Domingo |
À procura da Palavra
O poço e a fonte
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DOMINGO III QUARESMA Ano A

"Dá-me de beber.”

Jo 4, 7

 

Podemos falar de muitas sedes. Num primeiro momento, não é fácil pensar nos milhões de pessoas sedentas, do nosso planeta, que têm tanta dificuldade de acesso a àgua potável. Principalmente quando basta rodarmos uma torneira de casa para ela jorrar, abundante e cristalina. Consideramo-la um direito, e esquecemos que é um privilégio (segundo dados da ONU, 770 milhões de pessoas no mundo não têm acesso a uma fonte de água e 2,5 biliões vivem sem saneamento básico). Alguém soube que 2013 foi o Ano Internacional da Cooperação pela Água? Mas a sede evoca também o desejo de uma vida mais plena, de uma felicidade a encontrar e a construir, da realização de uma vida com sentido.

Junto ao poço de Sicar, à hora em que o sol está no seu zénite e o calor é insuportável, duas sedes se encontram. A da samaritana e a de Jesus. No meio da desconfiança, Jesus ensina a confiar. Pede e oferece. Não se prende a barreiras e preconceitos. Escuta e acolhe as interpelações da mulher. Propõe pensamentos novos, revela a verdade sem condenar, convida a entrar numa relação que transforma tudo: quem pede de beber, afinal, é fonte de água viva; quem não merecia crédito, pelas infidelidades, torna-se motivo de confiança para todos. A fé e a caridade entrelaçam-se, ensinam-nos que dar é também tudo receber do outro, para passarmos dos gestos solidários à fraternidade. A samaritana recebe o amor, Jesus recebe o testemunho, ela vence o medo e a vergonha, Jesus é reconhecido como Salvador do mundo. 

Contava o meu pai que tinha ajudado o meu avô a fazer alguns poços. Trabalho arriscado este de penetrar na terra para alcançar algum veio de água; pôr em risco a vida para fazer chegar à superfície a água que traz vida! Como é importante conhecer a terra e as suas camadas, as pedras a colocar na chaminé do poço, o diálogo que tem de haver entre a sabedoria e o risco, a confiança nos outros que aprofundam connosco! E lembro isto ao recordar o falecimento tão repentino de D. José Policarpo, meu Bispo e Patriarca de Lisboa durante os últimos anos. Deixou-me a sede de mais encontros e diálogos, na serenidade agora de uma vida não tão cheia de responsabilidades pastorais. E recordando muitos desses momentos junto à fonte da vida pastoral, na procura dos apelos de Cristo para o nosso tempo, gostava de sublinhar um dos seus desafios, que D. Manuel Clemente citou na homilia das suas exéquias: “Compreender os caminhos da missão num diálogo lúcido, mas repassado de amor, com o mundo contemporâneo”. Quanto diálogo, quanta abertura, quanto dar e receber isto implica de cada um de nós? Quanta pobreza partilhada, quanta sede que só se pode saciar, quando entramos numa relação mais profunda, como o esforço de fazer dos poços, não cisternas de águas paradas, mas ligações à fonte de águas vivas!

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