indivíduos estão aí para o confirmar.

Quero sim dizer que este é também um problema interno às comunidades islâmicas (não apenas, mas também). Por vezes, tenho ouvido ou lido que este problema nada tem que ver com o Islão. Percebo que quem o diz quer normalmente salvaguardar que o Islão não é violento. Todavia, este é um problema para o Islão e não vale a pena fazer de conta que não o é. Isto, muçulmanos como Mahmoud al Asali perceberam-no bem. É-o, precisamente, porque estes criminosos invocam também a sua fé para legitimar os seus actos. Erradamente, com certeza, mas o facto é que o fazem. Sei que toco um assunto melindroso. Por isso, não haja equívocos: estes crimes são da exclusiva responsabilidade de quem os comete e de mais ninguém. Mas exactamente por isto, parece-me decisivo que as próprias comunidades islâmicas isolem estes criminosos, denunciando como falsos os seus argumentos de índole religiosa. E que o façam sem qualquer margem de ambiguidade.

Isto mesmo o vi fazer, muito recentemente, o rei Abdullah da Jordânia, que se recusou a incluir numa mesma frase a palavra Islão e qualquer referência ao dito Estado Islâmico. Ou o grande mufti da Arábia Saudita, que declarou o Estado Islâmico o «inimigo número um do Islão». E ainda o do Cairo, para quem este grupo se trata de «uma ameaça para o Islão». Ou, enfim, os líderes da comunidade islâmica de Lisboa. Vejo com alguma esperança estas tomadas públicas de posição. Elas serão higiénicas para as próprias comunidades muçulmanas. Porque, como mostra o testemunho de Mahmoud al Asali, a resistência mais decisiva a esta barbárie terá de vir do interior do próprio Islão.