‘Evangelii Gaudium’ |
‘Evangelii gaudium’ (nº 93 a 101) – Capítulo II
Não ao mundanismo espiritual
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Colocando, ainda, a sua atenção sobre as ‘Tentações dos Agentes Pastorais’, o Papa Francisco alerta para o perigo do “mundanismo espiritual” que muitas vezes “se esconde por detrás de aparências de religiosidade e até mesmo de amor à Igreja”. Neste sentido, refere o Santo Padre que em vez de se buscar a glória do Senhor, procura-se alcançar “a glória humana e o bem-estar pessoal”. Este mundanismo, salienta Francisco, pode alimentar-se de “um fascínio do gnosticismo, uma fé fechada no subjetivismo, onde apenas interessa uma determinada experiência ou uma série de raciocínios e conhecimentos que supostamente confortam e iluminam, mas, em última instância, a pessoa fica enclausurada  na imanência da sua própria razão ou dos seus sentimentos”. Por outro lado este mundanismo pode, também, alimentar-se de um “neopelagianismo autorreferencial e prometeico de quem, no fundo, só confia nas suas próprias forças e se sente superior aos outros por cumprir determinadas normas ou por ser irredutivelmente fiel a um certo estilo católico próprio do passado”. Segundo o Papa Francisco, estas atitudes podem levar a “um elitismo narcisista e autoritário, onde em vez de evangelizar, se analisam e classificam os demais e, em vez de facilitar o acesso à graça, consomem-se as energias a controlar”. “Este obscuro mundanismo manifesta-se em muitas atitudes, aparentemente opostas mas com a mesma pretensão de ‘dominar o espaço da Igreja’”, releva o Papa Francisco, exemplificando: “Em alguns há um cuidado exibicionista da liturgia, da doutrina, e do prestígio da Igreja, mas não se preocupam que o Evangelho adquira uma real inserção no povo fiel de Deus e nas necessidades concretas da história”. Noutros, observa Francisco, “o próprio mundanismo espiritual esconde-se por detrás do fascínio de poder mostrar conquistas sociais e políticas”. Nestas atitudes, considera o Papa, não está presente “o selo de Cristo encarnado, crucificado e ressuscitado”, e há um fechar-se “em grupos de elite”, sem sair “à procura dos que andam perdidos”. “Já não há ardor evangélico, mas o gozo espúrio duma autocomplacência egocêntrica”.

Neste contexto, salienta o Papa argentino, “alimenta-se a vanglória de quantos se contentam com ter algum poder e preferem ser generais de exércitos derrotados antes que simples soldados dum batalhão que continua a lutar”. Há um sonhar com grandes projetos apostólicos mas, adverte Francisco, nega-se a história de Igreja “que é gloriosa por ser história de sacrifícios, de esperança, de luta diária, de vida gasta no serviço, de constância no trabalho fatigante”. Mais, esta atitude leva ao pecado do ‘deveriaqueísmo’, ou seja, no falar sobre ‘o que se deveria fazer’, “como mestres espirituais e peritos de pastoral que dão instruções ficando de fora”, explica. Refere o Papa Francisco que “quem caiu neste mundanismo olha de cima e de longe, rejeita a profecia dos irmãos, desqualifica quem o questiona, faz ressaltar constantemente os erros alheios e vive obcecado pela aparência”. Quem vive desta forma, acrescenta ainda o Santo Padre, “não aprende com os seus pecados nem está verdadeiramente aberto ao perdão. É uma tremenda corrupção, com aparências de bem. Devemos evitá-lo, pondo a Igreja em movimento de saída de si mesma, de missão centrada em Jesus Cristo, de entrega aos pobres”. “Deus nos livre de uma Igreja mundana sob vestes espirituais ou pastorais”, adverte.

 

Não à guerra entre nós

Este mundanismo espiritual a que alude o Papa Francisco “leva alguns cristãos a estar em guerra com outros cristãos que se interpõem na sua busca pelo poder, prestígio, prazer ou segurança económica”. Mais do que pertencer à Igreja, com a sua diversidade, “pertencem a este ou àquele grupo que se sente diferente ou especial”, sublinha.

Neste sentido, e constatando que há guerras “dentro do povo de Deus e nas diferentes comunidades”, o Papa jesuíta deixa um pedido: “Aos cristãos de todas as comunidades do mundo, quero pedir-lhes de modo especial um testemunho de comunhão fraterna, que se torne fascinante e resplandecente”. “Cuidado com a tentação da inveja!”, alerta, frisando que “estamos todos no mesmo barco e vamos para o mesmo porto”. Por isso, pede para que se reze pedindo “a graça de nos alegrarmos com os frutos alheios, que são de todos”.

Com o objectivo de sarar as feridas daqueles que são ou foram vítimas destas guerras, causadas por antigas divisões, o Papa Francisco apela ao testemunho das comunidades. “Se virem o testemunho de comunidades autenticamente fraternas e reconciliadas , isso é sempre uma luz que atrai”, refere, lamentando, ainda, que “mesmo entre pessoas consagradas, se dá espaço a várias formas de ódio, divisão, calúnia, difamação, vingança, ciúme, a desejos de impor as próprias ideias a todo o custo, e até as perseguições que parecem uma implacável caça às bruxas. Quem queremos evangelizar com este comportamento?”, questiona.

Como solução para esta dificuldade, Francisco apela ao cumprimento da lei do amor que se pode manifestar em gestos concretos: “Rezar pela pessoa com quem estamos irritados é um belo passo rumo ao amor, e é um ato de evangelização. Façamo-lo hoje mesmo. Não deixemos que nos roubem o ideal do amor fraterno!”, apela.

texto e fotos por Nuno Rosário Fernandes
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