O Papa Francisco já tinha deixado o alerta. Marcelo Rebelo de Sousa repetiu-o no passado dia 18 num encontro em que se debateu os cristãos e a política. “Nós recebemos o euromilhões eterno, que é a vida eterna. Mas com um preço a pagar: começar a construí-la nesta vida”. E isso passa, defende, por uma intervenção obrigatória na política em nome da defesa do bem comum. Porque “um cristão que não faça política não é cristão”.

Na terceira sessão ‘Yes Youcat! Viver a fé’, no Instituto de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), Maria do Rosário Carneiro e Marcelo Rebelo garantiram que não há uma forma única de participação política mas “propostas diversas de realizar o bem comum à luz dos princípios em que se acredita”. E para um cristão, defende Maria do Rosário Carneiro, o princípio fundamental é a caridade, “a capacidade de sentir as necessidades dos outros como as nossas” porque “só dessa forma somos capazes de encontrar o caminho do serviço”. Princípios como a verdade, a justiça, a liberdade e a igualdade são da mesma forma indispensáveis, ainda que “nem sempre fáceis de concretizar”, lembra. A ex-deputada independente pelo PS garantiu que “não basta pôr em causa. É preciso ir mais além, denunciando o que está mal e propondo alternativas que se considerem mais justas”.

Para Marcelo Rebelo de Sousa, o desafio dos cristãos na política não é apenas o de “lutar pela verdade ou assumir no dia-a-dia a defesa da dignidade da pessoa humana”, mas também “levar a perceber que certos valores são fundamentais”. E a principal preocupação deve ser sempre a de “saber onde pode servir melhor a comunidade”.

Mãos limpas

Maria do Rosário Carneiro abordou a questão das “mãos sujas” entendendo-a como uma corrupção do ponto de vista ético de “não se ter feito o que se devia, não se ter honrado o que se devia, não se ter lutado pelo que é determinante”. E nesse caso, para se conseguir sair da política com as mãos limpas “é preciso ter coragem, não ter medo e estudar”.

Já Marcelo Rebelo de Sousa, numa abordagem mais radical, assumiu que ninguém sai da política com as mãos limpas. “É uma inevitabilidade o ter de sujar as mãos”. O objectivo tem, no entanto, que ser o de “fazer tudo para reduzir ao mínimo os pecados”.

Ativos mas pouco reflexivos

Os oradores frisaram ainda a necessidade urgente dos cristãos aprofundarem o estudo da fé. “Trata-se da promoção do bem comum. E esta promoção requer bastante trabalho. É um exercício de um imperativo que tem que ser feito de forma coerente em fidelidade, liberdade, coragem mas também preparação”, defendeu Maria do Rosário Carneiro.

Marcelo Rebelo de Sousa garantiu que os cristãos são “muito ativistas mas pouco reflexivos”. E apelou à necessidade fundamental de se estudar a Doutrina Social da Igreja.

_____________

‘Este mundo não é para velhos?’

O projecto ‘Yes Youcat! Viver a fé’ anda pelas universidades de Lisboa e conta ao todo com seis sessões que abordam temas do Youcat, o catecismo jovem da Igreja Católica. O próximo encontro, que tem como ponto de partida a pergunta ‘Este mundo não é para velhos?’, conta com intervenção de Daniel Serrão e realiza-se no dia 8 de abril, às 19h, na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.