20.07.2014
A uma janela de Roma
“O bem precioso da vida é o Evangelho”
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O Papa Francisco falou aos doentes. Na semana em que solicitou atenção à migração de menores, Francisco pediu orações e esforços para pôr fim à violência na Terra Santa e falou aos economistas.
1. O Papa Francisco enviou esta semana uma vídeo-mensagem aos doentes e funcionários do Policlínico Gemelli, em Roma, pedindo aos enfermos que cultivem na oração o prazer das coisas de Deus. “Vós, enfermos, que sentis a fragilidade do corpo, podeis testemunhar com força às pessoas que estão ao vosso redor que o bem precioso da vida é o Evangelho, o amor misericordioso do Pai, e não o dinheiro ou o poder. De facto, mesmo quando uma pessoa é, segundo as lógicas mundanas, importante, não pode acrescentar um só dia à própria vida”.
Esta mensagem surge da sequência do cancelamento de uma visita que o Papa iria realizar a esta unidade no dia 27 de junho, devido a uma indisposição. “Poucos minutos antes de partir, uma forte dor de cabeça que tinha desde manhã, e que esperava que passasse, foi piorando e a esta se acrescentou também a náusea”. Francisco agradeceu ainda a todos os funcionários a “paixão” com que trabalham e dirigiu-se mais uma vez aos doentes: “Saibam que desejei muito este encontro, mas, como bem sabeis, nós não somos donos da nossa vida e não podemos fazer como bem queremos. Devemos aceitar as fragilidades. Cultivem comigo a confiança que somente em Deus depositamos a nossa força. Eu vos confio a Maria e vocês continuem rezando por mim”. A visita do Papa ia recordar os 50 anos da inauguração em Roma do Policlínico Universitário ‘Agostino Gemelli’, anexo à Faculdade de Medicina e Cirurgia.
2. O Papa manifestou a sua preocupação com as crianças da América Central que emigram sozinhas para norte e pediu que a questão das migrações seja abordada a partir da “cultura do encontro” em vez do “medo”. Francisco dirigia-se aos participantes num encontro sobre mobilidade humana e desenvolvimento, que decorre na Cidade do México, com a presença do secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin.
A mensagem, divulgada esta terça-feira, dia 15, pela Sala de Imprensa da Santa Sé, chama a atenção para milhares de crianças que emigram sem acompanhamento, procurando fugir da pobreza e da violência, num número que aumenta “todos os dias”. "Esta é uma categoria de migrantes que, da América Central e do México, atravessa a fronteira com os Estados Unidos em condições extremas, em busca de uma esperança que na maioria das vezes é em vão”, escreve. Segundo Francisco, esta “emergência humana” exige “uma intervenção urgente, a fim de que esses menores sejam acolhidos e protegidos”.
Eventuais medidas, pode ler-se, não serão suficientes “se não forem acompanhadas por políticas de informação sobre os perigos de uma viagem deste tipo e de promoção e desenvolvimento nos países de origem”. “É necessário chamar a atenção de toda a comunidade internacional para que possam ser adotadas novas formas de migração legal e segura", prossegue. “Apesar do grande fluxo de migrantes presentes em todos os continentes e em quase todos os países, a migração é vista ainda como uma emergência ou como circunstancial e esporádica, mas tornou-se um elemento característico e um desafio para as nossas sociedades", destaca o Papa.
Francisco lembra que muitas pessoas obrigadas a emigrar “sofrem e muitas vezes morrem tragicamente; muitos dos seus direitos são violados”, sendo objeto de “comportamentos racistas e xenófobos".
3. O Papa Francisco fez no passado Domingo um renovado apelo à paz na Terra Santa. Perante milhares de peregrinos na Praça de São Pedro, na oração do Angelus, Francisco recordou o encontro no início deste mês com o Patriarca Bartolomeu e com os presidentes de Israel e da Autoridade Palestiniana, pedindo a todos que dessem um contributo para a paz. “Exorto as partes interessadas e todos os que têm responsabilidades políticas, a nível local e internacional, a não poupar a oração nem nenhum esforço para pôr fim a toda a hostilidade e alcançar a paz desejada para o bem de todos”, afirmou. “Nunca mais a guerra!”, disse o Papa, acrescentando que “com a guerra tudo é destruído”. “Infundi, Senhor, em nós, a coragem de realizar gestos concretos para construir a paz. Faz-nos disponíveis para ouvir o grito dos nossos cidadãos, que nos pedem para transformar as nossas armas em instrumentos de paz, os nossos medos em confiança e as nossas tensões em perdão”, apelou.
A situação no Médio Oriente tem conhecido uma nova escalada de violência desde a morte de três jovens israelitas, no final do mês de Junho. Os três jovens judeus foram raptados e assassinados, presumivelmente por membros do Hamas. Em represália um grupo de nacionalistas israelitas raptou e assassinou um jovem árabe em Jerusalém.
4. O Papa Francisco encontrou-se, no sábado, 12 de julho, com os participantes de um seminário internacional realizado no Vaticano sobre o tema ‘Por uma economia cada vez mais inclusiva’, tratado também na sua exortação apostólica ‘Evangelii Gaudium’. Num discurso improvisado, o Papa criticou o “reducionismo antropológico” imperante. “Creio que este momento seja o tempo mais acentuado de reducionismo antropológico. Aconteceu ao homem aquilo que acontece ao vinho quando se transforma em bagaço, que passa por um alambique organizativo. Já não é vinho, é outra coisa: talvez mais útil, mais qualificada, mas não é vinho! Com o homem é a mesma coisa: passa por este alambique e acaba por perder a humanidade, torna-se um instrumento do sistema, do sistema social, económico, onde imperam os desequilíbrios ”, afirmou, questionando: “Quando o homem perde a sua humanidade, o que nos espera? Verifica-se uma política, uma sociologia, uma atitude do descartável: descarta-se o que não serve porque o homem não está no centro. E quando ele não se encontra no centro, significa que no centro há outra coisa e que o homem está ao serviço dela. A ideia, por isso, é salvar o homem para que volte a estar no centro: da sociedade, do pensamento e das reflexões”.
Aura Miguel, à conversa com Diogo Paiva Brandão