Lisboa |
Festa de Nossa Senhora da Nazaré, na Encarnação
A marca intemporal de Maria
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A paróquia da Encarnação recebeu a Imagem de Nossa Senhora da Nazaré, conhecida como Círio da Prata Grande. Estas festas tradicionais percorrem, em cada ano, 17 freguesias da chamada zona saloia. A espera é grande e a cada 17 anos as marcas do tempo são lembradas com a chegada da Imagem de Maria.

 

Custódio Alves é, pela terceira vez, o coordenador da comissão de festas em honra de Nossa Senhora da Nazaré, na Encarnação. “Fiz a coordenação das festas há 34 anos, há 17 e agora!”, destaca ao Jornal VOZ DA VERDADE este filho da terra, de 66 anos, que nasceu, cresceu, casou, mora e trabalha na paróquia da Encarnação de Mafra. Estas são umas festas tradicionais, que ocorrem a cada 17 anos, pelo que é a quarta vez que Custódio participa. “Para ter estado em cinco visitas de Nossa Senhora tinha que ter 68 anos e tenho apenas 66!”, brinca. Precisamente sobre a primeira vez que participou nesta tradição, então com 15 anos, Custódio refere ter ficado marcado pela grande multidão de pessoas que se deslocava para ver Nossa Senhora da Nazaré. “A forma como as pessoas vivem e anseiam a chegada da Imagem é algo que sempre me marcou. Esse acontecimento é uma coisa que só percebe quem vive. Contado não chega… nem dá para explicar! Só cá estando, só vivendo é que percebemos”, assegura.

Nossa Senhora da Nazaré fica um ano em cada freguesia. Custódio Alves lembra que o que acontece ao longo destes 365 dias será recordado nos próximos 17 anos, até ao regresso da Imagem. Da mesma forma, os acontecimentos pessoais ao longo destes anos são também lembrados por esta ocasião. “Aquilo que aconteceu nos últimos 17 anos é muito recordado pelas pessoas. Há gente que diz: ‘Eu há 17 anos tinha cá o meu marido, agora estou viúva’, ‘Há 17 anos eu era solteiro e agora já sou casado e tenho filhos’, etc”.

Há mais de três anos e meio que a comissão liderada por Custódio Alves prepara o grande dia: a chegada da Imagem de Nossa Senhora da Nazaré à Encarnação. Vinda de Cheleiros, a Imagem chegou a esta terra do concelho de Mafra no sábado, dia 13 de setembro, com o Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, a presidir à Eucaristia no dia seguinte. “Nós, na comissão, quisemos que estes dias tivessem muita dignidade. Nestes dois dias, o importante é a dignidade com que se recebe a Imagem e com que se fazem as cerimónias religiosas. O resto acontece por estarmos felizes por ter cá a Imagem de Nossa Senhora da Nazaré”.

No sábado, dia da chegada de Nossa Senhora, foi Custódio quem conduziu o Círio da Prata Grande desde Cheleiros até à Encarnação. Primeiro em cortejo automóvel, por Mafra, Ericeira e até ao início da freguesia, em São Lourenço. À entrada da Encarnação foi montado o Círio a cavalo, com coches, a charanga da GNR à frente, que peregrinou até à escadaria da igreja, onde uma multidão acolheu a Imagem de Nossa Senhora da Nazaré. “As pessoas contam a idade pelas vezes que participaram nestas festas. É muito emotivo ver os rostos das pessoas, com lágrimas pela cara abaixo e sorriso de orelha a orelha”, descreve Custódio.

 

Dizer ‘sim’ a Deus

Tal como Custódio Alves, Emílio Rodrigues tem também 66 anos e é um filho da terra. É o tesoureiro da comissão, que integra 13 elementos mais o pároco, e salienta ao Jornal VOZ DA VERDADE que quem paga a festa são os chamados ‘mordomos’, ou seja, as pessoas que contribuem para todas as despesas. Esta é também a quarta vez que Emílio participa nas festividades em honra de Nossa Senhora da Nazaré, fazendo ‘equipa’ com Custódio há 34 anos. “Desta comissão atual, somos os únicos que participámos diretamente em três festas: as duas anteriores e agora esta”, refere.

No passado Domingo, 14 de setembro, durante a Missa campal, o Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, enalteceu o papel de Nossa Senhora, “que deu a Deus a humanidade que Ele não tinha”. “Aquele Menino que a bendita Imagem da Senhora da Nazaré transporta ao colo, foi o Menino que Ela recebeu de Deus para O pôr no mundo, fazendo algo completamento inédito que nunca houvera antes nem nunca haverá depois, porque agora há sempre”, garantiu. Frisando que “Nossa Senhora disse ‘sim’ a Deus”, o Patriarca desafiou os cristãos “a aceitarem Deus como Ela O aceitou”. As festas de Nossa Senhora da Nazaré na Encarnação ficam também marcadas pela entrega, por parte da família Belmonte, da igreja à paróquia, com o Patriarca de Lisboa a agradecer a esta família a doação que agora foi concretizada após muitos anos de burocracia.

Após a celebração eucarística, mais de 200 figurantes retratando figuras bíblicas participaram na procissão com a Imagem de Nossa Senhora da Nazaré pelas ruas da Encarnação. Emílio Rodrigues esteve também na organização desta procissão, que teve como tema ‘A Alegria do Evangelho’. “O objetivo da procissão foi que as pessoas seguissem a mensagem da exortação apostólica do Papa Francisco”, definiu.

A Imagem de Nossa Senhora da Nazaré vai ficar agora um ano, até setembro de 2015, na paróquia da Encarnação. O pároco, padre João Vergamota, refere ao Jornal VOZ DA VERDADE que “os momentos fortes acontecem nesta semana, com a chegada da Imagem, e depois com a entrega da Imagem a São Pedro da Cadeira”. “Durante o ano vamos salientar o dia do mês que é dedicado a Nossa Senhora, com destaque para 11 de fevereiro, dia de Nossa Senhora de Lourdes, em que vem cá o senhor D. Nuno Brás, Bispo Auxiliar de Lisboa, celebrar Missa pelos doentes”, aponta.

Neste Domingo, dia 21 de setembro, a partir das 16h00, a encerrar a semana da chegada da Imagem decorre o cortejo histórico recriando a história do milagre de Nossa Senhora da Nazaré e do Círio da Prata Grande. Por concessão do Papa Francisco, os fiéis podem, na Encarnação, lucrar indulgência plenária ao longo deste ano.

 

Primado da graça

Encarnação é uma freguesia do concelho de Mafra com 4798 habitantes, segundo os Censos de 2011. “A maioria das pessoas são naturais de cá, apenas nas zonas costeiras há gente de fora. Há ainda alguns casais novos, que não são de cá, mas essa é uma realidade que não tem expressão. As pessoas da terra vivem da agricultura ou de serviços de padarias, uma vez que há muitos padeiros e pessoas que distribuem pão para Lisboa. Há também muitos aviários”, descreve o padre João Vergamota. Este sacerdote, que é pároco da Encarnação desde 2011, tem a colaboração, há dois anos, do padre Carlos Pinto. Os dois são párocos in solidum da Encarnação, mas também de Sobral da Abelheira e Santo Isidoro.

A Paróquia de Nossa Senhora da Encarnação e São Domingos, na Vigararia de Mafra, tem cinco lugares: o centro, na Encarnação, e mais quatro em redor, Galiza, Azenhas, Barril e São Lourenço. Sobre as apostas pastorais, o padre João Vergamota destaca “a aposta na juventude”, em especial “com a catequese”, e também o desafio do “primado da graça”. “Apontar aquilo que o Santo Padre João Paulo II dizia no ano 2000, e que depois também o senhor Patriarca D. José Policarpo numa assembleia do clero falou muito, que é o primado da graça. Ou seja, a pessoa pôr como primado da vida cristã a graça de Deus”. Isso implica, segundo o pároco, “investir nos sacramentos, na confissão, nas orações”.

Esta é uma paróquia que, nas palavras do pároco, “tem tido a graça de dar algumas vocações à Igreja”. “Há duas raparigas da Encarnação que foram para dois mosteiros: uma foi para Fátima e outra foi para um mosteiro de Agostinhas, em Espanha, após uma atividade que realizámos lá, em que a rapariga ficou tão entusiasmada com o testemunho das irmãs que agora é a única rapariga que não é de uma paróquia Agostinha”. Ao nível de vocações ao sacerdócio, o padre João, que foi ordenado sacerdote em 2008, refere que a paróquia já teve um rapaz no pré-seminário, que entretanto saiu, mas “há mais um ou outro na ‘calha’”. “O grupo de acólitos da paróquia, atualmente com cerca de 30 elementos, é o grupo vocacional da Encarnação. Nós cremos que investir nos acólitos é investir nas vocações sacerdotais”, explica o pároco, de 32 anos.

 

Um pároco catequista

Os números dizem que no ano pastoral passado havia quase 500 crianças e adolescentes na catequese na paróquia da Encarnação, para quase 50 catequistas. “Aqui o Crisma é no 12º ano e eles fazem 12 anos de catequese”. E após o sacramento da Confirmação? “Após o Crisma, ainda não temos proposta para estes jovens…”, lamenta o pároco, explicando: “Temos 6 jovens que estão a fazer formação de animadores, de forma a se irem integrando para no futuro constituírem um grupo de jovens da paróquia”.

O padre João Vergamota tem a particularidade de ser catequista na sua paróquia, dando catequese aos jovens do 12º ano. “Comecei em Óbidos a dar catequese por necessidade, por falta de catequistas, e como o pároco anterior da Encarnação também dava catequese na paróquia, continuei a dar. Dos meus 6 anos de padre, tenho esta experiência que dar catequese é muito bom! Já pensei, uma vez ou outra, em deixar, em especial por falta de tempo, mas a verdade é que não consigo, porque percebo que dar catequese é uma forma de conhecer os miúdos, de os ter mais perto e é uma grande ajuda”, descreve este jovem sacerdote, referindo que desta forma “é também mais fácil chegar aos pais”, uma vez que “a amizade é uma porta para a evangelização”.

  

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O Círio da Prata Grande

Desde o século XVII, foram muitos os povos, de diversas localidades, que se deslocaram em romaria para prestar devoção a Nossa Senhora da Nazaré do Sítio da Pederneira (atual Nazaré). São três os Círios que ainda hoje estão presentes nas celebrações religiosas anuais, nomeadamente, o Círio da Prata Grande, Penela e de Olhalvo. Contudo, o culto a Nossa Senhora da Nazaré é anterior a esta data, apesar de não haver registos físicos do mesmo, julga-se que as peregrinações coletivas remontam ao início do século XV e a crença na Imagem de Nossa Senhora da Nazaré começou a ganhar destaque a partir do milagre de Dom Fuas Roupinho, em 1182.

O Círio da Prata Grande começou, precisamente, na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição da Igreja Nova, há muitos anos, quando um morador da Arrifana, João Manuel, nascido nesse mesmo lugar em 1611, já idoso, resolveu ir em romagem à Nazaré. Um dia, estando João Manuel a descansar do seu trabalho, debaixo de uma árvore, aproximou-se dele um grupo de peregrinos, tendo chegado à conversa que vinham da Nazaré onde se tinham feito milagres nomeadamente a salvação de Dom Fuas Roupinho. João Manuel ficou bastante admirado com a fé dos peregrinos, sendo que a sua mulher, Domingas Ruiva, havia anos que estava doente e não tinha cura para tal doença. Com a sua fé, combinou juntar-se a eles, no ano seguinte, em peregrinação à Nazaré. Como combinado, juntou-se à caravana dos peregrinos, prometendo à Virgem Santíssima com a sua fé e esperança num milagre para a sua esposa, que iria nos anos seguintes também em peregrinação à Nazaré, o que veio a acontecer. Após ter pedido ao pároco da Igreja Nova as credenciais eclesiásticas para ter aceitação no Santuário e poder participar na peregrinação nos anos seguintes para agradecer à Virgem de Nazaré, levou com ele mais companheiros, um da Arrifana e dois da Igreja Nova, e entre os quatro compraram uma bandeira com as insígnias de ‘Nossa Senhora da Nazareth da Pederneira’, que no regresso ficava na igreja da sua freguesia.

O movimento de adesão por parte dos moradores da Igreja Nova e dos arredores foi-se enraizando, dando origem à Confraria de Nossa Senhora da Nazareth da Pederneira – Círio da Prata Grande (http://ciriodapratagrande.com), que teve compromisso redigido em 1732, foi aprovado em 1741 e conta com 17 freguesias, sendo 13 do Concelho de Mafra, 3 do de Sintra e uma de Torres Vedras. Lista das freguesias: Igreja Nova – Mafra – Santo Isidoro – Montelavar – Cheleiros – Encarnação – São Pedro da Cadeira – Ericeira – Carvoeira – Alcainça – Terrugem – São João das Lampas – Sobral da Abelheira – Santo Estêvão das Galés – Gradil – Azueira – Enxara do Bispo. Em cada ano, a Imagem de Nossa Senhora da Nazaré visita uma das 17 freguesias, demorando por isso 17 anos a regressar a cada terra.

Adaptado do site http://senhoranazareencarnacao.pt

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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