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Cazaquistão: o campo de concentração da União Soviética
Os escravos de Estaline
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Milhões de homens foram presos e levados para os famosos “gulags” nos tempos da União Soviética. O Cazaquistão transformou-se num gigantesco “campo de concentração” do regime. O Bispo Auxiliar de Astana esteve em Lisboa, a convite da Fundação AIS, e, numa Vigília de Oração, recordou esses anos terríveis em que a fé era posta à prova todos os dias.

 

Há duas décadas que o Cazaquistão deixou de fazer parte do “paraíso na terra”, como os ideólogos comunistas apelidaram a extinta União Soviética. Nesses tristes anos de repressão, este imenso país foi um verdadeiro “campo de concentração”. Para as suas estepes foram deportados milhões de pessoas, entre as quais, cerca de 1 milhão de católicos. Estaline governava com mão de ferro e não tolerava qualquer dissidência ao seu poder. Num mundo que se queria sem Deus, a ousadia da fé pagava-se caro, com a prisão, trabalhos forçados, muitas vezes durante 18 horas por dia, a que acresciam torturas e, tantas vezes, a morte. Alemães, polacos, lituanos… todos eram os escravos de Estaline, os escravos do regime. Este era o lado negro do paraíso na terra, como recordou D. Athanasius Schneider, Bispo Auxiliar de Astana, no passado domingo, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, durante a Vigília de Oração promovida pela Fundação AIS sobre o Cazaquistão.

 

Estaline, “o evangelizador”

O Bispo lembrou a enorme ironia desses anos terríveis, quando a fé era clandestina e exigia uma coragem que hoje parece quase inumana, tal a repressão exercida pelo regime. Ironia porque, antes de Estaline, o Cazaquistão era uma terra praticamente sem católicos, sem cristãos. No século XIV, o país sofreu uma islamização brutalmente violenta, em que foram arrasados praticamente todos os símbolos religiosos. Igrejas, capelas, seminários. Ninguém escapou. Esse foi um tempo marcado pelo martírio de bispos, sacerdotes, leigos. De tal forma que seria preciso esperar pelo século XX, pelos campos de concentração de Estaline, onde foram depositados milhões de homens e mulheres, para que se voltasse a rezar o Pai Nosso neste país. “Estaline foi o maior evangelizador do século XX”, disse, sublinhando a ironia, o Bispo Auxiliar de Astana.

 

Igreja clandestina

A história do Cazaquistão é a prova de que a fé não consegue ser agrilhoada por mais violência que seja exercida. O próprio bispo nasceu nesses tempos negros de perseguição. Como ele recordou, “não havia edifícios, mas a fé das pessoas era uma fé viva. Foram destruídas todas as igrejas e não havia sacerdotes. Mas nós tínhamos uma Igreja Clandestina. É preciso não esquecer – disse o bispo – que o verdadeiro templo de Deus são as almas”.
Igreja Clandestina, Igreja do Silêncio. Ao abrigo da lei que definia as “actividades anti-soviéticas”, as autoridades detinham um poder discricionário absoluto. Mas, mesmo esse poder, de quem pode decidir a vida ou a morte de alguém, não sufocou a ânsia de liberdade e a fé profunda deste povo.

 

Uma história sem fim

O fim da União Soviética libertou o Cazaquistão de um jugo terrível, mas, infelizmente, ainda não se pode falar em verdadeira liberdade religiosa. São múltiplos e recentes os casos de cristãos detidos ou perseguidos pela posse, apenas, de literatura religiosa. Nos últimos anos, o Governo tem tomado medidas que implicam o “aumento do controlo estatal sobre os fiéis”, nomeadamente “aprovando leis que se destinam à nacionalização das comunidades religiosas, seguindo o modelo de controlo chinês”, como pode ler-se no Relatório sobre Liberdade Religiosa no Mundo, editado em 2012 pela Fundação AIS. De qualquer forma, dos anos de provação nasceu uma forte comunidade particularmente devota a Nossa Senhora de Fátima, que já em 1917 falava nos males que a Rússia iria espalhar pelo mundo e da necessidade da sua conversão. Em sua honra foi construída até uma Catedral, em Karaganda.

 

A importância da família

Hoje, disse o Bispo em Lisboa, é preciso estar atento aos sinais dos tempos. “Que a velha Europa, que espalhou a fé pelo mundo, conserve essa fé. O meio mais forte para isso é a família. Que sejam famílias católicas numerosas, onde possam nascer vocações sacerdotais, religiosas. Esse é o futuro da Igreja”, disse D. Athanasius Schneider. “Sem sacrifício, não pode haver Cristianismo. É preciso cultivar a família doméstica, transmitir o catecismo na família e cultivar os sacramentos, em especial o sacramento da penitência”.

Para quem sofreu tanto para se manter fiel à sua fé mais profunda, deve ser estranho que na Europa das amplas liberdades o Cristianismo esteja em declínio, não por ser perseguido mas por falta de comparência de quem o viva e assuma no dia-a-dia.

 

www.fundacao-ais.pt | 217 544 000

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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