Longe do centro da cidade e inserida num meio rural está uma paróquia que vive das alegrias de uma pastoral “porta a porta” e que está empenhada em “proporcionar a todos uma experiência de Jesus Cristo”. A paróquia de Olhalvo vai receber, em agosto, a visita do Bispo Auxiliar de Lisboa D. Nuno Brás, que vai benzer o altar da igreja de Penafirme da Mata, que foi construída como sinal da devoção à Senhora da Nazaré.
D. Nuno Brás, Bispo Auxiliar de Lisboa, vai benzer, no próximo dia 15 de agosto, às 12 horas, o altar da igreja de Nossa Senhora da Nazaré, em Penafirme da Mata, na paróquia de Olhalvo. Desde há vários anos que, em setembro, partem desta paróquia centenas de fiéis, cumprindo uma tradição com mais de 500 anos: a peregrinação do Círio à Senhora da Nazaré. Como sinal desta tradição, a população encontrou na construção desta igreja uma forma de tornar presente a devoção à Santa. Para o pároco, padre João Sobreiro, esta devoção centenária “foi fazendo crescer na população local a necessidade de ter um espaço onde se pudesse rezar e isso foi também sinal da transmissão da fé que foi feita pelas diferentes gerações”. Tal como explica o pároco ao Jornal VOZ DA VERDADE, existem duas possíveis explicações para a criação desta devoção: “A primeira confere uma ligação aos descobrimentos. Existe a tradição de que o descobridor Vasco da Gama rezou a Nossa Senhora da Nazaré antes de partir para a Índia e sabe-se também que alguns dos que o acompanhavam nessa viagem eram provenientes de Alenquer e que também à Santa lhe pediram proteção. A segunda explicação para esta devoção centenária são as promessas feitas, pedindo boas colheitas”.
Sede de Deus
A paróquia de Olhalvo fica situada no concelho de Alenquer, a sensivelmente 50 minutos de carro de Lisboa. Com aproximadamente dois mil habitantes, é uma freguesia que vive, em parte, daquilo que a agricultura oferece. O meio pequeno gera uma proximidade enriquecedora que, para o padre João Sobreiro, “não deixa de ser um desafio”. Continua a ser necessário “ir ao encontro das pessoas e proporcionar-lhes uma experiência de encontro”, refere.
Há dois anos em Olhalvo, o padre João Sobreiro acumula a missão de pároco nas paróquias de Ventosa e Vila Verde dos Francos, que pertencem à mesma unidade pastoral. “Está a ser uma experiência muito bela e desafiante. Tem servido para ver a fidelidade e a misericórdia de Deus”, revela este sacerdote. Na sua chegada à paróquia, o padre João recorda “a sede de Deus” que encontrou no povo que o acolheu de forma efusiva. “O meu antecessor saiu e, na sequência disso, este povo esteve oito meses sem um pároco. Durante esse tempo existiu uma espécie de ‘pastoral da manutenção’ que dependeu da grande generosidade de muitos padres que vieram ajudar”, lembra este sacerdote. “Quando cheguei, senti a alegria do povo para acolher o pastor. Procurei estar próximo das pessoas e encontrei uma paróquia viva”, garante.
Ao encontro do outro
A proximidade deste sacerdote de 31 anos com o povo que lhe foi confiado permite-lhe ir conhecendo melhor a vida dos seus paroquianos. “É um povo que trabalha no campo e em fábricas aqui perto. Existem também algumas famílias novas que trabalham em Lisboa, no Carregado, Alenquer ou até em Torres Vedras”, refere. A participação das pessoas na vida da Igreja ronda os dez por cento. Por isso, “ir ao encontro das pessoas tem sido um desafio” que o pároco procura concretizar. “Tenho encontrado muita gente disposta a caminhar e a ouvir a Palavra de Deus”, salienta o padre João. Nesse desafio, fala da necessidade de propor “uma vida forte de experiência em comunidade” e recorda as palavras do Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente de que ‘não existe vida cristã sem uma experiência comunitária’. Para este pároco, esta experiência tem concretização no “convite feito às pessoas para participarem na Missa, nas atividades paroquiais, nos sacramentos e na formação de adultos”, como por exemplo através do Caminho Neocatecumenal, de onde surgiu recentemente uma comunidade que junta cerca de 35 elementos.
Conhecida a forte atividade desta região gerada pelo associativismo, o padre João Sobreiro procura também aí estar presente para levar a mensagem cristã. “Sempre que estou presente nas comemorações das coletividades procuro anunciar um kerigma, mesmo perante gente que não costuma ir à Igreja. É uma boa oportunidade para receberem o convite e participarem da vida paroquial”, observa. “Nas associações também existe o desejo de congregar as pessoas. Vejo que esse objetivo de fazer comunhão tem um nome: Jesus Cristo e não pode ser vivido apenas com a nossa boa vontade”, conclui.
Tradição
Com o terramoto de 1755, a então igreja paroquial ficou em ruínas, o que levou esta freguesia a mudar de templo. A atual igreja, onde em tempos se instalou o convento dos Carmelitas Descalços, tem como orago Nossa Senhora da Encarnação. Mesmo depois da expulsão das ordens religiosas de Portugal, em 1834, “o povo esteve unido no propósito de defender a sua herança religiosa ao não permitir a venda da igreja em hasta pública”, lembra o padre João Sobreiro que também destaca “o brio que as pessoas da terra tiveram e continuam a ter pelos seus padroeiros”.
Para além da igreja paroquial de Nossa Senhora da Encarnação, existem também outros dois locais com espaço de culto: Pocariça e Penafirme da Mata. Sem contabilizar o tempo de férias, o padre João Sobreiro aponta uma participação média de 200 pessoas na Missa dominical que é celebrada na igreja paroquial. Mas mesmo no Verão, “muitos dos que vão para fora, garantem-me que não deixam de ir à Missa”, sublinha.
Embora com menos gente e ainda sem a Missa dominical, a igreja de Penafirme da Mata, que no próximo dia 15 de agosto terá a bênção do altar (ver caixa), tem já um pequeno grupo que se junta num salão da capela para rezar o Terço e fazer a meditação da Palavra. O padre João Sobreiro considera que “existe uma importante vitalidade na comunidade que ali se reúne” e que começou muito antes da sua chegada à paróquia. “É fruto dos sacerdotes anteriores, que foram semeando, e de duas congregações de religiosas, Franciscanas e Servas de Nossa Senhora de Fátima que, durante 20 anos, viveram em Olhalvo e ajudaram muito na vida comunitária das comunidades cristãs”, destaca.
Música para todos
“Os meus amados catequistas!”. Assim são carinhosamente chamados os catequistas da paróquia de Olhalvo pelo seu pároco. “É gente com muito amor à Igreja que dá generosamente a sua vida para esta missão”, destaca o padre João Sobreiro. Atualmente estão inscritas na catequese cerca de 120 crianças que preenchem o habitual percurso de 10 anos. Algumas das crianças vivem em Olhalvo mas existem outras que vivem em paróquias vizinhas. “Muitos dos pais dessas crianças nasceram em Olhalvo e devido à sua ligação afetiva com a terra, trazem as crianças, ao sábado, para a catequese”, revela o pároco.
Também os jovens que terminam o seu percurso de catequese são motivo de atenção. “Sabendo da histórica tradição musical de Olhalvo, com especial destaque para a Sociedade Filarmónica Olhalvense, procura-se inserir os jovens que terminam a catequese na vida paroquial também por meio da música. Por isso, existe um bom coro que anima as Missas. Alguns desses jovens ganharam até o Festival Vicarial da Canção Cristã e vão representar a Vigararia de Alenquer no Festival Diocesano que será em setembro”, lembra o padre João. É um grupo “integrado na paróquia, com alguns problemas de fidelização à Eucaristia, como qualquer outro grupo, mas que está motivado para continuar e isso é muito bom!”, enaltece. Neste trabalho de integração dos jovens, que está agora a começar, existe “o desejo de incentivar uma caminhada cristã que não seja apenas para entreter jovens, mas que os ajude a viver em Igreja e unidos a Jesus Cristo”, salienta.
Mais do que um emprego
“A carência social também se faz sentir em Olhalvo. Sentimos algumas dificuldades”, aponta o padre João Sobreiro. Com um centro social instalado na paróquia vizinha de Vila Verde dos Francos, a instituição que também dirige procura responder às necessidades mais urgentes de aproximadamente 50 famílias de Olhalvo com uma cantina social e distribuição de alimentos provenientes do Banco Alimentar. Para este sacerdote, “a caridade é institucionalizada mas deve ser, acima de tudo, organizada. Isso implica regras, alguma formação mas sempre com o objetivo de ser presença do amor de Deus com os que mais precisam”. Também por isso, costuma dizer aos ‘seus’ trabalhadores que “não têm um emprego, mas sim uma missão”.
Convite para sair
Quando questionado sobre os desafios futuros, este sacerdote aponta o ´sonho missionário de chegar a todos’ – tema da caminhada sinodal diocesana dos próximos dois anos pastorais – como meta para a sua comunidade. Para o padre João Sobreiro, “ainda não está bem definido o que se irá fazer mas existe, para já, uma coisa que terá continuidade: a missão porta a porta”, refere. Essa missão, que herdou da atividade pastoral anterior, no Bombarral, por iniciativa do pároco, “será para continuar”, garante. Das vezes que saiu pelas ruas de Olhalvo para bater às portas, este sacerdote destaca a alegria que viveu, juntamente com outros paroquianos. “Nos Domingos do Tempo Pascal, toda a paróquia foi convidada a sair. Levávamos uma pequena pagela e em pequenos grupos, distribuídos pelas ruas, batíamos às portas. Dizíamos quem éramos e que não estávamos ali para pedir”, lembra. Quando a porta se abria, “partilhava-se uma palavra, um testemunho, oferecia-se uma pagela com uma oração e terminava-se com um convite para a participação na Missa”, descreve o padre João. A aceitação das pessoas foi “muito boa”. “Acolheram-nos verdadeiramente. Este ano pastoral foi possível ir a todas as terras da paróquia e houve gente que ficou muito alegre e até espantada por nos ver”, refere.
Os frutos
O padre João Sobreiro revela ao Jornal VOZ DA VERDADE que, antes de ser padre, embora não soubesse ainda o que fazer no futuro, tinha a certeza de que “não queria ser agricultor, como o pai” e que estava interessado em “procurar um trabalho mais descansado, em que pudesse controlar tudo – o que não acontece com a agricultura, mesmo utilizando a tecnologia de ponta”, refere. Para este sacerdote, essa parte da agricultura que não se controla é, “para quem tem fé, Deus que dá o crescer”. O padre João reconhece, com alegria, que “o Senhor trocou as voltas” e fê-lo “agricultor na seara, neste campo que é o mundo, a dar esta semente que é a Palavra de Deus. Por isso, só compete semear,” refere. Há dois anos na paróquia de Olhalvo, este sacerdote considera que o que tem colhido “deve-se aos antecessores, religiosos e religiosas, pais e catequistas que deram a vida e, por isso, a fé permaneceu e deu fruto”, conclui.
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