Agosto de 2008. Índia. Estado de Orissa. Uma multidão em fúria ataca aldeias e bairros onde vivem centenas de cristãos. A destruição é terrível. O rasto de sangue ainda hoje comove quem assistiu a esse dia de infâmia. Mais de uma centena de pessoas perderam a vida, cerca de 50 mil foram obrigadas a fugir, deixando tudo para trás. Aldeias inteiras foram destruídas, cinco mil casas incendiadas, igrejas profanadas.
Junho de 2012. Cerca de meia centena de extremistas hindus atacam uma aldeia e agridem violentamente 12 famílias. Parece haver uma estratégia de ódio, de avivar de feridas, de promoção do divórcio entre comunidades religiosas.
11 de Dezembro de 2013. Uma manifestação de cristãos em favor dos direitos dos 'intocáveis' ou 'dalits', é duramente reprimida pelas autoridades.
Repressão injustificável
Nesta manifestação, todos são atingidos pela brutalidade dos agentes da ordem. Padres, religiosas, homens, mulheres e crianças… Ninguém escapa. Entre os manifestantes estão também dirigentes das comunidades protestante e muçulmana. Cerca de 400 manifestantes são detidos pelas autoridades. Um deles é D. Anil Couto, Arcebispo de Delhi. “Desde há anos que exigimos direitos iguais para Cristãos e Muçulmanos”, explica D. Couto à Fundação AIS. “Nesta manifestação, em que nos associámos também ao Dia dos Direitos Humanos das Nações Unidas, que se assinala a 10 de Dezembro, procurámos chamar a atenção do Governo e de alguns dirigentes políticos que simpatizam com a nossa causa, para que este tema seja tratado no Parlamento”.
A questão é sensível. Cerca de 65 % dos 27 milhões de Cristãos na Índia pertencem ao mais baixo nível da complexa estrutura de castas de que é feita a sociedade indiana. São os 'intocáveis' ou 'dalits'.
Medo das conversões
“A discriminação aos Cristãos – explica o Arcebispo de Dehli – resulta do medo de que, ao se concederem direitos aos ‘dalits’ cristãos, muitos dos 'intocáveis' hindus poderão converter-se ao Cristianismo”.
É enorme e antiga a desconfiança face aos Cristãos na Índia. E quanto mais se conhece o trabalho desenvolvido pelas comunidades de base na promoção dos direitos da pessoa humana, com base num sentimento de absoluta igualdade, mais parece aumentar essa mesma desconfiança.
Há um traço comum entre os ataques selvagens de Orissa, em 2008 e a violenta agressão às famílias cristãs em Junho de 2012, ou a repressão intolerável da manifestação do passado mês de Dezembro: o fantasma do proselitismo. Apesar da liberdade religiosa estar consagrada na Constituição do país, todas as conversões ao Cristianismo tendem, nos sectores mais radicais da sociedade, a serem vistos como “conversões forçadas”.
Nunca perder a fé
E é neste clima de tensão que a Igreja tenta realizar o seu trabalho junto dos mais perseguidos e humilhados, dos que nada têm de seu, dos que são 'intocáveis' por não valerem nada aos olhos da sociedade. A promoção dos miseráveis afecta consciências e provoca violência. Apesar de toda a humilhação, os Cristãos da Índia têm dado ao mundo uma lição de perdão. Em Outubro de 2012, a Fundação AIS convidou o Arcebispo da Diocese de Cuttack e Bhubaneswar, D. John Barwa, a visitar o nosso país para contar de viva voz a experiência de fé da Igreja minoritária face a um ambiente de fundamentalismo. “Apesar da terrível perseguição que sofremos, sinto-me orgulhoso de participar neste sofrimento. Isto tornou-nos mais fortes. Somos pobres, mas somos a luz do mundo. Visitei pessoas que me dizem que perderam as suas casas e as suas famílias… mas que não perderam a fé. Por isso, sinto-me orgulhoso”, disse então D. Barwa num dos vários encontros e conferências em que participou. “A nossa fé cresceu depois dos ataques. As dificuldades não nos conseguiram separar de Jesus.”
A violenta repressão exercida pelas autoridades perante a manifestação na capital indiana, em Dezembro do ano passado, é apenas um dos mais recentes sinais de que a intolerância continua presente no dia-a-dia dos Cristãos neste país.
Da Índia chegam-nos lições de fé, de perdão, de coragem. Mas também de medo. Ninguém está a salvo e ninguém consegue esquecer a tragédia de Orissa. Ontem foram eles, amanhã ninguém sabe quem poderá estar na mira dos fundamentalistas.
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